Avicultura

Para BRF, Brasil está perdendo competitividade gradativamente no setor avícola

No início dos anos 2000, produzir um frango no Brasil custava US$ 0,40, enquanto nos Estados Unidos a mesma ave tinha um custo de US$ 0,70.


Publicado em: 24/04/2013 às 14:00hs

Para BRF, Brasil está perdendo competitividade gradativamente no setor avícola

Uma larga, confortável vantagem. Mas esse trunfo brasileiro foi diminuindo com o passar do tempo e, hoje, a diferença é de apenas cinco centavos: US$ 1,15 por aqui e US$ 1,20 lá. Este foi um dos exemplos levantados por José Antônio Fay, presidente da BRF, para demonstrar como o Brasil perdeu competitividade gradativamente e sustentar sua pregação em defesa de uma urgente redução nos custos de produção do país..

Em palestra no seminário Brasil de AMANHÃ, Fay também lembrou o custo para levar aos portos e para embarcar os produtos que o Brasil exporta. E fez questão de deixar claro que os salários devem subir, mas desde que acompanhados, na mesma proporção, por ganhos de produtividade. Confira, a seguir, as principais ideias expostas por Fay.

Otimismo baseado na história recente

“Temos a obrigação de ser otimistas, mas não podemos ser ingênuos e achar que as coisas estão resolvidas. Se voltarmos à década de 1980, lembraremos de um país que tinha uma mega inflação – se os japoneses conhecessem o Sarney, os problemas deles estariam resolvidos: 2% de inflação ele faria em uma tarde.

Naquela década, tivemos nove ministros da economia, três moedas e uma série de planos econômicos. Aí a gente corta, vem pra década de 2010 e vê como o país melhorou. Empresas que foram criadas naquela época e tomaram as decisões corretas cresceram e sobreviveram em um ambiente muito difícil de planejar.”

Preocupação com o futuro

“Se daqui a 30 anos estivermos falando sobre o Brasil, eu não gostaria que a gente voltasse ao tema educação. Lembremos dos anos 80. Naquela época, quando o país saía do milagre econômico e vivia enorme euforia, faltava mão de obra qualificada, faltavam engenheiros, e não tínhaos como crescer. Agora, tantos anos depois, estamos falando a mesma coisa.

Nesse período, a Coreia, por exemplo, se dividiu e hoje andamos em carros coreanos, os eletrônicos deles são de primeira linha, etcétera. O que eles fizeram de diferente em relação a nós foi apostar em educação. Nós fizemos muitas coisas boas. Mas eles educaram o povo deles.”

Economia ajustada, mas competitividade em queda livre

“Se o macro (macroeconomia)está mais ou menos delineado, o micro tem alguns problemas. O Brasil precisa ganhar competitividade. Somos grandes exportadores de produto de consumo, mas a perda de competitividade que vem ocorrendo é séria. Estamos apoiados na cadeia agroindustrial, na qual o Brasil é supercompetitivo, mas daí para a frente começam os problemas.

Em média, para você levar uma tonelada de produtos do local da produção até o porto, gastamos em média de US$ 200 a US$ 300. Nos Estados Unidos eles gastam US$ 38. Para embarcar um contêiner em Santos custa US$ 2,2 mil. Em Hong Kong, custa US$ 550.

No início dos anos 2000, produzir um frango no Brasil custava US$ 0,40 e nos Estados Unidos, US$ 0,70. Portanto, tínhamos uma vantagem importante. Hoje, produzir este frango no Brasil custa US$ 1,15. E custa US$ 1,20 e nos Estados Unidos, que é o país mais competitivo nessa indústria, junto com o Brasil. Então estamos perdendo competitividade por causa de questões como a infraestrutura, que é uma coisa que se resolve com juro baixo, financiamento de longo prazo, construindo portos e estradas. Agora, educar uma geração é muito mais complexo e não se limita a um trabalho do governo.”

O caminho

“A agenda da competitividade passa por muitas outras exigências. Desonerar o trabalho é muito importante, mas trabalho com custo baixo não é uma vantagem competitiva sustentável no mundo de hoje. Até na China está ficando mais caro.

No sudeste asiático o custo é muito baixo. Estamos construindo uma fábrica nos Emirados Árabes e manter um funcionário lá custa a metade do que custa no Brasil. Agora, salário baixo não é bom para nenhuma sociedade. Ou seja, fato de o nosso salário estar subindo é bom. O problema é que ele sobe acima da nossa produtividade e o ônus sobre o trabalho é muito alto: cerca de 60% sobre o salário. O salário deve subir, mas o custo do trabalho não pode subir na mesma proporção.

O governo faz coisas parciais. A desoneração na folha é feita em cima de certos produtos. Então há produtos nossos que são desonerados, outros que não são... É uma confusão danada. Mas é o que tem, e a gente aproveita. Concordo com o André Esteves: a agenda do governo segue na direção certa, mas a capacidade de execução precisa melhorar bastante.

O que move uma empresa é investir com a visão de que vai ter resultado. A complexidade dos impostos, cobrados em cadeia, dificulta. O fato de termos entrado em período pré-eleitoral agora não ajuda a implementar rapidamente as soluções.”

Fonte: Amanhã

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