Bovinos de Corte

Rumo à precocidade sexual

Já li que a precocidade sexual de novilhas Nelore será o novo capítulo da pecuária Brasileira e acredito nisso!


Publicado em: 05/08/2020 às 08:58hs

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Foto: Foto: Marcio Ribeiro Silva

O Brasil possui um rebanho bovino de 213,5 milhões cabeças distribuídas em 164,70 milhões de hectares, com taxa de lotação média de 0,7 (Unidade Animal (UA) por hectare, aponta o IBGE, 2018. É composto predominantemente por Bos taurus indicus (80%), devido a sua melhor adaptação às condições climáticas. E, apesar de sua extensão territorial, das condições ambientais e dieta baseada em pastagens favorecerem a produção de carne, o Brasil apresenta taxa de desfrute muito abaixo dos outros importantes países produtores de carne. Assim, o aumento da eficiência da pecuária está diretamente ligado à redução da idade ao primeiro parto, e redução do intervalo de partos. 

Será que conseguiremos? É só observar o boletim do CiCarne (https://www.embrapa.br/documents/1355108/51748908/Boletim+CiCarne+009.pdf/e5c4e021-49f8-329b-ef6e-26bcb337fd63), onde a produção de carne bovina aumentou 146,4% em 22 anos, tendo saído de 3,3 milhões de toneladas em 1997 para 8,2 milhões de toneladas em 2019. Nesse mesmo ritmo ocorre o aumento das exportações, sendo que, nos 12 anos finais do tempo analisado, entre 2007 e 2019, o crescimento foi de 22,8%. O mercado sinaliza que o Brasil será o grande abastecedor de carne bovina para a crescente demanda mundial, assim, deverá aumentar sua produção em quantidade e qualidade (ou seja, cada vez + Precoce) para suprir todas as demandas (interna e externa).

A precocidade é uma característica unânime nos diferentes setores de produção como um dos mais importantes parâmetros de escolha para melhoria da qualidade da carne e de eficiência de sistemas de produção de bovinos de corte. Por isso, há grande interesse econômico em se obter a entrada das fêmeas à idade reprodutiva e, consequentemente, ao ciclo de produção, seja pela produção de bezerros ou de carne.

Fica evidente que, ao reduzir a idade à entrada à reprodução, seja de 36 para 24 meses, em regiões de maior desafio, como a maioria das regiões marginais para onde a cria está se deslocando, e/ou de 24 para 14 meses, em sistemas mais intensificados, estaríamos potencializando os índices produtivos e aumentando a arroba produzida por hectare. No entanto, não é tão simples quanto parece, pois atrelado a essa precocidade está à intensificação do processo, principalmente, nas questões reprodutivas, nutricionais e genéticas, todas interagindo com o benefício/custo. Ou seja, precocemente introduzir fêmeas na idade reprodutiva é interessante se for exequível e sustentável. 

Por isso, é grande a demanda do setor produtivo (seja ele produtor comercial, ou de genética, de cria ou de ciclo completo) em relação às soluções dos fatores que influenciam negativamente à adoção do processo de redução da idade à reprodução, tais como: baixa taxa de prenhez, alta perda embrionária (principalmente nas fêmeas super precoces, de 14 meses), incerteza quanto ao desenvolvimento e desempenho produtivo de seus produtos, problemas associados à baixa reconcepção da primípara precoce, altos custos de produção, falta de consenso das estratégias nutricionais, e a não expressão do potencial genético para a característica da precocidade sexual (ou pela não utilização de genótipos dentro do rebanho, ou pela falta de oferecimento de condições ambientais).

Essas questões são para mostrar que a tomada de decisão para a redução da idade para reprodução depende de vários fatores dentro de um sistema de produção. Então, não podemos olhar isoladamente o protocolo hormonal (de indução de precocidade e de inseminação artificial em tempo fixo - IATF) como solução de todos os problemas para alcançar a precocidade, se esquecermos de dar condições nutricionais para essa novilhinha e, depois, principalmente, para essa primípara, que com certeza terá limitação no seu desenvolvimento e desempenho se não tiver suprido suas necessidades de crescimento, assim, como pensar nessa precocidade sexual se não cuidarmos com atenção dessa fêmea agora e no ano seguinte? E se dermos condições nutricionais adequadas, será que a limitação da expressão genética, por ausência desses genes de precocidade reprodutiva, não encarecerá o processo? E se tivermos os protocolos reprodutivos adequados, juntamente com o uso correto da genética e do manejo nutricional, valerá o investimento? Bem, aí sim começamos a andar no rumo certo, para alcançar a sustentabilidade do sistema e escrever novos capítulos na história da pecuária brasileira.

Juliana Corrêa Borges Silva - Médica-Veterinária – pesquisadora da Embrapa

Fonte: Embrapa Gado de Corte

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