Publicado em: 20/02/2025 às 09:00hs
A sanidade na criação de peixes é uma das maiores preocupações para os produtores da piscicultura, especialmente diante do impacto de doenças emergentes. Entre os vírus que afetam esse setor está o ISKNV (Vírus da Necrose Infecciosa de Baço e Rim), que tem causado prejuízos consideráveis à indústria pesqueira. O Instituto de Pesca (IP-Apta), vinculado à Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, conduziu um estudo sobre esse vírus, que, embora não seja uma zoonose, tem gerado sérios danos econômicos à atividade piscícola.
O vírus ISKNV ataca órgãos vitais dos peixes, provocando a morte de tecidos no baço e aumento anômalo de células chamadas megalócitos, localizadas predominantemente no rim e baço dos animais infectados. Entre os sintomas característicos da doença estão a perda de apetite, falta de movimentação, respiração acelerada, alteração na coloração do corpo, olhos saltados e inchaço abdominal.
O diagnóstico pode ser feito por meio da observação dos sinais clínicos da doença, mas a confirmação requer exames mais precisos, como a análise histopatológica do tecido ou a realização de testes de PCR, tanto convencionais quanto em tempo real. Para compreender melhor a dinâmica do vírus, os pesquisadores também recorrem ao isolamento do patógeno em culturas celulares, uma abordagem ética que dispensa o uso de animais para experimentação.
Objetivos e Metodologia do Estudo
O projeto desenvolvido pelo IP, intitulado “Detecção e caracterização de cepas circulantes de ISKNV, através de métodos fenotípicos e moleculares”, tem como meta identificar as cepas do vírus ISKNV que circulam no estado de São Paulo. A pesquisa busca também compreender o comportamento do patógeno, isolando-o em cultivo celular e realizando o mapeamento genético completo do vírus.
Além disso, o estudo incluiu a infecção experimental de alevinos de tilápia, com a coleta de amostras de tilapiculturas localizadas em quatro regiões do estado. Foram priorizados peixes com sintomas da doença, mas também foram analisados exemplares assintomáticos. Todas as amostras foram submetidas a testes de PCR, sendo as positivas confirmadas por sequenciamento genético e cultivo celular.
Algumas amostras foram enviadas à Washington State University, nos Estados Unidos, onde foram submetidas a sequenciamento total do genoma e estudos detalhados. O Instituto de Pesca também notificou a Coordenadoria de Defesa Agropecuária do Estado de São Paulo (CDA) sobre a persistência do vírus nas pisciculturas paulistas, fenômeno que se estendeu ao longo de 2023 e 2024.
A pesquisadora responsável pelo projeto, Cláudia Maris Ferreira Mostério, enfatizou os desafios enfrentados durante a pesquisa, que envolveu um grande número de animais e uma ampla gama de análises. As conclusões preliminares indicam uma relação significativa entre a atividade do vírus e as temperaturas, sugerindo que fatores climáticos, possivelmente relacionados às mudanças climáticas, estão impactando a circulação do patógeno. O estudo aponta ainda que o vírus está presente em duas regiões hidrográficas importantes do estado de São Paulo e infecta peixes nos reservatórios dessas áreas. A cepa do vírus identificada circula no estado desde 2020, o que pode representar um avanço importante para o desenvolvimento de vacinas ou linhagens de peixes resistentes ao vírus.
Segundo a pesquisadora, “este foi um estudo desafiador não apenas pelo número de animais envolvidos, mas também pela quantidade de análises e técnicas realizadas. Nossas conclusões preliminares confirmam que há uma estreita relação entre este tipo de vírus e a temperatura, mas não mais ligada às estações do ano como se pensava anteriormente, provavelmente devido às mudanças climáticas. O vírus está presente em duas principais regiões hidrográficas do estado de São Paulo e infectando peixes que são colocados nos reservatórios. A mesma cepa (tipo) do vírus circula no estado desde 2020. A boa notícia é que isto é muito bom para o desenvolvimento de uma vacina ou de linhagens resistentes.”
As investigações seguem e podem trazer contribuições importantes para a piscicultura nacional, além de colaborar com o controle das doenças que afetam a produção de peixes em diversas regiões do Brasil.
Fonte: Portal do Agronegócio
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