Publicado em: 03/07/2024 às 08:37hs
O estresse térmico é um dos principais desafios enfrentados na produção de ovos, afetando significativamente o desempenho e a saúde das aves poedeiras. Quando expostas a temperaturas elevadas, as aves sofrem uma série de alterações fisiológicas que comprometem seu bem-estar e produtividade.
Uma das consequências diretas do estresse térmico é a redução no consumo de ração, o que leva a uma menor ingestão de nutrientes essenciais para a manutenção da saúde e produção de ovos. Como resultado, observa-se uma queda tanto na quantidade quanto na qualidade dos ovos produzidos, com ovos menores e de casca mais fina.
Além disso, o estresse térmico provoca alterações no equilíbrio eletrolítico e ácido-base das aves, podendo levar a um aumento da mortalidade no plantel. A imunossupressão causada pelo estresse também torna as aves mais suscetíveis a doenças, comprometendo ainda mais a produtividade.
Fisiologicamente, as aves não possuem glândulas sudoríparas, o que dificulta a dissipação de calor. Para tentar compensar, elas aumentam a frequência respiratória (ofegação) e promovem a vasodilatação periférica, redirecionando o fluxo sanguíneo dos órgãos internos para a superfície corporal. Essas alterações são acompanhadas por mudanças hormonais, como o aumento da corticosterona, conhecida como o hormônio do estresse. O desequilíbrio eletrolítico, especialmente a queda nos níveis de cálcio, é outro fator preocupante, pois afeta diretamente a qualidade da casca dos ovos produzidos.
Para prevenir os efeitos negativos do estresse térmico, é fundamental adotar medidas de manejo adequadas. Fornecer água fresca e de qualidade em quantidade suficiente, garantir uma ventilação adequada do galpão para remover o ar quente e utilizar sistemas de resfriamento, como nebulizadores e pad cooling, são estratégias essenciais.
A utilização de aditivos na dieta, como eletrólitos para equilíbrio ácido-base, antioxidantes, vitaminas C e E e minerais quelatados, também auxilia no combate ao estresse térmico. A suplementação via dieta com parede celular de levedura de etanol, que possui ação imunomodulatória, é uma estratégia altamente eficaz, principalmente na redução de processos pró-inflamatórios e radicais livres causados pelo aumento das temperaturas.
O uso de parede celular de leveduras de etanol pode auxiliar no combate ao estresse térmico em aves poedeiras de diversas maneiras. A levedura de etanol é um imunonutriente proveniente da parede celular de leveduras Saccharomyces cerevisiae usadas na fermentação da cana de açúcar para produção de etanol, rico em mananoligossacarídeos (MOS) e beta-glucanos.
São diversos os efeitos benéficos das beta-glucanas e MOS na mitigação dos efeitos do estresse térmico:
Em um estudo realizado na FZEA-USP (Koiyama et al., 2015), com diferentes inclusões da levedura de etanol na ração de poedeiras e em condições de estresse térmico (temperaturas superiores a 40°C), observou-se que as aves suplementadas com leveduras de etanol, além de apresentarem melhores resultados de produção e qualidade de ovos, também retornaram e mantiveram melhores índices de produção após o período de estresse térmico.
Os beta-glucanos presentes nas leveduras de etanol desempenham um papel fundamental na neutralização direta das espécies reativas ao oxigênio (EROs), agindo como sequestradores de radicais livres e protegendo as células dos danos oxidativos. Além disso, esses compostos são capazes de estimular as defesas antioxidantes endógenas das aves, ativando a expressão de genes relacionados a enzimas antioxidantes, como a superóxido dismutase (SOD), catalase (CAT) e glutationa peroxidase (GPx). Essas enzimas são essenciais para manter o equilíbrio oxidativo no organismo das aves, neutralizando as EROs e prevenindo o estresse oxidativo.
Outro aspecto importante na mitigação dos efeitos do calor, é a capacidade da levedura de etanol em modular a resposta inflamatória. O estresse térmico pode desencadear um processo inflamatório nas aves, que está intimamente relacionado ao estresse oxidativo. Os mediadores inflamatórios podem estimular ainda mais a produção de EROs, amplificando o dano oxidativo. Graças às propriedades anti-inflamatórias dos beta-glucanos é possível reduzir a inflamação e, consequentemente, minimizar o estresse oxidativo associado a ela.
Em conclusão, a levedura de etanol é um aditivo natural versátil que pode desempenhar um papel crucial na mitigação dos efeitos do estresse oxidativo causado pelo estresse térmico em aves poedeiras. Seus múltiplos mecanismos de ação, incluindo atividade antioxidante direta, estimulação das defesas antioxidantes endógenas, efeitos anti-inflamatórios, manutenção da integridade intestinal e melhoria da eficiência alimentar, trabalham em sinergia para proteger as aves contra os danos oxidativos e manter seu equilíbrio oxidativo durante períodos de alta temperatura. A inclusão da levedura na dieta das aves poedeiras pode ser uma estratégia eficaz para minimizar os impactos negativos do estresse térmico na saúde e produtividade das aves.
Por: Fernando Augusto de Souza, zootecnista e gerente de produtos da ICC
Fonte: Texto Comunicação Corporativa
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