Publicado em: 30/10/2012 às 19:29hs
Na primeira parte do artigo, publicado na última edição, falei sobre as variáveis que influenciam no aumento de preço da carne bovina, como, por exemplo, a ascensão das classes C e D (pela primeira vez com poder de acesso à carnes nobres), demandas internas e externas, além das diferenças entre as restrições e facilitações de alguns mercados internacionais em relação à carne brasileira. Aqueles que leram o artigo, provavelmente, já tomaram partido quanto à crescente dos preços nas gôndolas. Nesta segunda parte, vamos falar de soluções e mecanismos de controle da qualidade e sustentabilidade.
Como finalizei o artigo afirmando que ainda existe muita distancia entre frigorífico e pecuarista. Viro o jogo e afirmo que nesse cenário já é possível notar uma movimentação de alguns frigoríficos, que têm realizado importantes investimentos que vão desde programas de sustentabilidade a treinamento e acompanhamento dos funcionários nas fazendas como o Programa de Qualidade Nelore Natural da ACNB e o Grünpass - Sustentabilidade da TÜV Rheinland do Brasil. O trabalho visa profissionalizar as propriedades, melhorar a qualidade, aumentar a eficiência e, conseqüentemente, comprovar a origem e qualidade do rebanho gerando um banco de dados crível, além de formar no produtor a consciência de que o produto que ele entrega para a indústria precisa ser controlado. Principalmente porque a indústria sozinha não consegue solucionar todos os problemas relacionados à produção, como as análises de resíduos, hematomas e problemas sanitários.
Para atingir os mais altos índices de qualidade, eficiência e diferenciar seus produtos da concorrência, os frigoríficos têm investido ainda em programas de qualidade, certificações e treinamentos constantes. Normas como, BPF (Boas Práticas de Fabricação); HACCP/APPCC (Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle; SA 8000 – Responsabilidade Social; ISO14001 – Gestão Ambiental; OHSAS 18001 – Segurança e Saúde Ocupacional; ISO22000 ou FSSC22000– Segurança Alimentar,
Vale notar ainda, que países como Inglaterra e Alemanha desenvolveram protocolos específicos de controle de qualidade de alimentos como o BRC – British Retail Consortium e o IFS – InternationalFood Standard de forma a proteger seus cidadãos de possíveis contaminações, garantindo assim sua segurança alimentar.
Outro detalhe importante foi que a indústria abriu os olhos, e percebeu que o grande filão ou “fatia do bife” estava no varejo, no consumidor final.
Sempre ouvimos que “quem manda é o cliente”, assim, já notamos estratégias de marketing como trocar selos por miniaturas, carnes com marca, lanches com nomes específicos, e até mesmo movimentos dos grandes grupos para aquisição de redes supermercadistas pelo País para aumentar suas vendas.
Mesmo que em menor escala, o pecuarista também se esforça em atender requisitos mínimos de qualidade na produção e sanidade animal, como por exemplo, adequação a programas de qualidade e certificações (BPA – Boas Práticas Agropecuárias, Global G.A.P., SISBOV, dentre outros).
Tais esforços têm favorecido o acesso a novos mercados. O trabalho em conjunto facilita a identificação de pontos de controles que levam a rastreabilidade do rebanho. A indústria precisa olhar para o outro lado da porteira, pois o boi pulou a cerca e alguém tem que laçá-lo. A cada dia que passa o mundo cobra mais e mais qualidade das empresas, ainda é pouco, principalmente no Brasil, onde estamos aprendendo a comer com consciência.
Portanto, uma gestão de qualidade certamente incrementará de forma sustentável a produção de carne nacional, proporcionando maior equilíbrio entre oferta e procura no mercado interno e ainda a entrada em maior escala da carne brasileira nos mercados internacionais que mais remuneram a arrouba sem que ocorra o desabastecimento.
Além da qualidade dos produtos, da transparência, da certificação de origem, já fala-se em ações sustentáveis, sociais, ambientais e trabalhistas.. Empresas que não se preocupam com estes detalhes estão fadadas ao fracasso. Em uma busca rápida veremos que é grande o número de frigoríficos e pecuaristas que quebraram ou pediram recuperação judicial. E esse número tende a aumentar!
Finalmente será que com todo o esforço despendido das partes, teremos força, por exemplo, para atender a cota Hilton?
Sem o apoio efetivo e constante do Governo, temo que dificilmente levaremos essa confiança ao mercado externo.
E é somente com o apoio, dedicação e esforço de toda a cadeia produtiva de gado de corte (público/privada) que atingiremos um novo patamar com oferta garantida e preços justos para todas as partes, sendo o Pecuarista, Frigorífico, Varejista e o Consumidor final.
E é pensando nisso que a algumas das maiores Certificadoras do Brasil, buscam se especializar e qualificar constantemente de forma a oferecer novas oportunidades de qualificação e gestão dos processos produtivos, e ainda, criar vantagens competitivas à cadeia produtiva da pecuária e ainda levar maior segurança aos compradores.
Através de ações em conjunto as certificadoras buscam levar aos produtores e profissionais do campo e da indústria, treinamento, qualificação de fornecedores, certificação de processos e produtos e rastreabilidade. Tudo para que toda a cadeia da carne bovina seja mais eficiente e, ao mesmo tempo esteja dentro dos padrões internacionais de qualidade.
Lucas Martins, gerente de contas da área de alimentos e bebidas de uma das maiores certificadoras do mundo. Contato: 011 3514-5768
Fonte: TÜV Rheinland do Brasil
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