Publicado em: 09/06/2008 às 10:07hs
O Brasil possui o maior rebanho bovino comercial do mundo (cerca de 200 milhões de cabeças, em 2006), é o segundo maior produtor internacional de couros, processando 44,4 milhões de peças, quarto maior exportador e embarcou US$ 2,2 bilhões em 2007, registrando crescimento de 17% em relação ao ano anterior. Já em volume de couros bovinos exportados, o resultado foi da ordem de 33 milhões, mantendo-se o mesmo nível de 2006.
A indústria brasileira curtidora é uma atividade que movimenta um PIB estimado em US$ 3,5 bilhões, reúne 800 empresas de processamento e produção de couro, e emprega cerca de 50 mil pessoas.
Entretanto, o País está abrindo uma nova frente de negócios no mercado externo que em nada contribui para a soma de riquezas: a crescente exportação de bois vivos. No ano passado, por exemplo, os embarques de gado em pé movimentaram 431 mil cabeças, total 200 vezes superior aos 2.156 animais que deixaram os portos brasileiros em 2003. Somente no primeiro trimestre deste ano, a exportação de gado vivo cresceu 30% em volume, em comparação ao mesmo período de 2007.
Sem dúvida, esse surpreendente incremento é mais uma evidência que o Brasil continua trafegando na contramão da tendência mundial de agregar valor à produção. Até porque, o embarque de animais em pé é certamente a forma mais eficiente para comercializar a matéria-prima brasileira com o menor valor agregado possível.
Ao analisarmos a movimentação monetária, enquanto a exportação de gado vivo gerou modestos US$ 260 milhões no ano passado sem agregar riquezas ao País, as vendas externas de couros, por exemplo, superaram a marca histórica de US$ 2 bilhões, além de promoverem arrecadação de impostos ao redor de US$ 1 bilhão.
Cabe salientar, também, que hoje, as exportações de couro do Brasil geram divisas e não promovem qualquer desabastecimento do mercado interno, mesmo porque mais de 60% do couro bovino é destinado aos setores automotivo e de estofamento, como decorrência do setor calçadista ter migrado para a matéria-prima sintética, por questão de custo.
Apenas para ilustrar: os embarques de peças de maior valor agregado (semi-acabado e acabado) representam participação acima de 67% do total da receita das exportações brasileiras de couro, contra 64% em 2006. Já o saldo da balança comercial da indústria curtidora atingiu US$ 2 bilhões, em 2007, contra US$ 1,7 bilhão em 2006. É inegável que o couro brasileiro conquistou luz própria.
Neste contexto e para reverter o quadro de estímulo a uma atividade que nada adiciona em riqueza, ao contrário do esforço exportador da indústria curtidora, algumas vozes já defendem a aplicação de um imposto de exportação sobre o embarque de gado em pé.
Para o Centro das Indústrias de Curtumes do Brasil (CICB), – entidade federativa que representa, há 51 anos, as 800 empresas de produção e processamento de couro –, há urgente necessidade de o governo investir em políticas setoriais que priorizem o embarque de produtos de valor agregado. É alvissareiro o recente lançamento, pelo governo federal, da Política de Desenvolvimento Produtivo, com ênfase nas exportações. Obviamente, não se constituirá em panacéia, mas com parceria efetiva entre os setores público e privado, certamente promoverá benefícios para a competitividade do produto brasileiro no mercado internacional, além de contribuir para fortalecer o mercado doméstico.
Neste sentido, no tocante ao próprio setor curtidor, um dos aspectos mais preocupantes é a redução do abate de bovinos para recompor o rebanho, estimada entre 5% e 10% ante 2007, e cuja expectativa da queda de oferta já provoca alta das cotações do couro verde, matéria-prima estratégica, pressionando os custos de produção.
Outro obstáculo significativo é a apreciação do real que resulta em aumento do valor do couro nacional nas negociações internacionais, reduzindo as margens, inviabilizando negócios e aviltando o ganho do setor. Como resultado da redução dos abates de bovinos e do câmbio apreciado, as exportações de couro, em 2008, deverão ficar ao redor de US$ 2 bilhões, reduzindo em US$ 500 milhões as expectativas anteriores.
Para contornar tal quadro, a entidade vem propondo, em caráter emergencial, a redução a zero nas alíquotas de importação de couros salgado e wet blue. O objetivo do pleito é atenuar o impacto negativo da atual conjuntura, de modo a evitar a ociosidade industrial e as conseqüências nocivas na atividade curtidora.
O CICB entende que somente com medidas de estímulo à agregação de valor para setores que contribuam efetivamente para a geração de divisas e riquezas e de postos de trabalho, é que haverá a consolidação da inserção competitiva do Brasil na acirrada economia globalizada.
Luiz Bittencourt
Presidente do Centro das Indústrias de Curtumes do Brasil (CICB),
entidade de âmbito nacional, que reúne associados de empresas privadas e sindicatos da indústria do couro, e vice-presidente do International Council of Tanners (ICT, sigla em inglês para Conselho Internacional dos Curtumes), entidade internacional que congrega representações de 25 países.
Contatos: Centro das Indústrias de Curtumes do Brasil - CICB
Fonte: Cultivar
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