Aquicultura e Pesca

Pesquisadores questionam alterações da Lei de Pesca do Mato Grosso

Foi aprovada recentemente, sem consulta à sociedade, a Lei Estadual nº 9794 de 30/07/2012 em Mato Grosso, que altera dispositivos da Lei Estadual nº 9.096_2009, a Lei de Pesca do Estado, impondo o pesque-e-solte como modelo único para a pesca amadora e criando dificuldades para a pesca profissional artesanal, praticamente inviabilizando a atividade


Publicado em: 05/09/2012 às 16:30hs

Pesquisadores questionam alterações da Lei de Pesca do Mato Grosso

Em função deste fato, os pesquisadores da "Rede de Pesquisa em Sustentabilidade da Pesca no Pantanal" do Centro de Pesquisa do Pantanal - CPP (Cuiabá, MT) elaboraram o documento "Implicações da Lei Estadual MT nº 9794 de 30/07/2012 sobre a Pesca e Conservação dos Recursos Pesqueiros". O Documento aponta a falta de bases técnicas para subsidiar as alterações impostas, analisa suas implicações e sugere a revisão da lei com base em informações técnicas e em ampla consulta aos usuários.

Segundo a professora da UFMT Lúcia Mateus,  o Estado de Mato Grosso é privilegiado em termos de recursos pesqueiros, o que levou ao desenvolvimento da pesca como importante atividade social, ambiental e econômica realizada nas modalidades de subsistência, profissional-artesanal e amadora (ou esportiva) nas Bacias do Alto Paraguai, Araguaia e Amazônica: “as atualizações das normas de pesca devem ser pautadas nas demandas da sociedade e na produção de conhecimentos científicos, considerando a influência de fatores naturais e das atividades humanas que agem sobre a pesca com vistas à conservação e uso sustentável dos recursos pesqueiros. O que nos preocupa é a maneira pela qual esse processo foi conduzido, pela falta de participação da sociedade e de explicitação das bases técnicas para subsidiar as alterações apresentadas, considerando suas implicações para a gestão e conservação dos recursos” explica a professora.

O pesquisador da Embrapa Pantanal Agostinho Catella alerta, neste documento, que a pesca em suas diferentes modalidades, realiza o monitoramento dos recursos pesqueiros, bem como do próprio ambiente. Esse monitoramento ocorre, tanto de forma direta pela percepção dos pescadores sobre a disponibilidade de peixes e as alterações do ambiente, quanto por meio de estudos conduzidos com base nas estatísticas pesqueiras. Desse modo, a pesca realiza o importante serviço de “conservação pelo uso” dos recursos pesqueiros e o monitoramento da qualidade ambiental para a sociedade.

“Muitas medidas adotadas pelos governos estaduais nos últimos anos são baseadas na pré-concepção de que a pesca é, se não o único, o principal fator de depleção dos estoques. Dessa forma, não é dada a devida atenção aos sérios fatores de degradação ambiental que afetam os recursos hídricos com crescente intensidade, tais como: efeitos de assoreamento, aumento de material em suspensão, pesticidas e agrotóxicos, que afetam negativamente a sobrevivência de ovos e larvas de peixes; o aumento da carga de nutrientes com perda de biodiversidade; e a fragmentação dos rios por barragens, que impedem as migrações e eliminam os peixes de piracema, sendo a principal causa de redução da produção pesqueira, com efeitos em todo o ecossistema” completa Agostinho.

A fim de alinhar a gestão da pesca com as tendências atuais do manejo de recursos naturais em nível mundial, que exigem uma atuação mais efetiva e democrática da sociedade, os pesquisadores recomendam a  implantação efetiva do Conselho Estadual de Pesca de Mato Grosso. Este Conselho será o fórum onde os atores sociais da pesca poderão debater suas questões, definir os rumos da atividade e buscar em conjunto as soluções para o setor. O documento na íntegra pode ser  acessado no seguinte endereço eletrônico www.cpap.embrapa.br/pesca/online/PESCA2012_CPP1.pdf.

Fonte: Embrapa Pantanal

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