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BALANÇO SEMANAL CNC - 08 a 12/10/2012

No mercado, volta das chuvas pressiona as cotações do café nas bolsa


Publicado em: 11/10/2012 às 20:00hs

BALANÇO SEMANAL CNC - 08 a 12/10/2012

Em reunião, Conselho Diretor do CNC foca atenção em sustentabilidade, renovação do parque cafeeiro, substitutos para defensivos a serem retirados do mercado e políticas públicas para recomposição dos estoques; No mercado, volta das chuvas pressiona as cotações do café nas bolsas.

EFEITO ESTUFA E CRÉDITO DE CARBONO
— Iniciamos esta semana mais curta com a realização da Assembleia Geral Extraordinária e da reunião do Conselho Diretor do CNC, na segunda-feira (8), no município de Ribeirão Preto (SP). Mantendo nosso foco na produção cafeeira com sustentabilidade, convidamos o professor Carlos Clemente Cerri, da Universidade de São Paulo (USP), para ministrar palestra sobre “Efeito estufa e crédito de carbono”.

Entre os pontos levantados, o docente citou que a agricultura não teve amparo no Protocolo de Kyoto, cujo objetivo é estabelecer metas de redução na emissão de gases estufa na atmosfera, principalmente por parte dos países industrializados, além de criar formas de crescimento menos impactante para as nações em desenvolvimento.

Cerri destacou o aumento populacional superior a 27% nas duas últimas décadas, com o número de pessoas saltando de 5,5 bilhões para 7 bilhões no Planeta. Segundo ele, esse fator acarreta cada vez mais carros nas ruas e a necessidade de incremento da área destinada a plantios visando à alimentação, o que amplia os desmatamentos, o efeito estufa e o aquecimento global. O professor citou, ainda, que a estabilidade populacional deverá ocorrer apenas em 2100, quando o balanço entre nascimentos e mortes deverá nos conduzir a uma população de 10 bilhões de pessoas.

Na reunião de Kyoto, da qual surgiu o tratado em vigência, participaram 188 países, sendo 38 considerados industrializados e os 150 restantes subdesenvolvidos. O protocolo atual expira no final deste ano e um novo acordo ainda não foi definido pelas nações.

RENOVAÇÃO DO PARQUE CAFEEIRO
— Ainda em sua palestra, o professor Cerri explicou que a cafeicultura é uma importante ferramenta para que o mundo possa produzir de forma sustentável, sem exigir desmatamentos ou quaisquer outras ações que contribuam para o avanço do efeito estufa e do aquecimento global. Nesse sentido, os conselheiros diretores do CNC aprovaram nosso projeto de renovação e expansão do parque cafeeiro e autorizaram o envio dessas ideias ao Conselho Deliberativo da Política do Café (CDPC) para análise e votação.

É válido destacar que a Organização Internacional do Café (OIC) traçou três cenários futuros para o consumo mundial da bebida até 2020 e, mesmo no menos otimista, os níveis atuais de produção seriam insuficientes para suprir tal demanda. Além disso, a instituição destacou que o Brasil é o ator principal nesse prognóstico, sendo o único país capaz de responder ao incremento do consumo.

Nesse sentido, o CNC apresentará um projeto visando à substituição das lavouras antigas de nosso parque cafeeiro, que possuem espaçamentos entre árvores ultrapassado e níveis de produtividade muito aquém dos padrões mínimos da competitividade e da sustentabilidade. O intuito é renovar esses cafezais por variedades mais produtivas e resistentes a pragas, doenças, especificamente a ferrugem, e a adversidades climáticas, além de apurar novas áreas para o plantio.

Essa ação, contudo, não será feita de forma que se aumente desordenadamente a produção de café no Brasil. Levaremos uma proposta ao CDPC para que se defina e contrate uma empresa de consultoria especializada no setor, a qual realize um estudo de campo sobre os riscos da expansão dos plantios de café motivados pelos preços praticados nos últimos dois anos e, também, para ver quais áreas precisam ser substituídas, além, obviamente, do cronograma para os virtuais plantios e replantios.

Feito isso, teremos em mãos um estudo essencial para suprir a necessidade mundial de café, mantendo o equilíbrio entre oferta e demanda e não pressionando o mercado com sobreoferta. O CNC olha esse ponto com muita responsabilidade e pretende implantar programas que possibilitem, cada vez mais, a geração de renda ao cafeicultor brasileiro e, por conseguinte, mundial. Além disso, é válido salientar que essa medida vem ao encontro dos objetivos do plano plurianual traçado pelo governo em conjunto com o setor privado.

RETIRADA DE DEFENSIVOS DO MERCADO
— Pensando no aumento da produtividade de nossas lavouras, um ponto que preocupa é a retirada de circulação de insumos e fertilizantes agrícolas antes mesmo que haja um substituto para eles. É o que irá acontecer com o Endossulfan, único princípio ativo disponível para o combate à broca-do-café (Hypothenemus hampei), uma das principais pragas que ocorrem nesta cultura, cujo prejuízo maior é a depreciação do grão a ser comercializado. Especialistas apontam que, para cada 5% de frutos atacados até 1% dos grãos apresentará defeito, interferindo diretamente na qualidade da bebida e, consequentemente, no preço.

Atualmente, devido ao uso consagrado do Endosulfan, algumas regiões produtoras não reportam a existência da broca-do-café como um problema sério. Porém, o inseticida foi reavaliado pelas autoridades de Registro e Regulamentação, que decidiram pelo cancelamento de seu uso e comercialização a partir de 1º de janeiro de 2013. Essa medida, indubitavelmente, deixará os cafezais mais vulneráveis aos efeitos da broca, que poderá ter importante impacto negativo na produção. Além disso, o CNC tem grande preocupação com o café certificado do Brasil, haja vista que, a partir do primeiro dia do ano que vem, não mais poderão receber o Endossulfan, impactando diretamente na economia de mais de 35 mil produtores nacionais e gerando, possivelmente, substancial perda no volume do produto certificado e em todo o trabalho realizado até agora.

Por outro lado, o Conselho Nacional do Café e a Comissão Nacional do Café da CNA, comprometidos com a competitividade e a qualidade do café produzido e comercializado pelo Brasil, além de zelosos dos seus deveres e compromissos com o cafeicultor, tomaram conhecimento da existência de novo ingrediente ativo, o Cyantraniliprole, ainda em fase de registro, que poderá ser uma opção para substituir o Endosulfan.

Assim, diante dessa saída, ambas as instituições ratificam a importância do Cyantraniliprole no manejo da broca-do-café para a manutenção da qualidade dos grãos e solicitam ao governo a agilização do seu processo de registro, a fim de que o produtor tenha disponível alternativa eficaz que minimize as perdas ocasionadas pela saída do Endosulfan do mercado, além da manutenção da certificação daqueles cafeicultores mais tecnificados.

PROGRAMA DE OPÇÕES
— Os produtos agrícolas apresentam, nas últimas décadas, volatilidades cada vez mais intensas em seus preços e um exemplo recente disso pode ser notado nas cotações do milho e da soja e nos reflexos nocivos que geraram para as cadeias de aves, suínos e até mesmo na pecuária leiteira. No café, esse fato não é diferente, apenas os ciclos são mais longos e intensos pelo fato de ser uma cultura perene.

Levando isso em consideração, destacamos que, pela primeira vez em mais de um século, o Brasil caminha para o fim de seus estoques estratégicos de café e, por esta razão, o CNC entende ser importante que o Governo Federal aproveite o atual momento de queda de preços — baixa de aproximadamente 30% em relação há 12 meses, tanto na bolsa de Nova York, quanto no mercado interno — e promova a recomposição estratégica e gradual dos inventários.

Nesse sentido, o Conselho Diretor do CNC autorizou que façamos uma proposta para o Governo implementar um programa de Opções Públicas de Venda aos produtores de café para o armazenamento de até 6 milhões de sacas, tomando como base a variedade arábica, bebida dura para melhor, majoritariamente produzida nas regiões de montanha, onde se emprega o maior número de mão de obra nos cafezais — exercendo um importante papel social ao País — e onde também é mais acentuada a bienalidade da produção.

A safra média de arábica dessas regiões é de 12 milhões de sacas ao ano. Na eventual ocorrência de uma geada ou seca, adversidades climáticas a que estão sujeitas essas áreas, se admitirmos o potencial de perda de até 50%, a existência de um estoque de 6 milhões de sacas seria suficiente para manter o nível de suprimento demandado pelo mercado. Além disso, essa proposta não implica renúncia fiscal ou custos para as contas públicas, pois consideramos que uma possível aquisição é uma troca de ativos e não uma despesa. E não podemos esquecer, ainda, que este mesmo programa foi uma experiência muito bem sucedida no passado, com o Tesouro Nacional vendendo o produto adquirido, por meio de leilões, a preços superiores aos que teve no ato da aquisição.

ANÁLISE DE MERCADO — Os contratos futuros do café caíram de forma mais intensa, no acumulado desta semana, na Bolsa de Nova York (ICE Futures US). As cotações alcançaram os valores mais baixos em um mês, sendo pressionadas pelas chuvas que voltaram às regiões cafeeiras e afastaram, na percepção do mercado, o risco de perdas mais significativas nas floradas do Brasil para a safra 2013.

Sempre que se especula sobre problemas climáticos e a insegurança se desfaz, ao menos no sentimento mercadológico, ocorre uma pesada realização, acionando também vendas especulativas a descoberto. E isso foi o que ocorreu nesta semana. O momento seguinte, que deve se iniciar nos próximos dias, é de avaliações de potencial de produção e disponibilidade do produto.

Ainda no mercado, também é costume assistirmos, sempre nas primeiras avaliações, exageros por parte dos agentes interessados na baixa das cotações. Porém, a partir do mês de novembro, começa a ficar mais claro o que realmente “vingou” em termos de florada nas plantas, dando uma visão mais clara da realidade. A partir daí, os agentes voltam a se posicionar mais em relação aos fundamentos, que sabemos são positivos e devem permitir a recuperação dos preços.

Entre esses fatores fundamentais, destacamos alguns abaixo:

- Em 2013, a safra brasileira será menor dentro do ciclo bienal das lavouras de arábica.

- Os estoques de café no exterior ainda estão reduzidos. Conforme dados da Federação Europeia de Café, os inventários no Velho Continente cresceram tímidos 3% em agosto, o que indica uma necessidade de compra mais vigorosa por parte das indústrias nos próximos meses para retomarem seus níveis normais de trabalho, já que a época de maior consumo também se avizinha com a aproximação do inverno no Hemisfério Norte.

- O consumo mundial continua aquecido.

- A produtividade média das plantas já teve sua curva de ascensão mais acentuada em função da retomada dos preços. Daqui para frente, o aumento de produtividade tende a ter respostas menores em relação à alta nas cotações.

Outro fator positivo é a excelente administração da oferta que vem sendo feita pelos produtores brasileiros. De acordo com o presidente da Federação dos Cafeicultores do Cerrado, Francisco Sérgio de Assis, em entrevista concedida à Safras, a comercialização do café colhido neste ano, no Cerrado Mineiro, está entre 40% e 45% do total. De 2011, ele acredita que restem, no máximo, 2% a serem negociados na região.

Assis destaca que o movimento de vendas neste momento é bem dosado, com as recentes quedas tendo travado as negociações. Entretanto, quando Nova York apresenta alta, o produtor tem aproveitado para vender mais e a movimentação melhora bem. Pelo volume de café da safra colhida já negociado, a tendência é que o Brasil entre na próxima temporada, de ciclo menor, com baixo volume remanescente de 2012.

Na mesma linha de ação, estão os produtores de Franca, na Mogiana Paulista. De acordo com Anselmo Magno de Paula, gerente de café da Cocapec, os preços na região estão em torno de R$ 385/saca. "O produtor está capitalizado e vende só o estritamente necessário, com as vendas devendo ser retomadas apenas quando os preços voltarem a ficar ao redor de R$ 400. A tendência é que as vendas continuem escalonadas e que o produtor não ceda às pressões de venda nesse momento”, conclui.

Dentro desse contexto, mantemos a recomendação que temos feito desde o início da safra. Isto é, o produtor precisa ter cautela na venda, evitando momentos de realizações de mercado para negociar. Comercializando de forma dosada, nas altas, registraremos uma boa média de preço e teremos pouco volume de café remanescente para a safra futura.

Fonte: Assessoria de comunicação - CNC

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