Publicado em: 14/04/2025 às 12:00hs
O mês de abril de 2025 iniciou-se com a implementação de novas tarifas de importação pelos Estados Unidos, um movimento que, no entanto, não gerou impactos imediatos sobre o setor lácteo brasileiro. Ao mesmo tempo, a Argentina começou a apresentar sinais iniciais de recuperação econômica, o que pode impulsionar a retomada do consumo interno e refletir positivamente nos fluxos comerciais regionais. No Brasil, o debate sobre a isenção tarifária para produtos da cesta básica ganhou destaque, gerando potencial para alterar o comportamento de consumo de itens essenciais, incluindo os lácteos.
Do ponto de vista da produção, os dados da CLAL, que comparam fevereiro de 2025 com o mesmo mês de 2024, revelam uma dinâmica diversificada entre os principais produtores de leite. Enquanto a Argentina apresentou crescimento de 8,3% na produção de leite, o Uruguai teve uma alta mais modesta de 1,9%. Por outro lado, importantes exportadores globais enfrentaram quedas: os Estados Unidos registraram uma redução de 2,5%, a Nova Zelândia de 2,6%, e a Austrália de 4,8%, refletindo os efeitos de condições climáticas adversas, custos de produção elevados e ajustes no mercado internacional.
O padrão de consumo mundial de lácteos continua intimamente ligado ao poder aquisitivo. Nos países desenvolvidos, o consumo anual per capita de leite ultrapassa os 300 litros de leite equivalente, enquanto nas economias emergentes, como é o caso do Brasil, o consumo permanece abaixo de 100 litros por habitante, destacando os desafios estruturais enfrentados por essas regiões.
Em termos de preços, o mercado internacional registrou uma queda nos preços de diversos derivados lácteos no primeiro leilão GDT de abril de 2025 em comparação ao último de março de 2025. A exceção foi o leite em pó desnatado, que teve uma valorização de 5,9%, atingindo seu maior valor em nove leilões consecutivos. Esta alta pode ser atribuída ao processo de recomposição de estoques em países importadores e à redução da oferta nos países exportadores. Em contraste, a muçarela registrou uma queda de 4%, reflexo da retração da demanda, especialmente nos mercados asiáticos. A manteiga também sofreu desvalorização, após uma sequência de altas, diante da pressão inflacionária que tem reduzido o consumo em alguns mercados.
No cenário doméstico, há sinais de um crescimento econômico mais moderado. A previsão de crescimento do PIB foi levemente ajustada para 1,97%, contra uma estimativa anterior de 2,01%. A taxa Selic permanece em 14,25%, e o IPCA geral registrou uma alta de 5% em março, com os preços dos lácteos subindo 10%, o que reduziu o poder de compra das famílias. No entanto, o mercado de trabalho tem mostrado sinais de recuperação, com a taxa de pessoal ocupado crescendo 2,45% entre dezembro de 2024 e fevereiro de 2025, comparado ao mesmo período do ano anterior. O rendimento médio dos trabalhadores atingiu R$ 3.378, e o número de trabalhadores com carteira assinada alcançou 39,6 milhões. Além disso, políticas de transferência de renda, como o Bolsa Família (com injeção de R$ 27,61 bilhões no ano), o reajuste do Auxílio-Gás (R$ 575 milhões) e o aumento do salário mínimo (atualmente em R$ 1.518), têm contribuído para sustentar o consumo das famílias e criam um cenário relativamente favorável para os lácteos no curto prazo.
O Índice de Custo de Produção de Leite (ICPLeite) registrou um aumento de 1% neste mês, impulsionado pelo crescimento de 3,2% nos custos com concentrado e de 2,4% com a qualidade do leite, fatores que devem continuar pressionando as margens dos produtores, especialmente no início da entressafra. O preço médio pago ao produtor de leite subiu de R$ 2,65/L em janeiro para R$ 2,77/L em fevereiro de 2025.
No atacado, os preços continuam a tendência de alta. Em março de 2025, o leite UHT valorizou 1,22%, o leite em pó teve uma alta de 0,43%, e a muçarela teve um ligeiro aumento de 0,19%, refletindo o ajuste sazonal característico do início do período de menor produção.
O consumo domiciliar de lácteos apresentou comportamento positivo. Dados recentes indicam mudanças significativas no perfil de compras dos brasileiros. Em 2024, o gasto com consumo nos lares aumentou 3,72%, com o leite contribuindo com 22,4% desse crescimento. Além disso, o leite com sabor, incluindo bebidas lácteas proteicas, teve uma elevação de 10,7% nas unidades vendidas, consolidando-se como uma categoria popular entre os consumidores preocupados com saúde e nutrição. O iogurte também teve um bom desempenho, com aumento de 9,7% nas unidades comercializadas.
Segundo a Abras, a expectativa é de um crescimento de 2,7% no dispêndio com alimentos nos lares em 2025. Em fevereiro de 2025, comparado ao mesmo mês do ano anterior, houve aumento nas vendas de leite (5%), leite condensado (7%), leite em pó (9%) e iogurte (10%). Com a proximidade da Páscoa, que representa um dos períodos de maior volume de vendas no varejo alimentar brasileiro, espera-se um incremento nas vendas de queijos, impulsionado pela sazonalidade e pela recuperação da renda.
Diante do exposto, o cenário atual do setor leiteiro pode ser considerado moderadamente positivo. Embora existam pressões inflacionárias e desafios na produção, o consumo segue sustentando o mercado doméstico. A atenção do setor deve continuar voltada para o mercado internacional, o comportamento dos custos durante a entressafra, e para as políticas de transferência de renda e os bons indicadores do mercado de trabalho, que têm sido fundamentais para a manutenção do consumo das famílias brasileiras.
Fonte: Portal do Agronegócio
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