Publicado em: 05/11/2021 às 13:20hs
Atualmente, 142 empresas dos setores alimentício e hoteleiro no Brasil têm compromissos públicos de não utilizar mais ovos e derivados originados de galinhas alojadas em gaiolas, conforme aponta o Observatório Animal, plataforma da Alianima, organização que atua na agenda do bem-estar animal. Em diferentes estágios de evolução, essas empresas vêm promovendo mudanças significativas em toda a cadeia de fornecedores para atingir esse objetivo em prazos distintos: até 2025 (maioria) ou, no máximo, até 2030.
É o que mostra o estudo de caso ‘Abrindo as gaiolas’, lançado nesta semana pela Alianima, com foco em três empresas do setor alimentício líderes de mercado (Barilla, AB Brasil e GPA), que já migraram completamente ou estão em processo de transição para sistemas em que as galinhas são criadas soltas, com lotação controlada e aporte de elementos importantes, como poleiros, cama (para banho de terra/areia) e local para ninho. “A implementação de políticas efetivas de bem-estar animal é um grande desafio enfrentado pela indústria, por ser um processo que não apenas demanda uma gestão eficiente, mas que envolve toda uma complexidade no que tange à cadeia de produção, composta por produtores, empresas de equipamentos, logística, entre diversos outros importantes atores”, observa Patrycia Sato, médica veterinária e presidente da Alianima.
De acordo com ela, esse processo responde também a uma demanda do consumidor, cada vez mais preocupado com a origem da produção dos alimentos. Segundo o levantamento “Atitudes sobre animais de produção nos países do BRIC”, de 2018, com uma amostra de 1.027 entrevistados, 89% dos consumidores brasileiros consideram importante que os animais de produção sejam bem tratados. “Esses três casos são emblemáticos e servem de referência para outras empresas do setor que já estão em processo de transição ou planejam iniciar essa jornada. Não há outro caminho. Empresas que não adotarem padrões de bem-estar animal não têm futuro em um mercado consumidor cada vez mais consciente e exigente”, observou Patrycia.
A multinacional alimentícia e maior fabricante de massas do mundo, famosa por suas massas com ovos, é pioneira na transição para ovos livres de gaiolas, atingindo a meta antes do prazo estabelecido (2020). A Barilla iniciou o processo de migração para ovos livres em suas operações na Europa em 2012, estabelecendo o prazo até 2020 para conclusão em todos os países de atuação. Para isso, implantou um sistema digital, chamado egg.barilla.com, com o objetivo de rastrear a origem dos ovos. Em seguida, deu início à transição no Brasil, o que envolveu lideranças internacionais e engajamento interno para que fosse concluída com sucesso. “A matriz nos ajudou com sua expertise, por exemplo, na reformulação das massas com ovos, a fim de reduzir o impacto dos custos dos ovos livres de gaiolas. No final, a gente conseguiu firmar o compromisso com os fornecedores de ovos locais aqui no Brasil também empenhados nesse projeto”, disse Eldren Paixão, gerente de Compras da Barilla no Brasil.
O maior desafio enfrentado pela Barilla foi a quantidade limitada de processadores de ovos e o preço mais alto do produto. Os setores de Marketing, Qualidade e Compras atuaram conjuntamente na resolução do problema e, assim, prospectaram mais fornecedores. A comunicação sobre o compromisso com a transição aos clientes foi uma das estratégias adotadas pela empresa, que levou a mensagem a favor do bem-estar animal até o cliente através de embalagens e redes sociais da marca.
A AB Brasil, empresa do grupo inglês Associated British Food (ABF), que conta com atuação em diversos segmentos, tornou-se a primeira processadora de ovos a adotar o compromisso de ovos livres de gaiolas. No Brasil, a empresa possui a marca Sohovos, que oferece ovos processados às empresas alimentícias. Desde 2012, a AB Brasil já buscava fornecedores de ovos livres de gaiolas, mas foi em 2020 que firmou o compromisso da transição para todos os produtos de consumo direto que possuem ovos em sua formulação, com o prazo de conclusão para 2025, e os produtos vendidos para a indústria, com término da migração para 2028.
A matriz já havia se comprometido, em 2018, para a transição das suas operações na Europa, Austrália e Nova Zelândia até 2025. A empresa adotou a estratégia de primeiro divulgar internamente, e só depois fazer a comunicação aos consumidores. “Recebemos vários feedbacks positivos, até de alguns colaboradores que não tinham ainda esse entendimento, o que foi muito bacana. E aí, eles, mais uma vez, puderam confirmar na prática o que a gente sempre diz que está no nosso DNA, que é o respeito a todas as formas de vida”, disse Vitor Oliveira, líder do projeto de ovos livres de gaiolas na AB Brasil e Head de Negócios de Ovos.
O GPA é um dos maiores varejistas brasileiros, com operações em outros países da América do Sul, e possui em seu portfólio empresas como a Compre Bem, Extra e Pão de Açúcar, além das marcas próprias Qualitá, Taek, Club des Sommeliers e Finlandek. Atualmente, a empresa conta com diversas frentes de atuação alinhadas à agenda ESG (Environmental, Social and Governance). Assim, a transição para a venda de ovos exclusivamente livres de gaiola envolveu também fornecedores. Em 2017, a GPA anunciou a venda de ovos livres de gaiolas para todas as suas marcas até 2025. Em 2020, ampliou o compromisso para todos os ovos vendidos, com prazo para completar a transição até 2028, devido ao alto volume comercializado do produto.
A companhia segue em fase de implantação e divulgação do processo internamente, por meio de workshops e também com uma agenda de encontros com os fornecedores. “Os fornecedores são fundamentais para que esses compromissos de fato vigorem e deem certo. Temos essa agenda não só para evoluir junto com eles e construir critérios socioambientais, mas para pensar em produtos acessíveis e democráticos. Queremos deixar as opções para os nossos clientes entenderem, a partir dessa comunicação, dessa construção, qual é a melhor opção para eles”, disse Renata Amaral, gerente de Sustentabilidade da GPA.
São muitos os desafios e dificuldades enfrentados pelas empresas na adoção de práticas de bem-estar animal em seus processos. Paralelamente, o número de consumidores conscientes que exigem indústrias mais transparentes e engajadas com a causa é cada vez maior. É nesse contexto que surge o Observatório Animal, plataforma desenvolvida pela Alianima para dar visibilidade aos compromissos públicos anunciados pelas empresas no Brasil no que se refere ao bem-estar animal, a exemplo do Estudo de Caso “Abrindo as Gaiolas”. A plataforma também oferece conteúdos sobre a temática dos animais de produção, levando informação à sociedade e fomentando um consumo mais crítico e consciente. Conheça mais sobre o Observatório Animal.
Fonte: ALTER Conteúdo Relevante
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