Publicado em: 27/01/2021 às 08:30hs
No levantamento Top 100 2019 (Milk Point, 2019), referente a 2018, das 100 fazendas levantadas 47, ou 47%, produziram leite em sistema de free-stall, enquanto apenas 23 fazendas, ou 23%, produziram em sistema compost barn. A produção média diária daqueles 100 maiores produtores de leite que participaram do levantamento foi de 19.238 litros, somando no ano 702 milhões de litros. Considerando uma produção de 33,5 bilhões de litros em 2017 (Anuário Leite, 2018), a produção dos Top 100 representou apenas 2% da produção total do país. Dos Top 100, 68% das fazendas produziram leite em sistema de confinamento total. Ou seja, em termos relativos eles produziram apenas 1,36% do leite do país. Se a produtividade média desses foi o dobro da média dos 100 produtores participantes do Top 100, teriam produzido 2,72% do leite. Estressando ainda mais esses números, se apenas metade dos produtores que produzem leite em confinamento total participaram do levantamento do Top 100, a produção de sistemas em confinamento seria entre 2,72 a 5,44% do volume de leite produzido no país.
Ou seja, é possível admitir que mais de 95% do volume de leite produzido ainda vem de sistemas onde pelo menos em uma época do ano (período chuvoso) as vacas em lactação são alimentadas em pasto, enquanto as outras categorias animais (vacas secas, bezerras após a desmama e novilhas) são alimentadas praticamente o ano todo em pasto. Um sistema em pasto é caracterizado pelo índice de que mais de 85% da alimentação do rebanho é proveniente da forragem produzida pela pastagem.
Em 2017 o Brasil foi o terceiro produtor de leite bovino mundial, mas com uma eficiência muito baixa considerando o número de vacas ordenhadas (quase 17 milhões), a produtividade por vaca (1.963 litros por ano), o volume de produção vendido por fazenda (70,6 litros por dia) (Anuário Leite, 2018), o volume de leite por funcionário (?) a produtividade de leite por hectare (?), etc. Se os sistemas de produção de leite em pasto são a base da produção de leite do Brasil, se conclui que muito se tem que aprender, mas também aplicar o aprendido, transformando informação em conhecimento.
Considerando sistemas de produção de leite em pasto, aquela baixa produtividade reflete condições inadequadas de manejo da pastagem, tais como a escolha de espécies forrageiras não adaptadas às condições climáticas e de solos da região, a baixa tolerância às pragas e às doenças, a não correção e adubação do solo, a falta de controle de plantas invasoras; como também aos erros cometidos na condução do manejo do pastejo, tais como manejo do pasto com alturas ou condições de massa de forragem incorretas, erros na adequação da taxa de lotação à capacidade de suporte da pastagem (oferta de forragem ou pressão de pastejo), erros no programa de suplementação dos déficits nutricionais deixados pela forragem, exposição do rebanho à radiação solar e às altas temperaturas ambiente, problemas sanitários e vacas de baixo mérito genético.
Considerando o mérito genético da vaca, seria prudente a pergunta: será que temos selecionado as novilhas de maior mérito genético do rebanho para serem as mães das futuras gerações? Pelos índices de produtividade parece que não. Entretanto, segundo o Diagnóstico da Pecuária Leiteira em Minas Gerais e no Brasil, ano 2005, o Professor Sebastião Teixeira Gomes (UFV, Viçosa) concluiu que entre 1995 e 2005 a produção/vaca em Minas Gerais teve um aumento de 65%, mas que tais aumentos aconteceram entre os produtores de mais de 1.000 litros de leite/dia, enquanto a produtividade dos de até 50 litros de leite/dia permaneceu estagnada. Seria então prudente perguntar se nesses rebanhos onde houve aumento da produtividade/vaca os produtores têm acasalado suas vacas com os touros de maior mérito genético selecionados para os nossos sistemas de produção ou se grande parte do aumento de produção foi devido, em sua maior parte, à melhoria das condições de meio ambiente.
Os principais componentes de um programa de melhoramento genético de um rebanho leiteiro deveriam ser: a identificação dos touros e vacas superiores para serem os pais das novilhas de reposição, a inclusão das novilhas geneticamente superiores no rebanho e o descarte das vacas geneticamente inferiores.
Existem várias características que podem ser avaliadas em um programa de melhoramento genético de rebanhos leiteiros e que podem ser divididas em características produtivas (produção de leite, proteína e gordura), características morfológicas ou de tipo (características lineares relacionadas ao padrão morfológico das matrizes) e características funcionais (facilidade de parto, contagem de células somáticas, velocidade de ordenha, temperamento e longevidade).
Entretanto o ganho genético de uma característica particular será mais rápido se ela for a única característica considerada no programa de melhoramento. Por exemplo, o melhoramento genético para a produção de leite será mais rápido se outras características forem ignoradas. Uma das características que tem a maior influência na produtividade e no lucro de uma fazenda leiteira é a produção de leite ou de sólidos do leite por vaca (dependendo das exigências da indústria), portanto, esse deve ser o primeiro e o principal objetivo de um programa de seleção de uma fazenda leiteira. Contudo, outras características, tais como velocidade de ordenha, forma e estrutura do úbere e tetas, têm efeitos importantes no valor da vaca e, assim, em sua produtividade.
Uma vaca de mérito genético superior não significa apenas que ela seja capaz de produzir altos volumes de leite, mas também de ser capaz de continuar produzindo por muitas lactações. Portanto, outros atributos, tais como a estrutura do seu úbere e pés e seu comportamento durante a ordenha, são importantes componentes da superioridade genética.
O ganho genético poderia ser aumentado pelo aumento do número de vacas que são descartadas anualmente, por causa de seus baixos valores genéticos, permitindo que aquelas vacas possam ser repostas por novilhas geneticamente superiores. O ganho genético máximo na produção/vaca será alcançado com uma reposição de 25%. Entretanto, o ganho máximo na rentabilidade será alcançado com uma taxa de reposição de 20%.
É essencial que toda novilha de reposição deva ser coberta por um touro com superioridade genética e com alta confiabilidade (mais de 80%).
O controle leiteiro deve ser adotado para obter o mérito produtivo de vacas individualmente com as finalidades de: identificar as melhores vacas que poderem ser usadas como mães das novilhas de reposição e as vacas inferiores podem ser descartadas.
Existe, em média, uma relação entre o índice de produção de uma vaca e seu valor genético quando esses são comparados sobre muitas vacas, mas uma vaca individual pode ter um alto valor genético e um baixo índice de produção porque ela está mal alimentada ou tem mastite. Da mesma forma, uma vaca com um baixo valor genético pode ter relativamente um alto índice de produção porque tem sido bem alimentada e está muito saudável.
Na parte 2 deste artigo darei ênfase aos objetivos de um programa de melhoramento genético em pasto, as limitações para os programas de melhoramento genético no Brasil, entre outros conteúdos.
por Adilson de Paula Almeida Aguiar - Zootecnista, professor de Forragicultura e Nutrição Animal no curso de Agronomia e de Forragicultura e de Pastagens e Plantas Forrageiras no curso de Zootecnia das Faculdades Associadas de Uberaba (FAZU); Consultor Associado da CONSUPEC - Consultoria e Planejamento Pecuário Ltda; investidor nas atividades de pecuária de corte e de leite.
Fonte: Scot Consultoria
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