Avicultura

Automação e benefícios dos processos produtivos em granjas de matrizes de frango de corte

Em 50 anos, a população mundial exigirá 100% mais alimentos, e 70% desses alimentos deverão vir da adoção de tecnologias


Publicado em: 16/09/2020 às 15:15hs

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O uso da tecnologia na avicultura é um caminho sem volta. A indústria avícola busca, continuadamente, vantagens competitivas em relação aos concorrentes, pois a perenidade da empresa não está mais, exclusivamente, na operação “produção X venda”, e, sim, nas melhorias contínuas nos indicadores de desempenho da atividade, buscando qualidade e segurança nos produtos. Estes serão fatores decisivos para a sobrevivência e perenidade da empresa.

Até pouco tempo atrás, creditava-se que o baixo custo de produção estava ligado, principalmente, ao baixo custo de mão de obra e reduzido nível tecnológico das granjas (que era “compensado” pela disponibilidade de mão de obra) até então empregadas no Brasil.

É fato – e de conhecimento geral – que as casas genéticas sempre se utilizam dos mais modernos meios e tecnologias disponíveis no mercado em suas pesquisas de desenvolvimento, o que nos direciona a crer que: para usufruirmos do potencial genético destas aves, teremos de implantar essas tecnologias e automações em nossas granjas criatórias.

Evidencia-se também a evolução dos indicadores de desempenho na área de reprodução dessas aves, em um maior número de ovos e melhor eclosão e, consequentemente maior número de pintos em cada ciclo de produção dessas casas genéticas presentes atualmente na atividade e, que é claro, continuará a acontecer devido à crescente demanda por alimentos no mundo. Em contra partida, as instalações brasileiras encontram-se num nível intermediário abaixo, o que nos leva a questionar: teremos condições de usufruir e nos beneficiar de todo o potencial que estas aves possuem em sua genética? Nos manteremos competitivos?

Assim, as tomadas de decisões e/ou investimentos se tornam muito importante para a viabilidade e sustentabilidade do negócio, que apresenta um ciclo longo (em torno de ano e meio); risco sanitário da atividade; mão de obra e retorno do capital investido.

Desafios de custos de produção, resultados zootécnicos, disponibilidade e qualidade da mão de obra, bem como a biosseguridade nos direcionam à necessidade de emprego tecnológico.

A tendência aponta para complexos produtivos maiores, os quais farão uso de maior tecnologia, menor mão de obra e entrega de um produto acabado de maior qualidade a um custo baixo de produção. Essa mudança está acontecendo à medida em que os processos automatizados comprovam um melhor resultado, diante da maior padronização do produto acabado. É necessário também que os produtores se profissionalizem e busquem uma gestão mais apurada do negócio, através de maior controle de custos de produtividade, acompanhem as tecnologias e investimentos, o que lhes garantirá competitividade. Dessa forma, quem produz mais e melhor terá mais chances de se posicionar no mercado cada vez mais competitivo.

O uso da tecnologia e automação na criação de reprodutoras nos aponta o quanto essa evolução vem sendo importante para a busca de melhores padrões sanitários, além da melhoria dos indicadores zootécnicos, como: uniformidade, viabilidade, produtividade e aproveitamento, bem como dos indicadores econômicos de redução de custos, mão de obra e lucratividade.

Alguns exemplos atuais do uso da tecnologia na criação de matrizes reprodutoras, em que buscamos o melhor padrão sanitário, melhoria dos indicadores zootécnicos (viabilidade, uniformidade, produção e aproveitamento) e econômicos (redução de custos, mão de obra e lucratividade).

A automação reduz, substancialmente, a mão de obra na granja, mas em algumas situações perde-se em produtividade, até que ocorra o conhecimento sobre o manejo correto da automação, principalmente em ninhos comunitários e climatização.

Nas granjas de matrizes pesadas, existem algumas áreas principais em maior desenvolvimento e implantação da automação, como a área de alimentação, ninhos mecânicos, climatização e a balança seletora de aves.

Alimentação das aves

A alimentação das aves – a exemplo da Europa – segue a utilização por calha corrente como método preferido, mas agora, há a possibilidade de se elevar a linha de calha, que como benefícios em dietas com raçoes peletizadas e trituradas, podemos citar:

  • A uniformidade do consumo de ração, pois como o abastecimento do sistema de comedouro se dá com o equipamento suspenso, o acesso à alimentação de todas as aves ocorre ao mesmo tempo, quando se baixa o comedouro. O maior benefício é a uniformidade das aves e boa produção de ovos;
  • Um ambiente com maior liberdade, livre de obstáculos, para que a ave se locomova por todos os pontos do aviário, sem precisar ficar pulando pelas calhas, principalmente na hora de se deslocar para o ninho e bebedouros;
  • Maior fertilidade do lote devido à liberdade de locomoção, o que melhora a demarcação territorial por parte dos machos, aumentando assim o número de cópulas ao longo do dia;
  • Melhoria da qualidade de cama, que com a suspensão de calhas permite o uso de revolvedores de cama em toda a área útil, o que agiliza o processo e melhora sua eficiência e;
  • Redução de ovos de cama em até 2%, com a melhoria da qualidade dos ovos férteis devido ao livre caminho da ave até o ninho.

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Ninhos mecânicos

A coleta dos ovos sempre foi responsável pela maior parcela da mão de obra necessária dentro de uma granja, com a implantação do ninho mecânico, se permitiu a redução entre 30 a 40% desse efetivo.

Atualmente, pouco mais de 50% das granjas possuem essa automação que reduz entre 60 a 70% o tempo de coleta em relação ao ninho manual, permitindo assim que o funcionário dedique mais tempo ao manejo com as aves, com a qualidade de cama, a classificação e manejo dos ovos férteis, resultando em aproveitamento e eclosões melhores.

Em contrapartida, a instalação de ninhos mecânicos nas granjas requer um elevado investimento inicial quando comparado com os ninhos manuais, entretanto esse maior investimento é rapidamente compensado pelo avicultor, em função, principalmente, da redução de mão de obra. Um ponto muito vantajoso é que o ninho mecânico permite realizar várias coletas de ovos ao dia, melhorando assim a qualidade microbiológica d e reduzindo o número de ovos trincados (Worley & Wilson, 2000). O ninho comunitário tem ganho a preferência na automação, em nível mundial, porque permite aumentar a densidade de fêmeas por metro quadrado.

Um ponto a ser citado como desvantagem para o ninho mecânico é a possibilidade de obtenção de maior percentual de ovos de cama ou de slats.

Climatização de aviários

Os aviários climatizados surgiram no mundo em 1990, de uma forma mais industrial. No Brasil, a climatização de galpões começou nos anos 2000.  Atualmente, cerca de 30% dos galpões são desse modelo.

Tendo o Brasil o clima temperado, onde a amplitude térmica em muitos momentos escapa da zona de conforto térmico das aves, essa tecnologia consegue minimizar os efeitos nocivos da variação climática que enfrentamos, especialmente em algumas regiões onde ocorre o extremo frio ou calor, permitindo que se mantenha uma faixa de temperatura mais estável e perto da temperatura de conforto ideal das aves. Essa melhor ambiência influencia diretamente a produção, eclosão e até mesmo a viabilidade dos lotes de matrizes. Ainda, outro ponto de importância a citar é o ganho em biosseguridade, pois devido ao aviário climatizado ser mais bem vedado, possui maior segurança, evitando a entrada de pássaros, roedores e até mesmo patógenos transportados pelo ar, diminuindo assim consideravelmente os riscos de doenças as aves alojadas.

O sistema de ventilação atual é baseado na criação de uma pressão negativa, sendo de suma importância que os galpões estejam bem vedados.

As vantagens da utilização do sistema de ventilação são enormes e nos permitem também ter uma maior densidade de aves por metro quadrado, o que auxilia na viabilização dos altos custos de investimento.

O sistema de climatização de aviários trouxe grandes benefícios para a avicultura brasileira, mas ainda apresenta custo alto e payback elevado.

Muitas vezes, os sistemas de ventilação modernos não nos trazem uma melhoria imediata dos resultados técnicos, quando comparado com o sistema anterior de galpão aberto.

A razão, geralmente, é a falta de experiência no manejo dos controles eletrônicos, induzindo a um esfriamento ou aquecimento das aves.

Balança seletora de aves

Com a balança seletora de aves, permite-se classificar as aves de acordo com a categoria de peso, obtendo uma maior precisão, no momento que realizamos a seleção de 100% dos lotes de matrizes. Além da eficiência, conseguimos reduzir significativamente a mão de obra entre 20 e 30%, de acordo com as condições de alojamento e estrutura da granja.

Outro benefício da máquina é a obtenção automática ao final do processo de indicadores, como: PM, uniformidade e coeficiente de variação, números estes que precisaríamos calcular manualmente ao final da tarefa.

O uso da balança seletora automática de aves nos permite reduzir as falhas da ação humana, nos proporcionando lotes com maior uniformidade, melhor viabilidade e lotes com maior potencial de expressar sua aptidão genética, além de ser um investimento com payback relativamente curto. Estima-se o retorno do investimento em menos de 2 anos.

Conclusões

Com a atual demanda de carne de frango, e as previsões futuras do crescimento ainda maior na produção desta proteína, certamente  nos depararemos  com a dificuldade de obtenção de mão de obra especializada que, em conjunto com a maior competitividade e aumento dos padrões de exigência do consumidor, nos direcionam para o caminho da produção com o uso de maior tecnologia e entrega de um produto acabado de maior qualidade a um custo baixo de produção, à medida em que os processos automatizados comprovam um melhor resultado, diante da maior padronização do produto acabado, refletindo na perenidade do negócio.

A utilização de automações ainda sofre com a onerosidade de implantação, mas acredita-se ainda que,  com a difusão do uso dos mesmos, a fabricação em maior escala desses equipamentos e ainda, aliado à concorrência gerada entre os próprios fabricantes, venham a se tornar, financeiramente, mais viáveis e com um retorno mais rápido do investimento.

BIBLIOGRAFIA:

  • WILSON, J. Mechanical egg collection in broiler breeder houses. Poultry-Misset International. V.12, p.41-45,1996
  • WORLEY, J.W.; WILSON, J.L. Influence of stray voltage on breeder hens: a field study. In: ANNUAL INTERNATIONAL MEETING; CONGRESS ANIMAL WELFARE, Milwaukee,2000. Procedings…Milwaukee,2000. P.180
  • VENCOMATIC DO BRASIL. Apresentação sobre manejo de ninho mecanico. Escola Tecnica COBB Brasil, Guapiaçu,2018
  • GB Havenstein PR Ferket MA Qureshi, Poultry Science, Volume 82, Issue 10, 1 October 2003, Pages 1500-1508, Published: 01 October 2003.

Eduardo Fronza - Eduardo Andre Fronza é consultor técnico comercial de aves na Agroceres Multimix.

Fonte: Nutrição Animal – Agroceres Multimix

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