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Se tudo continuar como está, nós teremos um completo apagão portuário em seis ou sete anos

Uma das maiores virtudes das nações democráticas é o modo transparente como interesses de pessoas ou de grupos se defrontam com o interesse geral


Publicado em: 13/05/2013 às 14:40hs

Se tudo continuar como está, nós teremos um completo apagão portuário em seis ou sete anos

Em regimes fechados ou nos sistemas políticos capturados por interesses específicos que não contemplam o conjunto da sociedade, esse debate é travado a portas fechadas, longe dos olhos do cidadão.

Questões que são resolvidas na esfera pública exigem a busca do equilíbrio, colocando-se na balança os prós e contras dos interesses em jogo.

Faço essa reflexão para analisar o presente debate em torno da medida provisória que trata da reforma e da abertura do sistema portuário brasileiro. Mais uma vez, confirma-se que mudar é muito difícil, por mais evidente que possam parecer as vantagens e a necessidade de mudança.

Se a mudança é verdadeiramente virtuosa e justa, ela vai beneficiar de modo indistinto a todos. Em contrapartida, porém, prejudicará o interesse concreto de uns poucos.

Quem vai ganhar não sabe com precisão o que ganhará, mas quem vai perder sabe exatamente o que está perdendo. E não há força mais poderosa que o interesse pessoal contrariado.

Os governos tratam de questões complexas, de difícil compreensão por aqueles que não estão familiarizados com os temas. De forma geral, o modo como as informações são produzidas e consumidas no mundo de hoje não contribui para que se forme uma opinião bem fundamentada.

Daí a tentação do populismo, da manipulação da informação e da fabricação de emoções, de que está repleta a história, de hoje e de sempre, de nossa pobre América Latina.

A distorção da realidade é ainda maior quando conflita com interesses econômicos bem articulados e com grande liberdade de ação. Nesses momentos, torna-se mais dramática a solidão do bom governante, que se vê impotente diante da incompreensão da opinião pública.

A história real de um governo não é a história dos índices econômicos do período nem das obras físicas que levam sua marca.

A verdade histórica está nas lutas e no sofrimento que o governante teve de enfrentar para fazer o certo, em benefício de todos.

Hoje, o excesso de informações sobre crimes, esporte, escândalos e celebridades satura o cidadão a tal ponto, que não sobra espaço para saber que o Brasil tem um dos piores sistemas portuários do mundo.

Numa lista sobre qualidade dos portos em 142 países, estamos situados na miserável 130ª posição, à frente apenas do Timor Leste, do Haiti, da Venezuela, do Tajiquistão e de mais meia dúzia de países de economia modesta.

Desde a abertura dos nossos portos ao comércio internacional em 1808, o Brasil ainda não foi capaz de construir estruturas portuárias iguais ou superiores às da Índia, Rússia ou China. Mas, se o país quiser crescer e se tornar uma potência econômica, precisará de muito mais comércio internacional.

Por incrível que pareça, depois das mudanças na MP dos Portos, por forças contrárias e não republicanas que acabaram desfigurando a proposta, o que seria uma aparente derrota do governo --a derrubada da MP-- pode se converter em vitória do interesse público.

Enganam-se os que pensam que o governo não pode resolver a questão em favor do Brasil, por decreto, como fizeram outros por razões menos nobres.

Se tudo continuar como está, teremos um completo apagão portuário em seis ou sete anos.

O que está em discussão não é apenas a mudança no regime de portos, mas nosso futuro econômico. E com atraso, pois essas mudanças deveriam ter ocorrido há décadas, se o interesse geral tivesse sido posto acima de tudo.

Apesar disso, os que se beneficiam do sistema atual não têm sequer constrangimento de vir a público protestar contra a mudança no sistema portuário e defender o que está aí.

Deveriam, isto sim, pedir desculpas ao povo brasileiro pelo estrago que fizeram até agora.

E sair em silêncio.

KÁTIA ABREU, 51, senadora (PSD/TO) e presidente da CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil), escreve aos sábados na Folha de S. Paulo.

Fonte: Assessoria de Comunicação CNA

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