Podem oferecer mais de 200 canais, transmissão digital, alta definição, mas nenhuma TV aberta ou fechada do mundo é capaz de servir algo tão gostoso como a “televisão de cachorro”, nome popular dado às máquinas de assar aves e carnes.

Definitivamente não é só cachorro não que fica salivando diante de espetos recheados de frangos que vão girando exibidos. Corpos que douram lentamente e exalam um aroma inconfundível. Pode engolir, a saliva. O frango deixa.

A tentação é tanta que, quantas vezes, principalmente nas manhãs de domingo, muita gente sai para comprar pão, jornal ou simplesmente caminhar e volta para casa com o galã galeto na sacola.

Quando chega à mesa, um simples frango assado pode transformar o almoço de improviso num banquete.

Há alguns casos em que o frango é sagrado e tem fila perto da hora do almoço. Aqui no “Bom Dia” fazer plantão aos finais de semana se torna ainda mais cruel. Uma das rotisseries mais antigas e concorridas da cidade, a Na Brasa, fica na esquina da frente e basta abrir a porta para o perfume dos assados tomar conta do ambiente.

Num giro pelos bairros é comum encontrar as televisões, digo, assadeiras, estrategicamente colocadas na calçada.

Há quem diga que o frango assado de televisão de cachorro surgiu nas lojas que comercializavam frango abatido. Porém, o frango assado pronto, embalado para levar para casa, está ligado à história da rede Frango Assado.

Era 1952 e à beira da Rodovia Anhanguera, em Louveira (SP), uma família vendia frutas aos domingo. Na hora do almoço, um dos donos costumava comer um frango assado preparado por sua mulher. As pessoas que paravam para comprar frutas sentiam o aroma e pediam para ele vender o frango.

A família então teve a grande ideia de transformar o prato num empreendimento, passando a preparar frango em maior quantidade. A estratégia deu tão certo que hoje a rede Frango Assado é uma das maiores franquias do país e, consequentemente, outros se espelharam no negócio.

Com o tempo, as máquinas de assar frango (frangueiras) de todos os tamanhos se multiplicaram pelo país, primeiramente nas padarias e casas de carnes, depois em bares e mercadinhos de bairro. Hoje até mesmo os grandes supermercados embarcaram na onda do frango, onde a demanda sempre é maior nos finais de semana, mas é possível encontrar um franguinho todos os dias.

O consumo do frango assado não tem a ver com poder aquisitivo. É uma questão de hábito e de cultura. Desde quando os italianos chegaram ao país que o frango com macarrão é um clássico no cardápio de domingo. E a praticidade de encontrar a ave prontinha, muitas vezes acompanhada de uma farofinha, cebolas que ficam macias e adocicadas, batatas impregnadas de tempero não tem preço. Aliás, tem sim, e com um custo-benefício ótimo, seja vendido por peça ou peso, o consumidor paga de R$ 13 a R$ 25 por um galã da televisão de cachorro ou o rei do domingão.

Mas vale a boa encomenda para não ficar sem, geralmente eles “voam” assim que ficam prontos.