Publicado em: 29/08/2012 às 19:20hs
"Se quebrar, falta milho amanhã", diz o agricultor Valdemar Kovaleski, que preside o sindicato de criadores de aves do Estado.
Principais polos produtores de frango do país, os Estados do Sul, distantes da produção de grãos do Centro-Oeste, sofrem com a escassez de ração para alimentar frangos, o que tem feito produtores sacrificar pintinhos e abandonar a atividade.
A falta de milho e soja é consequência da elevada cotação dos grãos, devido à quebra da safra dos EUA e ao apetite dos exportadores.
"O produtor quer vender para fora. O preço está muito bom", comenta Francisco Simioni, diretor do Deral (Departamento de Economia Rural) do Paraná.
Desde o início do ano, houve aumento de 80% na cotação da soja e de 40% na do milho -os dois produtos são responsáveis por 80% dos custos dos avicultores.
Com o preço nas alturas, o custo de produção do setor disparou, e a atividade, para além da escassez de grãos, tornou-se inviável para os produtores independentes, cuja renda não é garantida pela agroindústria.
Para empresas que vinham mal, o aumento de custos foi a gota d'água.
A Ubabef (União Brasileira de Avicultura) estima retração de 5% no mercado neste ano. "É a seleção natural", diz Neivor Canton, vice-presidente da cooperativa Aurora em Santa Catarina.
MENOS FRANGOS
O setor já reduziu, no início do mês, em 10% o plantel de frangos no país. Sem dinheiro, as indústrias diminuem a operação (muitas estão com capacidade ociosa) e adiam investimentos.
"Demos uma segurada no planejamento. O que ia acontecer neste semestre ficou para o ano que vem", afirma Ciliomar Tortola, diretor industrial do grupo GTFoods.
Com o aumento de até 50% nos custos, há empresas que operam no vermelho, com prejuízo de R$ 0,15 por frango -por isso, a expectativa é que o preço da carne para o consumidor suba, e logo.
"É uma necessidade, sob pena de a cadeia avícola não sobreviver", diz Canton. Neste ano, o preço do frango só subiu 2% no primeiro semestre, segundo o IBGE. Até o fim do ano, o índice pode chegar a 50%, diz o Sindicarne-SC.
Para os empresários ouvidos pela Folha, a crise não passará até que venha a próxima safra de grãos do país, em janeiro do ano que vem, para aliviar os armazéns.
Até lá, os agricultores estão pedindo ajuda do governo federal, que já anunciou leilões de milho subsidiado para a região Sul.
CAMINHONEIROS
Os produtores também manifestam preocupação com o aumento do frete devido à nova Lei do Caminhoneiro, que estabelece limite de horas trabalhadas por dia.
A lei já fez com que uma empresa contratada pela Conab desistisse de entregar a última parte de um lote de milho de Mato Grosso para Santa Catarina -são 12 mil toneladas que não foram ao Sul.
Agora, o Estado tenta convencer o Ministério da Agricultura a repassar recursos para que o governo estadual contrate as empresas.
Fonte: Folha de São Paulo
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