Publicado em: 15/05/2019 às 00:00hs
As mulheres ficaram durante muitos anos relegadas ao papel de mãe e esposa. A partir da década de 1960 iniciaram um processo de luta por igualdade de direitos, permitindo a consolidação da imagem de profissionais competentes, e com qualidades tais que garantam o gerenciamento eficaz de organizações de diversos perfis. Suas conquistas aconteceram por meio de um processo longo e lento que se estende até os dias atuais.
Muitas mulheres marcaram época no cenário mundial ao longo da história. E mesmo nos dias de hoje, apesar de as mulheres ocuparem cargos de alto padrão como a presidência da República e de movimentos vinculados a igualdade de gêneros ganhar força, as mudanças no cenário econômico e corporativo existem, ainda que de forma sutil e discreta.
A exemplo do cenário global, as empresas familiares começaram a apresentar maior destaque para a gestão das herdeiras, que por anos não puderam assumir as organizações que seus pais criaram. Este era um espaço ocupado pelos filhos.
As empresas familiares no Brasil possuem uma vasta história, talvez tão extensa quanto a do próprio país, já que o início foi marcado pelas empresas rurais adquiridas por doação dos senhores feudais, em uma época onde subdividiam-se as capitanias hereditárias, antes do nascimento da indústria.
Contudo, o aparecimento da presença feminina na sucessão de uma organização de natureza familiar é algo recente.
As empresas familiares são uma das principais fontes geradoras de postos de trabalho do país, com dois milhões de empregos diretos e participação significativa no PIB brasileiro (segundo o BNDES as empresas familiares representam 34% da indústria). As mulheres começaram a entrar na posição de sucessoras como herdeiras dirigentes há apenas 15 anos.
Um dos principais problemas em uma organização familiar é o processo sucessório, a transição entre o pai (fundador) à segunda geração, normalmente porque o patriarca tem por objetivo a perpetuação do seu negócio, ao qual se dedicou dias e noites durante a maior parte da sua vida.
O fundador não quer que sua empresa venha a desaparecer após a sua morte. Seu sonho é que haja uma fonte de sustento para as gerações que virão, e que este seja o legado que ele deixará para os seus.
O problema maior da sucessão ocorre quando o sonho do fundador não é o mesmo sonho do filho (herdeiro), mas e se o sonho do pai for o mesmo sonho da herdeira?
O fator mais importante para que isso ocorra é acreditar no potencial e na capacidade das herdeiras no processo de sucessão familiar.
Hoje as filhas estão sendo qualificadas e preparadas, e por terem uma maior afinidade e proximidade com o fundador, acabam por assumir muito facilmente a cultura da gestão, entendendo o modelo de liderança e sua importância no processo de perpetuação da empresa. Tem mais tato e sensibilidade para lidar com os problemas de divergências familiares.
Os aspectos positivos que uma alma feminina pode oferecer na gestão de uma empresa familiar estão calcados no fato da sucessora ter, muito frequentemente, a imagem do pai como o herói de sua vida.
Na empresa ela consegue gerir com uma destreza maior, pois assimila perfeitamente os valores que sustentam a empresa.
Entende o poder da credibilidade e da palavra, por ter uma convivência maior com o fundador, além da intuição e sensibilidade para tomar decisões.
As herdeiras, assim como qualquer mulher inserida no mercado de trabalho, encontrarão barreiras e obstáculos no trajeto do sucesso profissional, entre esses empecilhos estarão presentes a dúvida de como se comportar, já que aspectos sociais e culturais remetem ao estereótipo masculino como líderes corporativos, além dos conflitos entre os papéis corporativos e relacionamento interpessoais.
Pesquisa realizada demonstra que apenas 27% das mulheres esperavam entrar no negócio da família. Entre as razões que elas deram para ingressar na empresa estão: ajudar a família, ocupar uma posição que ninguém deseja e insatisfação com o outro emprego.
Outro fator constatado é que as mulheres pesquisadas não haviam planejado seu ingresso nas empresas familiares, entrando na organização apenas para apoiar a família durante uma crise, ou porque as outras opções no mercado eram ainda mais indesejáveis.
A sucessão familiar deve ser planejada com antecedência na presença do fundador, pois ninguém melhor que ele para transmitir os valores e a cultura da instituição, bem como todo o conhecimento, caso a herdeira necessite enfrentar momentos de crises, doenças ou até mesmo a morte do criador da organização, o que poderia abalar o equilíbrio do negócio familiar.
Garantir a perpetuação dessas bases, transmitindo-as aos sucessores, é o principal meio para perpetuar os negócios de família, sendo este o sonho do fundador. Atualmente, as sucessoras podem realizar este sonho com competência e determinação.
Domingos Ricca - Especialista em governança corporativa e sucessão familiar, sócio da Ricca & Associados (ricca@empresafamiliar.com.br)
Fonte: Ricca & Associados
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