Publicado em: 21/08/2012 às 20:00hs
Líder nacional na produção de frango, o Paraná estruturou a maior rede de aviários e indústrias do país, mas ainda tem muito a evoluir em termos de logística, conferiu a Expedição Avicultura Gazeta do Povo, que rodou quase 5 mil quilômetros pelos principais polos de produção do estado nas últimas semanas. O setor ainda escoa perto de um quarto do volume exportado via Santa Catarina, perdendo competitividade com a ampliação da distância entre as indústrias e os navios.
A alta dependência do modal rodoviário, a rede de armazenagem deficitária e a capacidade de embarque limitada dos portos paranaenses são os principais gargalos. A comparação com Santa Catarina, segundo maior produtor, ilustra esses problemas. Apesar de produzir cerca de um terço menos, o estado vizinho exportou mais que o Paraná em quatro dos últimos cinco anos (2007, 2009, 2010 e 2011).
O Porto de Itajaí faz a diferença em Santa Catarina. Com capacidade de embarque de contêineres 50% maior que a do Porto de Paranaguá, mais que o dobro do espaço para armazenagem em câmaras frias e o triplo da capacidade estática de estocagem reefer (contêineres refrigerados), o complexo portuário permite que metade da produção catarinense de 2 milhões de toneladas ao ano siga para o mercado externo.
Apesar de ter produzido aproximadamente 1 milhão de toneladas a mais que Santa Catarina, o Paraná exporta volume similar, o equivalente a 27% de sua produção. “Nossa maior fragilidade é a armazenagem”, avalia o presidente do Sindicato das Indústrias de Produtos Avícolas do Paraná (Sindiavipar), Domingos Martins.
“Poderíamos estar exportando muito mais, mas não temos espaço de estocagem suficiente”, reforça Juarez Moraes e Silva, diretor-superintendente comercial do Terminal de Contêineres de Paranaguá. Em teoria, explica, Paranaguá seria a principal alternativa de embarque a Santos para “todo o frango produzido de São Paulo para cima”. “Mas se o produto vem de lá e não encontra armazém, acaba indo para Itajaí”, relata Silva.
Da retroárea do Porto de Paranaguá até Curitiba, há câmaras frias para estocar aproximadamente 70 mil toneladas, estima o setor. Em Santa Catarina, só no complexo portuário de Itajaí, é possível armazenar 160 mil toneladas.
Das 644,6 mil toneladas embarcadas pelo Paraná nos primeiros sete meses do ano, 472,7 mil toneladas (73%) saíram por Paranaguá e 119,7 mil toneladas (19%) por Itajaí, conforme o governo federal. Considerando também São Francisco do Sul e Imbituba, a dependência chega perto de 25%. Santa Catarina embarca 90% do frango exportado em portos locais e apenas 4% em Paranaguá.
Especializado na movimentação de produtos congelados, o terminal da Ponta do Félix, situado em Antonina (PR), não embarcou nem um quilo de carne de frango neste ano. Concebido para navios break bulk (carga solta agrupada em volumes chamados pallets), ficou obsoleto conforme o mercado migrou de um sistema paletizado para contêineres reefers (refrigerados). Atualmente, apenas os importadores russos ainda utilizam esse tipo de embarcação.
Mercado interno recebe 65% das aves abatidas
Concentrada nas regiões Sudoeste, Oeste, Noroeste e Norte do estado, a produção avícola do Paraná percorre distância além da necessária para ser exportada. Por outro lado, acessa com facilidade importantes centros de consumo do Sul e Sudeste do país. Mesmo as 29 empresas do estado habilitadas à exportação reservam cerca de 65% de seus produtos ao consumidor brasileiro.
Estado mais populoso e urbanizado do Brasil, São Paulo é um dos maiores clientes. Empresas do interior do Paraná que não conseguem chegar a Curitiba têm no mercado paulista um grande comprador, como é o caso da Copagril. No Paraná, os produtos da cooperativa circulam apenas na microrregião de Marechal Cândido Rondon. “O custo logístico para comercializar a produção em São Paulo é menor do que para Curitiba”, explica o presidente, Ricardo Silvio Chapla. Localizada a menos de 200 quilômetros da divisa paulista, a Big Frango, de Rolândia, comercializa 50% da produção destinada ao mercado doméstico em São Paulo e 30% no Paraná.
Com mais de dois terços da sua produção voltada ao consumidor brasileiro, a GTFoods, de Maringá também tem em São Paulo o seu principal consumidor (30%). Outros 15% seguem para o Rio de Janeiro e 10% rodam mais de 400 quilômetros até Curitiba.
Considerados mercados promissores devido ao aumento da renda da população, o Norte e Nordeste ainda não são grandes clientes da indústria paranaense. “Manaus é um excelente mercado, pois é porta de entrada da região e também para outros países da América do Sul”, avalia o diretor da Frango a Gosto, de Arapongas (Norte do PR), Domingos Martins, também presidente do sindicato das indústrias do setor (Sindiavipar) e da Unifrango. Os negócios, no entanto, estão em retração devido aos custos recordes, que apertam as margens. Entre o frete rodoviário até Paranaguá e o marítimo até o Norte, enviar um quilo de frango até Manaus custa US$ 0,85, equivalente a 20% do preço do frango inteiro.
Em meio à crise, empresas mantêm projetos
Para manter a dianteira nas exportações, recém-recuperada após três anos na vice-liderança, e ampliar sua participação no mercado externo, o Paraná corre contra o tempo. A crise provocada pela alta nos preços da soja e do milho (ingredientes da ração) não muda os planos de longo prazo, informa o setor, que se desdobra para colocar seus projetos em prática.
Com inauguração prevista para os próximos meses, o Centro de Armazenagem e Distribuição (CAD) da Unifrango – holding que congrega 17 empresas avícolas do estado (12 abatedouros e 6 incubatórios) –, promete ampliar em cerca de 35% a capacidade estática de estocagem de carne de ave do estado. Quando for totalmente concluído, o complexo de exportação de Apucarana (Norte) possibilitará a armazenagem de 25 mil toneladas de produtos congelados. Na primeira fase da obra, em conclusão, a estrutura comportará até 8,4 mil toneladas de carne.
Com projeto similar em Cascavel, a Cotriguaçu, cooperativa central que reúne Coopavel, C.Vale, Lar e Copacol, iniciou a construção de um complexo logístico de carga, descarga e armazenamento de produtos frigorificados e congelados. Com a previsão de durar 18 meses, as obras darão lugar não apenas a câmaras frias, mas também a um pátio de estacionamento e um desvio ferroviário no terminal da Ferroeste. O projeto prevê, inicialmente, investimentos de R$ 50 milhões. Num segundo momento, a Cotriguaçu pretende adquirir 60 vagões próprios para o transporte até Paranaguá.
O diretor-presidente do Conselho de Administração da Cotriguaçu, Dilvo Grolli, acredita que o novo complexo permitirá “inverter a logística de transporte” predominantemente rodoviária para o modal ferroviário, considerado cerca de 30% mais econômico. Com isso, as cooperativas do Oeste esperam reduzir seus custos de US$ 1,7 mil para US$ 1,2 mil por contêiner de 25 toneladas. Atualmente, apenas 5% das cargas frigorificadas chegam ao Porto de Paranaguá por trilhos.
Fonte: Gazeta do Povo
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