Publicado em: 10/08/2012 às 08:00hs
O tema “alimento e energia”, sem dúvida, precisa ser debatido, mas acima de tudo precisa de um planejamento estratégico, já que os dois são fundamentais para a sociedade, apesar de parecer para alguns ditos ambientalistas ser possível viver sem a produção de alimentos e de energia.
A América do Sul está se tornando o celeiro do mundo, não pela sua produção - já que produz muito menos que os EUA e a China - mas pelo seu superávit, sendo assim produz muito mais do que consome, e o mais importante é o nosso potencial, já que nenhum país do mundo tem terra, água e clima capazes de responderem a crescente demanda.
Ficou claro no evento a importância do agronegócio, isto pontuado pelo presidente do BNDES, Luciano Coutinho, que frisou que a demanda é crescente e isto é uma oportunidade. Coutinho ainda apontou que o agronegócio brasileiro tem dado respostas, sendo que em 2011 a contribuição do agronegócio o PIB foi de 22,15%, quando o superávit alcançou R$ 77,5 bilhões em 2011.
Luciano Coutinho pontuou as oportunidades ao setor produtivo: temos uma demanda interna crescente, uma demanda mundial por proteínas em alta, grande expansão do uso de biocombustíveis, por exemplo. O presidente do BNDES disse que poucos setores da economia têm dado uma resposta tão rápida à demanda e demonstrado tamanha eficiência no aumento de produtividade.
Claro que o setor produtivo tem grandes desafios como: inovação e tecnologia, eficiência e produtividade, sustentabilidade e o uso da terra, P&D e qualificação, irrigação. Nestes temas o setor privado tem buscado se superar, resta ao governo também fazer a sua parte. Ficou claro no Congresso da Abag a necessidade do governo dar sustentação ao crescimento e aumento de produtividade do que é plantado, porém, também ficou evidente que o governo pouco tem feito.
Neste tema “alimentos e energia” é incontestável o papel do Brasil como protagonista, mas devemos aproveitar esta demanda crescente para fazer acordos de longo prazo, onde o Brasil deixa de ser um grande exportador de matéria-prima para exportar produtos com alto valor agregado, para tanto precisamos de uma política industrial que priorize a agregação de valor.
Como faremos para exportar carne ao invés de grãos? Sem dúvida este é um desafio,já que a transformação de soja e milho em carne agrega valor e gera muitos empregos e ganho de capital. Temos agora uma oportunidade gerada em função da crise na produção agravada principalmente pela seca nos EUA, e também pela demanda crescente para os próximos 20 anos. Afinal, a China em 2020 estará importando 100 milhões de toneladas de soja, então por que não negociar contratos de longo prazo para o fornecimento de carnes?
A cada ano estamos produzindo mais. O mundo produz hoje mais de 2,6 bilhões de toneladas de alimentos, mas há contra-senso, pois a cada ano aumenta o número de pessoas que passam fome. Enquanto escrevo este artigo 360 crianças morreram de fome, já que 12 crianças morrem por minuto no mundo por esse motivo. Ou seja, o desafio da humanidade é produzir mais e mais barato, e para que isto aconteça precisamos de políticas de resultado.
A Abag foi muito eficiente em discutir este tema, pontuando a importância de marcos legais como o ambiental, trabalhista, tributário, entre outros. O Brasil é um grande potencial na produção de alimentos e energia, porém, está tendo pouca eficiência na condução equilibrada destes setores, uma vez que em 2020 mais de 40% do etanol viram dos grãos no mundo, para tanto é importante termos um planejamento estratégico para regular a competição entre alimentos e energia, pois ela é real.
O Estado tem que ter um papel indutor de crescimento e também regulador. O Brasil está sendo ineficiente. As políticas públicas necessárias para a consolidação do Brasil como grande fornecedor têm sido muito tímidas e não conseguem de forma alguma acompanhar o empreendedorismo do produtor.
O governo brasileiro precisa de uma vez por todas fazer sua parte dando respostas com tecnologia e segurança jurídica à produção. O problema é que o Brasil comemora todos os indicadores da produção como um país capitalista, mas, por outro lado, no governo tem uma turma que não rema - ou rema para trás - e com isso o produtor para produzir tem que correr uma maratona de obstáculos, e cito com exemplo que hoje para se produzir são necessárias mais de 40 licenças. Afinal, o que o Brasil quer ser neste cenário de alimentos e energia: capitalista rico ou comunista pobre?
GLAUBER SILVEIRA é produtor rural, presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja Brasil) E-mail: glauber@aprosoja.com.br Twitter: @GlauberAprosoja.
Fonte: Assessoria de Comunicação Aprosoja Brasil
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