Publicado em: 24/09/2013 às 15:30hs
A esperança dos assentados, que já plantaram girassol entre 2008 e 2009, mas abandonaram a cultura em 2010 por falta de mercado, reacendeu depois que a Petrobras, principal produtora de biocombustível do país, anunciou que começaria a produzir biodiesel em escala comercial no RN em 2014, e que poderia comprar parte da matéria-prima no estado.
“Tem produtor plantando girassol apenas para alimentar o que restou do rebanho”, observa Marcelo Lira, pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e da Empresa de Pesquisa Agropecuária do RN (Emparn).
“O produtor do RN ficou desestimulado e deixou de acreditar na viabilidade da cultura do girassol e da mamona. Isso poderá mudar com esse novo incentivo, com esse novo estímulo”, afirma Luiz Carlos, supervisor substituto de estatísticas agropecuárias do IBGE/RN.
Livânia Frison, que mora no assentamento do Rosário em Ceará Mirim e é sócia da Cooperativa dos Produtores de Canudos, é uma das produtoras que encheu-se de expectativa. No Território do Mato Grande, onde o assentamento está localizado, os assentados já plantam coqueiros, para extrair óleo da palma, e trabalham na instalação de uma unidade de beneficiamento de tilápia, para transformar as vísceras do peixe em matéria-prima para o biodiesel.
“Já estamos discutindo isso com a Petrobras. Podemos aumentar em quase oito vezes o número de viveiros e a produção de tilápia nos assentamentos dentro de um ano, aumentando também o volume de óleo destinado a produção de biodiesel”, diz ela.
Produção no Estado é insuficiente
O governo do Rio Grande do Norte foi procurado pela Petrobras em agosto para discutir a reativação do programa de biodiesel e admitiu que, apesar dos esforços dos produtores, o estado não conseguirá suprir a demanda da usina de biodiesel de Guamaré. “Temos potencial para produzir muita coisa, mas ainda não temos condições de garantir a produção da usina”, reconheceu Tarcísio Bezerra, secretário interino de Agricultura do RN.
A estatal preferiu não comentar o fato e se limitou a afirmar que “quando entrar em operação comercial, a unidade utilizará matérias-primas competitivas, considerando possibilidades de suprimento local e regional”.
A usina produzirá 20 milhões de litros de biodiesel por ano. O volume que será necessário para abastecê-la não foi revelado. Para atender a demanda, o estado terá, na avaliação de Bezerra, que estruturar a cadeia produtiva. “Estamos pensando em convocar as cooperativas e associações para discutir o assunto”.
Antônio Carlos Magalhães, coordenador agropecuário da Secretaria, frisa que a participação dos potiguares no volume fornecido à Petrobras só atingirá um patamar satisfatório se os médios e grandes produtores forem incluídos na lista dos fornecedores de matéria-prima.
“O programa de biodiesel exige uma produção em larga escala. E não dá para ter essa produção sem incluir os médios e grandes produtores do semiárido. Se eles não forem incluídos, não conseguiremos suprir a demanda da usina”, observa.Alargar a base de fornecedores, no entanto, de nada valerá, se a estatal não oferecer um preço justo pela produção. “Sem um preço justo o programa será nati-morto; morrerá antes mesmo de nascer”.
Agricultores diversificam de olho no mercado
Os agricultores potiguares, que ainda enxergam na Petrobras o seu principal mercado consumidor, também têm buscado novos clientes para viabilizar a retomada produção de oleaginosas no Rio Grande do Norte.
Os assentados do Território do Mato Grande, por exemplo, pretendem vender parte de sua produção para agroindústrias. Segundo Livânia Frison, sócia da Cooperativa dos Produtores de Canudos - um dos assentamentos rurais do Mato Grande - é possível extrair óleo comestível e outros subprodutos de oleaginosas como amendoim e gergelim e assim agregar valor a produção. “Não queremos voltar apenas com o girassol para o biodiesel”.
Antônio Carlos Magalhães, coordenador agropecuário da Secretaria Estadual de Agricultura, vê com bons olhos a iniciativa dos assentados. Segundo ele, foi a falta de mercado, associada a uma política defasada de preços, que levou à quase extinção das culturas de girassol e mamona no RN.
“Posso afirmar que 99% da queda na área plantada de girassol e mamona foi motivada pela falta de estímulo ao produtor. O preço oferecido não cobria os custos. O mercado também era muito restrito. Qual é o produtor que ia continuar plantando nessas condições?”, questiona.
Para afastar esse risco, o assentamento Rosário, em Ceará Mirim, tem diversificado a produção. A área, que antes era destinada a produção de girassol, hoje dá lugar a plantações de banana, mamão e viveiros de tilápia. Zacarias Felipe da Silva, 40, foi um dos que abandonaram a produção de girassol e passaram a apostar em outras culturas. “Deixei de plantar, porque não tinha para quem vender”,diz.
Fonte: Tribuna do Norte
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