Publicado em: 10/06/2021 às 08:00hs
O confinamento é uma técnica profissional. Para ser realizado com sucesso, merece atenção a alguns pontos em especial, que podem fazer a diferente entre o sucesso e o prejuízo econômico. São eles:
É de grande importância o investimento em animais de reposição com elevado potencial genético. Esses animais, apesar de possuírem valor elevado no mercado, responderão de forma mais eficiente à nutrição. O boi magro corresponde a quase 70% do custo de produção final de um boi gordo. Grande parte do sucesso financeiro da atividade está na boa compra de animais para reposição.
Lotes homogêneos, principalmente separando os animais por sexo, padrão racial (cruzado apartado de nelore) e, se possível, animais com frame semelhante. Trabalhar com lotes homogêneos possibilita otimizar o custo de utilização das instalações e reduzir gastos desnecessários com nutrição, sem contar que evita a necessidade de ficar descascando o lote para o abate e, pior ainda, misturando lotes para formar um novo. Importante lembrar o conceito da avicultura de corte: all in all out. Ou seja, todo mundo entra junto e sai junto.
Uma estrutura boa é aquela que atende às exigências dos animais e provoca o mínimo de problemas possível. Assim, trabalhar com cerca de 40cm lineares de cocho por animal, 15m² por animal para o tamanho da baia, além de bebedouros de alta vazão, que suportem 50% do consumo da baia nas 2 horas mais quentes do dia. Um vagão misturador provido de balança faz-se de extrema importância para o confinamento de alto desempenho. A dieta para o cocho do animal deve ser a mais fiel possível àquela formulada no computador pelo nutricionista.
Segundo os dados de confinamento do prof. Danilo Millen (Unesp Dracena), os principais problemas que acometem os animais em confinamento são nesta ordem: problemas respiratórios, acidose, laminite, cisticercose e problemas relacionados ao transporte. Dessa forma, protocolos de entrada do confinamento – como vacinas para clostridiose, desverminação e cisticercose – são fundamentais. O animal só desempenhará bem se o requisito sanidade estiver atendido, além do correto manejo, que não cause estresse nesses animais, importante fator predisponente de enfermidades.
Em tempos de alta de insumos, é fundamental fazer contas e saber utilizar determinados subprodutos para abaixar o custo da dieta sem, no entanto, afetar o desempenho. Isso depende muito de cada região, é claro. Em Goiás, por exemplo, está cerca de 50% do sorgo plantado no Brasil. É um alimento energético que, se encontrado em conta, pode substituir o milho. No Mato Grosso, encontramos caroço de algodão, torta de algodão e subprodutos de etanol, como DDGS e casca de soja; em São Paulo, há polpa cítrica. A lista é grande e o ruminante consegue aproveitar boa parte desses subprodutos. Para as fontes proteicas, procuramos sempre calcular o ponto da proteína, ou seja, dividimos o valor da tonelada do produto pelo nível de proteína ele possui. Dessa forma, encontramos o alimento com o quilo da proteína mais em conta. Em uma época de milho a R$ 90,00 a saca, é cada vez mais importante processar esse alimento para ter o máximo de aproveitamento pelo animal. Isso ocorre desde fazer a correta moagem do grão seco até mesmo preparar silagem de grão úmido (colher o milho com 35% de umidade na lavoura, moer e ensilar esse material). O processo de fermentação anaeróbica causa solubilização da matriz proteica do grão, liberando o amido, que ficará mais disponível no rúmen do animal.
Com certeza, este é um dos pontos mais importantes no confinamento. Estamos tirando o animal do seu habitat natural (a pastagem, com dieta de alta forragem) e mudaremos radicalmente sua dieta, sendo a maior parcela de alimentos concentrados – ao mesmo tempo necessitando ser segura, mas também tem de ser rápida, para não atrasar o desempenho dos animais. De forma geral, são feitas três dietas diferentes, entre 5 a 7 dias cada. O volumoso é diminuído enquanto o nível de concentrado é aumentado, além de adaptar o animal ao consumo de ureia. Com adaptação bem feita, conseguimos chegar ao consumo alvo por volta do 10° ao 15° dia de cocho, Isso afetará o desempenho pelo resto do confinamento. Importante lembrar que a adaptação visa não apenas alterar os tipos de micro-organismos ruminais, mas também o animal, no qual o limitante de consumo passará a ser energético e não físico, como ocorre no pasto.
Um ponto que muitos confinamentos negligenciam e acabam errando é a questão do volumoso. Se trabalhamos com silagem de milho, capim e sorgo, é fundamental fazer análise bromatológica desse material antes de começar o confinamento. Dessa forma, a dieta formulada será fiel ao perfil daquele alimento. Além disso, quando se trabalha com volumosos úmidos, é de suma importância fazer a checagem periódica do teor de matéria seca desse material. Lembrando que a dieta é formulada na base seca e ofertada na matéria original. Pequenas discrepâncias no teor de matéria seca do volumoso podem alterar significativamente a dieta ofertada.
Um bom vagão misturador, com balança eletrônica, é fundamental para produzir uma boa mistura da dieta. Além disso, respeitar a ordem correta de carregamento dos ingredientes e fazendo pré-mistura (se necessário) para os ingredientes de baixa inclusão, respeitando o tempo de mistura, são de suma importância para manter a boa homogeneidade da dieta, sendo a mesma do começo ao fim da distribuição do vagão.
Os custos de alimentação correspondem a quase 80% dos custos do confinamento. É fundamental fornecer a quantidade de alimento que o animal necessita, mas com o mínimo de desperdício possível. Desperdício que começa a ser evitado no correto armazenamento dos alimentos, na distribuição adequada do alimento nos cochos e na quantidade adequada. Evitando que esse alimento estrague no cocho, os animais venham a refugar, necessitando realizar descarte. Uma dieta custa, em média, R$ 0,80/kg. Pode parecer pouco, mas, se multiplicado pela quantidade de dias do confinamento e animais, no final o impacto é muito grande. O manejo de cocho visa reduzir esse desperdício. E a quantidade necessária a ser ofertada será dita pelos animais. O comportamento ao primeiro trato (leitura noturna) e a demonstração de saciedade dos animais são pontos chave para esse processo.
Um aspecto muito importante no confinamento é avaliar o escore de fezes dos animais. Esse escore nos diz como está a digestibilidade dos alimentos, processamento do milho e se a quantidade de fibras na dieta está adequada. Observando-se o fundo da baia é possível encontrar os animais que estão com algum problema, seja de locomoção, laminite ou vazio fundo. Animais assim devem ser identificados e medicados o quanto antes.
A grande pergunta no final do confinamento é: quando mandar os animais para o abate. Muitos confinadores trabalham com o período fixo, planejam para aquela data e seguem o planejamento, seja 90, 100 ou 120 dias de cocho. Mas alguns pontos importantes, como a gordura depositada no animal, também são válidos. Observar base da calda, maça do peito proeminente, gordura nas costelas e pescoço são indicadores visuais de que o animal está pronto para o abate. Além disso, a curva de consumo dos animais começa a abaixar, se tornando menos eficiente o aproveitamento da dieta, devido à maior deposição de gordura nesse período e à maior exigência de energia para mantença pelo animal. No Brasil, temos o peso médio de abate de 550kg. Cada vez mais é importante aproveitar o máximo possível da carcaça desse animal. Abater animais mais pesados é uma das formas em diluir os custos do boi magro, que são fixos no processo. Dessa forma, vale a pena fazer conta, avaliar o custo da diária e decidir o melhor momento de mandar esse animal para o abate. O chamado limite do ponto ótimo de abate é justamente isso: quando o ganho médio diário de carcaça empata com o custo da diária.
O momento de pesagem é muito importante, pois é quando um dos principais indicadores será coletado. Entretanto, exige extremo cuidado da equipe, evitando danificar ou causar escoriações nesses animais, pois isso será descartado da carcaça posteriormente no frigorifico.
Por falar em equipe, todo o processo é desenvolvido e executado por pessoas. Ter uma equipe competente, comprometida e capacitada faz toda a diferença entre o sucesso e o fracasso no confinamento. Desenvolver o olhar crítico no colaborador e ter o senso de dono são valores que devem ser cultivados na propriedade.
Para finalizar, necessitamos cada vez mais coletar dados nas fazendas. Como disse Peter Drucker, o guru da administração, o que pode ser medido pode ser melhorado. Manter o controle de todas as métricas torna a atividade mais profissional, permitindo alinhamentos precisos e tomando decisões baseadas em dados. Dessa forma, saber o consumo de matéria seca em relação a peso corporal, peso de entrada, peso de saída, ganho médio diário, ganho de carcaça, rendimento de ganho, rendimento de carcaça, conversão alimentar, eficiência biológica, custo da @ produzida e custo do operacional são métricas que nos mostram como o negócio está indo. Uma boa planilha de Excel ou mesmo um software de gestão de confinamento ajuda nessa tarefa.
Por Alexandre Arantes Miszura, PhD em nutrição de bovinos e consultor técnico da Trouw Nutrition
Fonte: Texto Assessoria
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