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Boi no divã

Pecuária brasileira é um gigante que passa por crise existencial, dizem analistas do setor


Publicado em: 12/11/2012 às 20:10hs

Boi no divã

Nos últimos dez anos, as exportações brasileiras de carne bovina registraram um crescimento anual de 16%, segundo números do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). De US$ 1 bilhão em 2001, os embarques – que chegam a mais de 100 países – saltaram para US$ 5,3 bi no ano passado. De acordo com o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA, na sigla em inglês), o Brasil é o maior produtor de carne bovina.

Além disso, pesquisa das consultorias Scot e Markestrat, com base em dados de 2010, aponta que toda a pecuária movimenta US$ 167,5 bi. Segundo o mesmo estudo, do total, em valores, de US$ 42 bi produzidos em carne, US$ 37,2 bi foram comercializados no mercado doméstico e apenas US$ 4,8 bi foram exportados. Ou seja, a pecuária garante o abastecimento interno de carne bovina – aproximadamente 80% do que é fabricado fica no Brasil -, e gera excedentes exportáveis, devido à incorporação gradual de tecnologia e de ganhos de produtividade por parte dos produtores.

Contudo, a despeito destes bons resultados e contribuições para a economia do País, a atividade passa por uma crise existencial, que é alimentada por divergências entre elos da cadeia produtiva, concentração na indústria e varejo, novos hábitos de consumo, e o chamado “custo Brasil”, disseram especialistas no setor, na sexta-feira (09), ao participarem de evento na capital paulista.

Aprender a vender


“A carne brasileira nunca foi vendida, sempre foi comprada. Ainda não somos capazes de vender o que temos de bom. Falta capacidade para trabalhar a venda”, afirmou Sérgio De Zen, professor da Esalq/ USP e pesquisador do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea). No mercado interno, disse o professor, onde a elasticidade de consumo relacionada ao efeito de aumento da renda está no limite, a tendência é de que a carne seja cada vez mais vendida por atributos de qualidade.

Ainda no tocante às exportações, Luciano Vaccari, superintendente da Associação dos Criadores de Mato Grosso (Acrimat), pontuou que é preciso rever o posicionamento da carne brasileira no mercado internacional. “O que queremos exportar? Queremos ser a China [numa referência a vender commodity] ou o Uruguai? [que investe e comercializa carne com maior valor adicionado]”, indagou.

Alex Lopes, analista da Scot Consultoria, chamou a atenção também para o fato de que as exportações estarem concentradas em número reduzido de mercados. “Rússia, Hong Kong, Egito, Irã, e outros países do Oriente Médio respondem por aproximadamente metade das nossas exportações. É necessário diversificar os destinos.” Para Fabiano Tito Rosa, gerente de pesquisa de mercado do frigorífico Minerva, um caminho é o Brasil investir em acordos bilaterais, como o Uruguai fez com os Estados Unidos (EUA).

O país vizinho vende carne “in natura” para os norte-americanos. “Nosso ‘status’ sanitário nunca será aceito pelos mercados importadores que pagam mais”, salientou. Pela sua extensão continental, o Brasil tem diversas realidades em relação ao controle sanitário dos rebanhos.

O caso mais clássico é a febre aftosa. A maioria dos Estados já controlou a doença com vacinação – Santa Catarina é o único livre de aftosa sem vacinação -, todavia como outros não o fizeram, o País fica penalizado no comércio internacional, já que o critério de regionalização de controle da doença não é aceito por muitos países importadores, principalmente os que pagam mais pela tonelada de carne. Segundo os analistas, evidentemente a questão sanitária é muitas vezes usada como protecionismo disfarçado, mas é algo tecnicamente complicado de se provar.

Boi vivo

Além da carne, o Brasil tem exportado também o boi vivo. Os embarques de “gado em pé” subiram de US$ 212,5 mil em 2001 para US$ 444,8 milhões em 2011. “É um negócio fantástico”, frisou Tito Rosa do Minerva. Na avaliação de Lopes, da Scot Consultoria, a exportação de boi vivo é uma tendência e é complementar aos embarques de carne. “Não concorrem”, acrescentando que do ponto de vista de também vender tecnologia, não só produtos, o Brasil tem exportado genética – para a África, por exemplo – por meio de animais reprodutores e comércio de sêmen bovino.

Fonte: Sou Agro

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