Publicado em: 17/06/2022 às 12:50hs
Para especialistas em irrigação, o Brasil tem potencial para expandir a área irrigada sem comprometer os outros usos de recursos hídricos por meio de tecnologias. Atualmente o País tem 8,2 milhões de hectares irrigados com potencial para 55 milhões, apenas sobre áreas que já estão em uso.
O tema foi debatido na terça (14), durante as comemorações do Dia Nacional da Agricultura Irrigada, promovido pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA).
Durante a palestra “Irrigação e Segurança alimentar”, o pesquisador da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP), Alberto Barretto, explicou que o Brasil tem potencial para atender a demanda mundial por alimentos com a intensificação e a expansão sustentável da agricultura irrigada associada a outras estratégias como a conectividade rural.
Segundo ele, o agro brasileiro já evoluiu ao longo dos anos com uso de tecnologias, mas no país ainda existem dois grandes paradoxos que precisam ser enfrentados: a incorporação de terras e a segurança alimentar.
“Em poucos anos seremos a maior potência de produção agrícola mundial e ainda não conseguimos equalizar uma coisa tão básica e essencial que é a segurança alimentar do País. Então, para essas duas questões, a agricultura irrigada se encaixa como uma luva e entra como elemento estratégico”.
Barretto acredita que a segurança alimentar é multidimensional, transborda os limites do rural e tem a ver com a disponibilidade e utilização dos alimentos, pois ainda existem brasileiros em insegurança alimentar.
“A combinação equilibrada de disponibilidade, acesso e utilização dos alimentos é o que compõe a segurança alimentar. Não adianta ter disponibilidade e não ter renda ou ter renda e não saber utilizar esses alimentos para montar uma dieta que vai manter a segurança alimentar”.
Para ele, é possível aumentar a área irrigada, sem comprometer os outros usos em 26,7 milhões somente onde há agricultura. E se somar as áreas usadas com pastagens, e que apresentam disponibilidade hídrica, ele afirma que é possível dobrar esse número chegando a 53,4 milhões de hectares adicionais de área irrigada no País.
“Esse é um uso seguro e pode ser um estoque não só brasileiro, mas planetário. Porque para tratar a questão ambiental e segurança alimentar, a irrigação vem, primeiro, cumprir a missão de fazer uma fronteira agrícola onde já existe agropecuária. Inclusive, podemos pensar na irrigação como nossa última fronteira agrícola em que esses 53,4 milhões de hectares é o que temos para trabalhar nos próximos 30 anos.”
Frederico Cintra, coordenador Geral de Irrigação e Drenagem do Ministério da Agricultura, também destacou o papel da irrigação como uma das principais tecnologias e estratégias para o País avançar na segurança alimentar. Ele apresentou a proposta de criação do Programa Nacional de Agricultura Irrigada que o órgão está desenvolvendo.
“A irrigação permite a diversificação da produção, reduz os riscos dessa produção, diminui a pressão sobre novas fronteiras agrícolas e áreas de vegetação nativa, ajuda o produtor a se adaptar e mitigar os gases de efeito estufa frente às mudanças climáticas e traz desenvolvimento para região com geração de emprego e renda".
Segundo ele, a área irrigada no Brasil, que corresponde a 13,24% da área total agrícola, ainda é muito pequena em relação a países como China, Índia, Estados Unidos, Paquistão e Irã, mas tem potencial para expansão.
“Precisamos avançar muito no crescimento da nossa agricultura irrigada, temos avançado nos últimos anos, em torno de 250 mil hectares por ano, mas acredito que podemos crescer com maior celeridade. O programa vai fazer chegarmos lá, crescer 500 mil ha/ano e alcançar esse potencial”.
Ele pontuou alguns dos principais entraves para esse crescimento como burocracia nos processos de outorga, logística e infraestrutura inadequadas, baixa disponibilidade de carga e/ou distribuição de energia elétrica e governança insuficiente dos recursos hídricos.
“A CNA ajudou o Mapa a fazer a articulação junto aos agricultores irrigantes para que conseguíssemos diagnosticar melhor os principais entraves da irrigação no País”.
Cintra ressaltou que o programa terá vigência de 2022-2030 e incluirá ações para solucionar os entraves por meio da cooperação institucional, crédito e incentivos fiscais, pesquisa e uma comunicação estratégica para levar informação de qualidade à sociedade sobre a irrigação.
Rodrigo Mendes, coordenador de Polos e Projetos de Irrigação do Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR), apresentou outra iniciativa pública relacionada à irrigação.
Ele explicou como funciona o Programa dos Polos de Agricultura Irrigada do ministério que trabalha pequenos territórios em regiões estratégicas do País para identificar as demandas e elaborar soluções para os produtores locais.
“Os polos agricultura irrigada são uma estratégia de alavancar a irrigação a partir de um trabalho conjunto entre as organizações de produtores irrigantes e diversas esferas de governo,” disse.
Cada polo constrói uma carteira de projetos com as demandas e o comitê gestor do programa prioriza cinco ações para serem solucionadas. “Vamos às bases, questionamos os produtores e levantamos as demandas para sermos mais efetivos e assertivos nas ações”.
Segundo Mendes, atualmente apenas 3% da área irrigada é pública no Brasil e, por isso, “precisamos de uma atuação forte para fortalecer a estrutura de irrigação no governo e, para isso, é necessário o apoio privado para trazermos retorno às demandas do setor”, ressaltou.
O MDR tem hoje polos de irrigação na região do Oeste Baiano, Mato Grosso, Região do Vale Araguaia, Planalto Central de Goiás, Noroeste de Minas Gerais, Sudoeste Paulista, Noroeste do Rio Grande do Sul e Bacia do Rio Santa Maria, com potencial irrigável de mais de seis milhões de hectares, mas apenas um milhão é área irrigada.
Fonte: Assessoria de Comunicação CNA
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