Publicado em: 15/08/2014 às 00:00hs
Roberto Aschenberger: Consultor
Por: Guia Marítimo
Que o Brasil vive gargalos gigantes, nós já sabemos. Porém, mudanças precisam ser feitas: melhores acessos a portos, melhores rodovias, mais interesse do governo e mais investimentos. Ações essas que possam ajudar no desenvolvimento dos setores, como por exemplo o de frutas que vive entraves não só no modal marítimo mas como também no aéreo, além de dificuldades estruturais para o armazenamento da carga. “Faltam acessos adequados para os portos, os caminhões são obrigados a atravessar a cidade toda para poder chegar ao porto, muitas vezes os portos estão congestionados, não tem espaço para caminhão fazer descarga. No caso do transporte aéreo um grande entrave é o fato de que os aeroportos brasileiros, com exceção de Petrolina, não têm câmaras frigoríficas e isso onera muito o exportador”, explica o consultor Roberto Aschenberger.
Promovendo análisesde mercado na área de exportação de produtos refrigeradosatravés da Aschenberger Consultoria, o perito e administrador foi membro do Conselho de Usuários do Porto de Salvador e de Aratu e do Conselho Consultivo/Fiscal do Centro Nacional de Navegação Transatlântica. Em entrevista exclusiva ao Guia Marítimo, Aschenberger fala sobre o cenário do mercado de frutas, os entraves vividos, as mudanças e as perspectivas do setor.
Segundo ele, o mercado está estável com uma pequena tendência de aumento compatível com cada fruta que possui um cenário diferente. No que tange ao mercado, a Aschenberger Consultoria acompanhou o volume exportado no ano passado que registrou nas exportações de banana (todos em contêiner de 40 pés) 2.403 mil contêineres, na maça 4 mil contêineres e o no papaia 215 contêineres. “Os volumes exportados são muito pequenos em relação aquilo que é plantado, que não deve chegar a 10% daquilo que é produzido”.
Para o consultor, precisamos de união entre os produtores e exportadores para levar assuntos importantes ao governo, principalmente uma atenção na frutiucultura, que segundo ele, é muito pequena representando apenas 3% do total exportado. “Precisamos sensibilizar o governo para que a gente tenha mais facilidade e possa conseguir melhores resultados pois nós temos condições de exportar mais”.
Aschenberger ressalta ainda que o mercado é extremamente importante “porque a fruta é mão de obra intensiva e dá emprego para muita gente”. Além disso ele fala sobre a expectativa do mercado de frutas para o ano de 2014 que ele acredita que se mantenha estável.
Guia Marítimo – Como está o mercado de exportação de frutas hoje?
Roberto Aschenberger – Ele está mais ou menos estável com uma pequena tendência de aumento. Cada fruta tem um cenário diferente então se você for ver por exemplo, a manga teve um pequeno aumento, o limão está estável, o melão teve uma pequena queda. A maça ano passado teve por volta de 4 mil contêineres, e esse ano uma queda assustadora por questões climáticas. Em 2014 um grande transportador deve parar de produzir bananas e o volume deve cair bastante no segundo semestre. Mas a gente não sabe como vai ser o futuro por causa da falta de água na região, então existem algumas incógnitas.
GM – Quais são essas incógnitas?
RA – É que depende muito de ter chuva, tem regiões que são mais afetadas que outras, então você tem represas que tem um determinado volume de água. Por exemplo, para o melão a questão de água é mais séria que para a manga, mesmo todos funcionando com método de irrigação. A região de Petrolina e Juazeiro, onde tem manga, os reservatórios estão normais, talvez um pouco em baixa, mas não tem problema por enquanto. Agora no sul, tem região que está crítica, como o Cantareira e para o melão também não está bom e a safra dele terminou, então a falta de água não vai comprometer nada por enquanto. A nova safra de melão começa em agosto, e normalmente é de agosto a março.
GM – Qual a movimentação desse mercado hoje?
RA – Nós acompanhamos o volume exportado de 2013 e essas exportações foram todas em contêiner de 40 pés, a banana o ano passado foram 2.403 contêineres. A banana é a fruta mais plantada então o volume dela é absurdamente grande, mas quando compramos aquilo que foi produzido e aquilo que foi exportado, o que foi exportado é na realidade como se fosse a ponta do iceberg. Ou seja, os volumes exportados são muito pequenos em relação aquilo que é plantado, que não deve chegar a 10% daquilo que é produzido.
GM – Porque isso acontece?
RA – Porque nossa fruta é cara e ela tem um custo alto de produção por força de mão de obra, de alguns insumos que são importados como os defensivos e até mesmo fertilizantes. Por esse motivo, as nossas frutas sendo mais caras do que países concorrentes a gente acaba fazendo a nossa exportação em janelas de outros países. Por exemplo, a manga vai para os EUA, mas 90 % do consumo de manga deles é suprido pelo México que está do lado dos EUA. Ou seja, a manga vai de caminhão, a nossa vai de navio. A nossa fruta como um todo é de excelente qualidade, comparando com frutas de outros países, a nossa manga é muito boa em relação a com a manga mexicana, por exemplo, mas o custo é muito mais alto, de modo que a gente só consegue vender no mercado americano a fruta brasileira quando ocorre o término da safra mexicana, aí é que vai a manga brasileira. Da mesma forma tem acontecido com a uva, nós vendemos uva na Europa quando está terminando as safras da Grécia e da Espanha. Só que agora a Espanha e os EUA desenvolveram variedades que produzem fora da época, ou seja, estende-se a produção, e a janela que tinha para a nossa uva diminui, então temos um tempo menor para comercializar nossa safra lá fora. Nós acabamos exportando menos ainda. De um modo geral, a uva é produzida no Vale do São Francisco e era concentrada de abril a junho e de setembro a dezembro, sendo que o volume do segundo semestre sempre foi um volume bem mais alto. Com essas questões de uvas, de novas variedades que produzem tardiamente tanto nos EUA quanto na Europa, a gente teve que diminuir a nossa exportação para esses países, os produtores passaram a produzir não mais apenas dois períodos no ano, mais sim o ano todo. Porque ai vende para o mercado interno, mercado esse que está bem aquecido, então isso está favorecendo muito a venda para esse mercado em detrimento a exportação.
GM – As chuvas atrapalham esse processo?
RA – Sim, nesse primeiro semestre houve muita perda de produção por conta de chuvas. A chuva atrapalha o plantio, as uvas, por exemplo, são produzidas por irrigação, então você dosa a quantidade necessária para a fruta, quando chove acaba entrando mais água na fruta do que deve, e muitas vezes a baga de uva, no caso, fica aguada.
GM – Alguma fruta em especial tem perspectiva de crescimento?
RA – O papaia é uma fruta que tem grandes chances de aumento de exportação, só que ele é transportado diferentemente de outras frutas, porque a uva, a maior parte da manga, o melão e o limão, são exportados em navio, com exceção do papaia que tem sua maior parte transportada em avião. Porque talvez seja uma das frutas mais perecíveis que tenha, então o tempo de viagem de navio em relação ao aéreo obviamente é uma diferença bem grande. O papaia no ano passado no transporte por navio teve 215 contêineres somente e de avião foi em tonelagem proporcional como se fosse transportar por navio 1.400 contêineres. Ou seja, o que foi de navio foi só 15% do total.
GM – Quais são os entraves vividos por essas frutas no transporte aéreo?
RA – Um grande entrave é o fato de que os aeroportos brasileiros, com exceção de Petrolina, não têm câmaras frigoríficas e isso onera muito o exportador. Porque a fruta vai até o aeroporto em caminhão frigorífico e ele tem duas opções, ou larga a fruta no aeroporto ao tempo, perdendo o frio, ou então ele espera o avião sair com a fruta dentro do caminhão frigorífico.
Fonte: Guia Marítimo
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