Publicado em: 20/11/2013 às 01:00hs
O Projeto Raças é uma série de artigos do BeefPoint, cada um dedicado a uma raça, que visa reunir opiniões e conhecimento de profissionais que trabalham diretamente com cada uma dessas raças. Elaboramos uma série de entrevistas com esses especialistas. O resultado dessas entrevistas para a raça Caracu está compilado aqui, com a opinião desses especialistas sobre a raça.
Essa série de artigos não representa um endosso especial do BeefPoint em nenhuma das raças que vamos apresentar nesse projeto, mas a opinião e comentários de quem trabalha com cada uma dessas raças. Estamos em contato com as principais raças de corte do Brasil e iremos publicar aqui uma por uma, nas próximas semanas.
Conheça mais a raça Caracu
Histórico da raça
A Raça Caracu, sem dúvidas se filia ao tronco Aquitânico. Na sua formação entraram várias raças deste tronco, espanholas e portuguesas, mas também várias de outros troncos como: Ibericus batavicus (raça taurina), bem como gado Africano, pois sabe-se que a invasão dos mouros na Península Ibérica durou vários séculos. A primeira entrada desses animais ocorreu em 1534 em São Vicente-SP. Foram criados durante vários séculos enfrentando todos os tipos de dificuldades como: alimentação, doenças, clima e parasitas. Esta pressão natural moldou os animais chamados crioulos (nativos), destes foram separados os de pêlo amarelo e formada a raça Caracu.
O rebanho da raça Caracu no Brasil
A raça Caracu é por sua história e características um patrimônio da pecuária nacional, foi ela que sustentou a produção antes da chegada dos zebuínos, o que quase a levou a extinção.
Com mais de quatro séculos de adaptação, o Caracu reúne características como: rusticidade, adaptabilidade, habilidade materna, longevidade, resistência a parasitas, cascos duros, entre outras.
A partir de 1980, uma nova fase na seleção da raça com a utilização de técnicas modernas, foi iniciada. Este projeto foi coordenado pela Associação Brasileira de Criadores de Caracu (ABCC) tendo como parceiros o Instituto de Zootecnia de Sertãozinho (IZ), Embrapa – Gado de Corte (Campo Grande/MS) e o Instituto Agronômico do Paraná (IAPAR). Este trabalho permitiu um salto na seleção da raça, fazendo com que animais adaptados passassem a expressar características produtivas, como ganho de peso, conformação de carcaça, precocidade, entre outras, fazendo da raça caracu, uma opção para o cruzamento industrial e reforçando a importância dela na pecuária nacional.
Associação Brasileira dos Criadores de Caracu – ABCCaracu
A Associação Brasileira de Criadores de Caracu foi fundada em 1916 e está sediada em Palmas/PR desde o ano de 1983. A ABCCaracu vem desenvolvendo projetos de fomento do cruzamento industrial com caracu nas regiões centro-oeste e norte do Brasil, projetos de pesquisa na qualidade de carne em parceria com a Embrapa Bagé Sul e projetos de ganho de peso e eficiência alimentar junto aos criadores na região de Palmas/PR.
Em 2012-2013, visando alavancar a raça no mercado, a associação desenvolveu uma série de trabalhos, tais como o fomento da raça Caracu à criadores do norte do país, tendo uma maior presença dos técnicos da raça junto aos pecuaristas, avaliando taxas de prenhez com touros Caracu, realizando pesagens dos produtos F1 e avaliando rendimento e qualidade das carcaças fruto de produto F1 Caracu ao abate.
Adicionalmente, Sady Marcondes Loureiro Filho, presidente da ABCCaracu, salienta que os planos para 2013-2014 visam:
Aumentar o fomento e marketing da raça a nível nacional;
Para Sady, todos estes planos e ações da associação frente a raça Caracu são divulgados por uma série de veículos e estratégias de marketing, tais como:
Embora sempre busque metas a favor da promoção da raça, a associação apresenta alguns desafios para que estas metas sejam otimizadas e postas em prática, tais como:
Segundo Licio Isfer, criador da raça há anos, o fato de ser associado da ABCCaracu remete ao criador, uma série de vantagens para aqueles que gostam e querem criar animais desta raça. Principalmente em função da tamanha dificuldade em promover a raça, visto que esta apresenta uma imagem negativa, por motivos culturais e pelo desconhecimento de boa parte dos criadores de gado comercial.
Confira abaixo algumas vantagens listadas pelos entrevistados:
Jeferson Raudilei Palauro, técnico da ABCCaracu, ressalta que a maior dificuldade em promover a raça é em função da falta de divulgação, onde todos estão deixando de apresentar aos pecuaristas uma raça que tem adaptabilidade, fertilidade, habilidade materna e precocidade que são características do Caracu Moderno, que é uma raça que evoluiu muito e ainda nos dias de hoje sofre com as lembranças antigas de uma raça que era tida como tração animal, tardia e sem rendimento de carcaça.
Estágio atual da raça
Até o começo do século XX, a população bovina no Brasil era somente de tipos regionais, com predominância do europeu Caracu. A cruza com os recém-chegados indianos apresentou ótimos resultados. Na época, pelo desconhecimento do fenômeno genético da heterose, todo mérito foi creditado erroneamente apenas aos zebuínos.
Atualmente o número de exemplares da raça Caracu está reduzido, principalmente se comparado ao volume do rebanho nacional.
A raça Caracu está presente em: Minas Gerais, São Paulo, Paraná, Santa Catarina, Tocantins, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Rondônia e Pará. Existe também um núcleo de criadores no Paraguai.
Adicionalmente, o rebanho controlado é de aproximadamente de 125.000 animais, considerando os sócios e não sócios da ABCCaracu. Adicionalmente, cerca de 5.000 animais são registrados por ano.
Características zootécnicas da raça
Segundo os entrevistados da raça Caracu, estes animais apresentam características favoráveis a criação. Confira abaixo alguns destes pontos fortes:
Adicionalmente, as fêmeas da raça apresentam boa habilidade materna, seguidas de:
Segundo os entrevistados, vale ressaltar que as fêmeas F1, oriundas do cruzamento de Caracu x fêmeas zebuínas, são muito disputadas por criadores que realizam o cruzamento tricross ou necessitam de fêmeas para receptoras de embriões, devido a indiscutível habilidade materna, fertilidade, produtividade de leite se refletindo em um alto peso a desmama de seu produto (tricross ou embrião gerado por ela) e sua docilidade e facilidade no manejo com a cria, não perdendo no quesito de adaptabilidade nas adversidades ambientais e nutricionais impostas.
Os reprodutores, em sua grande maioria, são criados no estado do Paraná, e após feita a seleção e seu Registro Definitivo, são comercializados, em sua grande maioria, para pecuaristas da região norte do Brasil(RO, AC, PA, TO, MT) sendo carregados em pleno frio sulino e descarregados num período de 5 dias nas altas temperaturas do norte brasileiro, onde não precisam de período de aclimatação, apenas passam por um período de adaptação nutricional.
Já com relação a qualidade da carne, estes animais apresentam carne com maciez e suculência desejáveis. Além de bons resultados quanto ao rendimento de carcaça.
O técnico da ABCCaracu confirma esta afirmação com base em alguns animais terminados em confinamentos e abatidos aos 20 meses pesando 19@ de peso com 53% de rendimento de carcaça. Sendo que no período de confinamento os animais tiveram um ganho de peso médio na ordem de 1,7 kg/peso/dia.
Quais são os desafios para o Caracu atual?
Segundo Jeferson Palauro, há alguns pontos que precisam ser melhorados. Ou seja, é preciso ofertar ao mercado um maior número de reprodutores selecionados, para que se possa ter uma uniformidade no produto F1 Caracu. Da mesma forma, é necessário aumentar o número de criadores, para poder aumentar o volume de reprodutores que o mercado demanda.
Adicionalmente é preciso fomentar e difundir a raça em regiões do Norte e Nordeste do Brasil, pois nessas regiões o desafio climático, parasitário e nutricional é grande, em alguns períodos do ano; embora o Caracu já seja uma raça que se desenvolve bem nos desafios de clima, nutrição e manejo oferecendo ao pecuarista que faça uso da raça, um baixo custo de produção em função de sua adaptabilidade.
Quais os principais cruzamentos que podem ser realizados com base nesta raça?
A partir da configuração do rebanho brasileiro, com predominância de matriz indiana, nossa atenção tem se voltado à melhoria na qualidade da carne nacional. Geneticamente essa linhagem zebuína não tem como atributo natural a maciez e suculência. Por outro lado, nota-se que o consumidor final procura cada vez mais por qualificações gustativas na carne e está disposto a pagar mais por isso. A solução comercial para esse impasse e o da atual baixa de lucratividade na pecuária pode acontecer através da heterose, choque de sangue. E a raça Caracu pode ser uma opção nesses casos, afirma o técnico.
O gado indiano, quando cruzado com europeu, além da heterose, também adquire a habilidade materna, temperamento mais manso e menor seletividade em escolha de pastagens, características genuínas da raça Caracu.
A raça Caracu desempenha o cruzamento industrial em monta a campo tendo seu principal cruzamento feito com reprodutor Caracu em fêmea zebuína (nelore, guzerá, tabapuã, etc) visando um aumento no peso a desmama dos bezerros imprimindo também a tão buscada qualidade de carne nos produtos F1.
No sul do Brasil, é utilizado o Caracu em fêmeas taurinas (Angus, Hereford, Braford, Devon) aproveitando nesse cruzamento a heterose gerada em função da raça Caracu, pois o Caracu é um taurino adaptado, não tendo parentesco algum com raças britânicas (Angus, Hereford, Devon e seus cruzamentos sintéticos), imprimindo assim um alto grau de heterose, impondo sua adaptabilidade no cruzamento, corrigindo alguns problemas (tristeza parasitária) apresentados nas regiões que tem grande infestação de carrapatos no ambiente e topografias irregulares.
Quais as principais tecnologias usadas para manejo reprodutivo do rebanho desta raça?
Embora muitas propriedades estejam desprovidas de estruturas e mão de obra adequadas, a raça Caracu vem utilizando massivamente a tecnologia de inseminação artificial, podendo citar os touros Magnífico da Guaraúna, Revelação da Guaraúna e Filisteu do IZ como os principais reprodutores utilizados atualmente nos acasalamentos dirigidos. Porém, alguns projetos estão sendo desenvolvidos em Rondônia com relação a técnica de FIV, visando uma maior velocidade de crescimento da raça no Estado.
Índice Asbia 2012 – Evolução raça Caracu- 3 anos
Fonte: Asbia.
Veja abaixo os recados dos profissionais entrevistados, sobre a raça Caracu:
Sady Marcondes Loureiro Filho: ”Há uma crescente procura tanto por reprodutores como por matrizes apresentando uma notável valorização de mercado, onde a demanda por reprodutores Caracu está acima do volume de oferta dos animais da raça em cada geração.”
Jeferson Raudilei Palauro: ”A maior dificuldade é a falta de divulgação da raça, onde estamos deixando de apresentar aos pecuaristas uma raça que tem adaptabilidade, fertilidade, habilidade materna e precocidade que são características do Caracu Moderno, que é uma raça que evoluiu muito e ainda nos dias de hoje sofre com as lembranças antigas de uma raça que era tida como tração animal, tardia e sem rendimento de carcaça.”
Licio Isfer: ”Nossa grande dificuldade é traduzida pela imagem negativa do Caracu, por motivos culturais e pelo desconhecimento de boa parte dos criadores de gado comercial.”
Agradecimentos
Artigo elaborado por Gustavo Freitas, membro da Equipe Conteúdo BeefPoint, com base em entrevistas feitas com os profissionais acima listados, que trabalham com a raça Caracu.
Fonte: BeefPoint
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