Gestão

SENAR MINAS preenche lacuna da falta informação e incentiva práticas sustentáveis

Todos os cursos gratuitos da entidade, voltados para trabalhadores e produtores rurais, focam a preservação do meio ambiente


Publicado em: 29/03/2012 às 12:30hs

SENAR MINAS preenche lacuna da falta informação e incentiva práticas sustentáveis

Um dos grandes problemas da pecuária é a destinação dos resíduos produzidos na atividade. Com a percepção de que esses dejetos contribuem para a poluição do meio ambiente e com a consciência de que os recursos naturais estão mais caros e mais escassos, os produtores rurais partem para a busca de alternativas para solucionar o impasse. Dessa forma, conciliar a produtividade à preservação ambiental passa a ser um dos desafios para o homem do campo. Não é só necessário atenção, mas também informação. 

Para o zootecnista e produtor rural, Gilberto de Almeida Silva Leão, a falta de informação é a grande vilã na relação entre o meio ambiente e a pecuária. “Muitos produtores rurais ainda não sabem como desenvolver o negócio rural”, afirma. O médico veterinário Rafael Izidoro também acredita que falta informação. “É preciso entender que para se fazer uma pecuária sustentável é necessário mais conhecimento para associar técnicas, as quais devem ser escolhidas no sentido de melhorar a eficiência do sistema de produção e gerar produtos sem contaminação, mais saudáveis e com mais valor agregado. Na verdade, poucos técnicos estão preparados para pensar soluções integradas e sustentáveis.”

Izidoro ressalta que o papel do ser humano é trabalhar para potencializar a capacidade da natureza de gerar vidas. “O meio ambiente, salvo em algumas áreas muito especiais, não precisa de ‘proteção’, e sim de pessoas preparadas para usar de forma inteligente e sustentável os recursos que são oferecidos. Temos solução técnica para resolver todos os problemas ambientais gerados por anos de má utilização desses recursos.”

O médico veterinário acredita ainda que há pouco incentivo. “O crédito não privilegia, como deveria, os projetos sustentáveis, assim como não há diferenças na tributação para esses programas. O produtor, por sua vez, ainda trabalha com baixo nível de tecnologia, precisando ainda mais de formação e informação técnica.” Para Leão, o investimento nas propriedades para desenvolver a pecuária sustentável é consequência da informação. “Tendo conhecimento, o homem do campo saberá como investir, como condicionar aquilo que era poluente e torná-lo saudável.” Ele desmistifica a ideia de que é preciso empregar muito dinheiro nesses projetos. “Há desde técnicas simples às mais complexas, cujo emprego delas vai variar se é um pequeno ou grande produtor. Vale considerar que o investimento, diante do resultado, é justificável.”  

Mais conhecimento ao campo


Para evitar que a falta de informação seja um entrave no desenvolvimento da pecuária sustentável, o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (SENAR MINAS), junto com os sindicatos dos produtores rurais de várias cidades e outras entidades cooperadas, promove diversos cursos gratuitos com a finalidade de profissionalizar e melhorar a qualidade de vida da população rural. Só em 2012, a entidade pretende realizar 7.139 eventos, um crescimento de 4,36% em relação ao planejado em 2011. Ao todo, quase 129 mil pessoas serão beneficiadas com os cursos e os programas. Em todos, há uma abordagem com relação à preservação do meio ambiente.

Um dos cursos com mais demanda no SENAR MINAS, principalmente na Zona da Mata mineira, é o de bovinocultura. Nesses treinamentos, Izidoro, que também é instrutor credenciado da entidade, orienta quanto ao desperdício de recursos importantes da produção, como o esterco e a urina, gerados pelos próprios animais. “Ali, existem nutrientes e microorganismos. Quando são mal aproveitados, podem gerar contaminações ao ambiente, ao leite, aos animais e ao próprio trabalhador rural. Além disso, o produtor vai precisar adquirir os nutrientes novamente.”

Izidoro diz destacar o aumento da eficiência com o uso de pastejo rotativo, que faz com que a produção e o número de animais em produção e reprodução aumentem, sem a necessidade de ampliar a área explorada, pelo contrário, até reduzindo o espaço utilizado. “Dessa forma, diminui o impacto dos animais em outras áreas que não são aptas para o pastejo e que muitas vezes são importantíssimas de serem preservadas, para a garantia da infiltração de águas e da recarga dos lençóis e cursos d’água da propriedade, assim como da própria preservação da estrutura do solo.”

Outra abordagem que faz é com relação aos medicamentos. “É relevante que medicamentos com capacidade de contaminar o leite, a carne e o ambiente sejam usados com muito critério. Hoje, existem outras opções, como a homeopatia, que pode substituir ou complementar os tratamentos convencionais, reduzindo ou eliminando a contaminação dos alimentos por drogas perigosas. Há, nas fazendas, plantas medicinais que podem ser usadas para ajudar a curar problemas corriqueiros dos animais, por exemplo, diarreias e retenção de placenta. No entanto, tudo isso, exige conhecimento e tem que ser usado com técnica.”

O que é?

Izidoro define a pecuária sustentável como a forma de criar animais, seguindo as premissas da interação entre as atividades da fazenda. O objetivo é alcançar uma produção livre de contaminações, que preserve ou melhore os recursos naturais, como a biodiversidade, a água e o solo, e que seja economicamente viável, socialmente justa e ambientalmente correta.

Sustentabilidade ambiental e econômica são aliadas


A Fazenda Penalva, no distrito de Valadares, a 40 quilômetros de Juiz de Fora, destaca-se nas áreas de bovinocultura, suinocultura, avicultura e viveiro de mudas clonadas de eucalipto. Para desenvolver as atividades, o administrador Manoel Teixeira adota práticas sustentáveis na propriedade. “A idéia é aliar a sustentabilidade ecológica à econômica”, afirma.

Teixeira conta que a sua história com a fazenda começou a ser traçada em 1986. Primeiro, trabalhou com a avicultura, um ramo que a família já atuava. Depois, percebendo a demanda do mercado para a suinocultura, ampliou os investimentos para a área. “Percebi que na região havia um consumo muito bom de carne suína e que não havia fornecedores. As carnes vinham do Paraná e de outras regiões de Minas Gerais. Vi aí mais uma possibilidade de negócio e, aos poucos, fui implementando.” Hoje, a produção de frangos é de 1 milhão por ano e a de suínos ultrapassa 500 toneladas por mês.

A dedicação à bovinocultura iniciou a partir da constatação de que havia uma área na fazenda com vocação para a formação de pastagens. “Sempre tivemos gado. Não temos uma produção em larga escala, mas aproveitamos a pastagem. Temos cem hectares de área para a criação de bezerras, garrotas e novilhas.” Já a produção de mudas clonadas de eucalipto surgiu também a partir da percepção da demanda do mercado e também da disponibilidade de área para realizar o investimento. “Fui diversificando as atividades, sempre com o foco no potencial das áreas.”

Hoje, são cerca de 200 funcionários. Além dos trabalhadores nas áreas mencionadas, há também os voltados para assistência técnica de mecânica, predial e elétrica. “Optamos pela verticalização para economizar tempo e otimizar a produção. Se uma máquina emperrar, não preciso parar a produção até o técnico chegar.”

Dentre os exemplos de práticas visando à preservação ambiental desenvolvidas estão as de reciclagem de lixo orgânico, de papel e plástico, a compostagem, a implantação de cochos ecológicos e da fábrica de ração. “Além dessas medidas, seguimos a legislação, que já define procedimentos de preservação da natureza. Assim, mantemos o licenciamento ambiental. Procuramos, ainda, saber se nossos fornecedores também adotam práticas de sustentabilidade ambiental.”

Compostagem

Na Fazenda Penalva, as carcaças de animais mortos são transformadas em compostos orgânicos, que são lançados na pastagem, reciclando os nutrientes do solo. “Vamos fazendo várias camadas de serragem e de carcaça. O tempo de compostagem é de quatro a cinco meses. O soro que vai saindo desse sistema é direcionado para o tratamento de dejetos.” Para Neto, a compostagem é um método simples de ser adotado. “Antes tínhamos que enterrar os animais mortos, o que era mais complicado.”

 Cochos ecológicos 

O desperdício de água no tratamento dos suínos foi combatido com os cochos ecológicos. Trata-se de uma espécie de bebedouros que fornece água na quantidade adequada às fases de crescimento dos suínos. Funciona sobre pressão dos focinhos dos animais. Adotada há cinco meses na fazenda, a medida já resultou na redução de 30% a 40% no consumo de água.

 Fábrica de ração 

O consumo de ração representa a maior parte dos custos de produção para as atividades de pecuária. Para conseguir preços mais competitivos, a ração deve ser adquirida em grandes quantidades e diretamente com as empresas produtoras. Na Penalva, esse problema acabou com a instalação da fábrica de ração na propriedade. A medida permite reciclar a ração e ainda melhorar a qualidade da alimentação dos animais que a consomem. Na produção do alimento animal, vale ter cuidado no balanceamento dos nutrientes, pois o excesso desses causa poluição do ambiente.

Fonte: Assessora de Comunicação SENAR Minas

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