Publicado em: 07/11/2024 às 11:25hs
O 13º Simpósio Brasil Sul de Bovinocultura de Leite, iniciado nesta semana pelo Núcleo Oeste de Médicos Veterinários e Zootecnistas (Nucleovet), trouxe à tona discussões fundamentais sobre a qualidade e a competitividade dos produtos lácteos brasileiros. Entre as palestras que marcaram o primeiro dia do evento, destaca-se a do doutor em Epidemiologia da Mastite Bovina e Qualidade do Leite, José Pantoja, que abordou o tema “CCS no Brasil: por que é tão difícil reduzir?”. Na exposição, o especialista explorou os impactos da contagem de células somáticas (CCS) na qualidade do leite, uma métrica crucial que reflete a saúde do rebanho e influencia diretamente a segurança e durabilidade do produto.
Dados recentes do Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA), divulgados em fevereiro de 2024, indicam uma média nacional de CCS de 531 mil células por mililitro, o maior nível registrado desde 2013 pela Rede Brasileira da Qualidade do Leite (RBQL). Segundo Pantoja, essa média elevada é um alerta para a cadeia produtiva, pois níveis altos de CCS estão associados à mastite nos rebanhos, fator que reduz a qualidade do leite, altera seu sabor e diminui sua vida útil. “O desafio é significativo, e a redução da CCS requer controle rigoroso da mastite, além do engajamento dos produtores”, pontuou.
A questão da CCS é complexa, envolvendo fatores socioeconômicos, culturais e até climáticos, explicou Pantoja, que trouxe comparações com dados internacionais para ilustrar o cenário. Ele destacou a sazonalidade como fator influente, com aumentos no verão devido ao estresse térmico nos rebanhos, e salientou que as perdas por mastite podem representar até 10% da produção diária de leite. No entanto, cerca de 70% dos produtores não monitoram esses prejuízos, o que revela a necessidade de maior conscientização.
Pantoja sublinhou a importância de programas de assistência técnica, capacitação e conscientização para estimular boas práticas na produção leiteira, enfatizando que o envolvimento de toda a cadeia — desde os produtores até a indústria e os consumidores — é essencial para assegurar a qualidade dos lácteos.
Na segunda parte do painel, Michael Mitsuo Saito, engenheiro de produção e especialista em competitividade na indústria de queijos, abordou o tema “Competitividade do queijo na indústria” e trouxe questionamentos sobre o potencial do Brasil para se tornar um exportador competitivo de queijos. Saito destacou o crescimento estimado no consumo global de queijo, que deve aumentar 1,2% ao ano até 2027, o que representa cerca de 2 milhões de toneladas adicionais — um volume semelhante ao que o Brasil produz atualmente para o mercado interno.
O especialista ressaltou a mussarela como principal variedade de queijo, apontando a alta demanda em mercados como os Estados Unidos, onde o consumo frequente de pizza é um motor para o mercado de queijos. Ele explicou que um dos desafios do Brasil é o custo de produção elevado em comparação com outros países produtores, como a Argentina, e que a quantidade de caseína no leite, essencial para o rendimento de queijos, é prejudicada por altos níveis de CCS. “A qualidade do leite afeta diretamente a produtividade na fabricação de queijos, e o ciclo vicioso gerado pelo aumento da CCS limita a competitividade do produto”, afirmou Saito.
Ele também destacou o potencial do soro de leite, um subproduto da produção de queijo que possui nutrientes de alto valor biológico e crescente importância no mercado de proteínas. “A indústria de lácteos no Brasil precisa de integração entre produtores, indústria e varejo para conquistar maior competitividade. Estamos em um momento de transição e o setor leiteiro pode seguir o caminho de sucesso que outras commodities, como a carne, já traçaram”, concluiu Saito.
Para o setor de lácteos brasileiro, o Simpósio Brasil Sul de Bovinocultura de Leite representa uma oportunidade para fortalecer a cadeia produtiva, promovendo qualidade e práticas que elevem a competitividade no mercado interno e externo.
Fonte: Portal do Agronegócio
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