Publicado em: 11/05/2011 às 16:36hs
É incontestável a importância do mercado chinês para a economia de Mato Grosso e do Brasil. Com uma taxa média de crescimento de 9,2% ao ano, a China responde hoje por 62% das compras de soja mato-grossense em grão. Em relação ao Brasil, o percentual é maior: 65% da soja em grão brasileira são vendidos para os chineses. Em 2010, a China representou o maior mercado do complexo soja com US$ 8 bilhões, superando pela primeira vez a União Europeia.
E a tendência é de que as relações entre Brasil, mais especificamente Mato Grosso, e China continuem se ampliando. Em primeiro lugar, pelo crescimento da demanda por alimentos impulsionada pela urbanização e melhoria de renda da população. A China é o país mais populoso do mundo, e a projeção é de que chegue a 2050 na segunda colocação, atrás apenas da Índia.
Enquanto o Brasil teve seu Produto Interno Bruto (PIB) per capita ampliado em duas vezes de 1990 a 2010, a China viu seu PIB per capita crescer nove vezes no mesmo período. Os dados sobre o consumo de alimentos pelos chineses apontam que, de 2010 a 2015, o consumo de carne (suínos, aves e bovinos) cresça em torno de 3% ao ano, sendo que o incremento no que se refere a leite supera os 8% ao ano no mesmo período.
Outro dado importante é que, atualmente, o uso de ração animal – incluindo a soja em sua composição – está presente em apenas 25% do mercado. Isso significa que será necessário investir em mais tecnologia de produção, o que levará, entre outras ações, à adoção da ração balanceada para os animais. A inexistência de potencial para abertura ou conversão de áreas para a atividade agrícola na China também deve ser considerada. Hoje há 130 milhões de hectares destinados à agricultura - 12,7% do território nacional.
A estratégia para os próximos anos será o investimento em produção agrícola com mais valor agregado, como frutas e vegetais, face às dificuldades naturais existentes (clima, solo, condições hidrográficas). Paralelo a isso, o governo chinês vem apostando alto na industrialização do país, que conta com uma mão-de-obra volumosa e barata. Assim, uma das investidas é a compra em grande escala de matérias-primas no formato in natura para seu posterior processamento.
É por isso que, hoje, o comércio da China com o Brasil está basicamente ancorado na venda da soja in natura. A compra da soja processada impacta em suas estratégias de desenvolvimento do mercado interno. Esse é exatamente o ponto mais importante a se observar.
Qual posição deve tomar o Brasil nesse cenário? Atender a uma demanda em linha ascendente e meteórica por sua soja em grão? Ou, numa posição nacionalista e desenvolvimentista, definir uma estratégia de negócios tendo como premissa que é fundamental para brasileiros e brasileiras que, mais do que matérias-primas, possamos comercializar também produtos com maior valor agregado, como óleo e farelo de soja, ou mesmo ração animal?
Defendo que o poder público brasileiro incentive a produção industrial nacional. Precisamos dos empregos que a indústria gera, precisamos do valor a mais que o produto industrializado ajuda a inserir no mercado. Nosso próximo salto é garantir o surgimento de um parque industrial que possa dar vazão à produção primária tão rica que o Brasil tem. O desafio é articular de forma sábia e diplomática a demanda chinesa pela soja in natura com os próprios interesses nacionais e estratégicos do Brasil.
Não se trata de criar barreiras para o comércio entre países. Entendemos que a rota mais indicada é a adoção de uma política de redução de impostos e do estabelecimento de leis de incentivos para a indústria. O que esperamos é construir uma política inteligente para dar vazão ao potencial produtivo brasileiro, sem deixar de atender a demanda internacional por alimentos, e, ao mesmo tempo, garantindo o desenvolvimento e a melhoria na qualidade de vida dos brasileiros.
Glauber Silveira é presidente da Aprosoja/MT e da Aprosoja Brasil
Fonte: Assessoria de Comunicação Aprosoja
◄ Leia outros artigos