Gestão

Agroecologia e Adubação Orgânica: Alternativa Econômica e Ecológica


Publicado em: 13/05/2009 às 18:07hs

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No Brasil, e em todo o mundo, desde meados do ano anterior, a preocupação está voltada para a crise financeira americana, que trouxe reflexos na economia de todos os países do Planeta. Contudo, a questão ambiental, que deveria ser a prioridade dado o atual estado de degradação e por ser a fonte de todos os recursos utilizados nos processos produtivos, vem sendo relegada ao segundo plano. Na prática, o antigo discurso da necessidade de crescimento econômico para a geração de emprego e renda acaba prevalecendo. Ou seja, continua vigorando a visão imediatista, de curtíssimo prazo, cujos resultados finais são conhecidos e previsíveis. De fato, a economia global está perdendo mais dinheiro com a destruição dos recursos naturais do que com a atual crise financeira global, segundo conclusões de um estudo financiado pela União Européia.

Segundo dados dessa pesquisa, intitulada “A Economia dos Ecossistemas e Biodiversidade”, calcula-se que os desperdícios anuais, apenas com o desmatamento, variam de US$ 2 trilhões a US$ 5 trilhões. O número inclui o valor de vários serviços oferecidos pelas florestas, como água limpa e a absorção do dióxido de carbono. O estudo foi discutido durante várias sessões do Congresso Mundial de Conservação, realizado em Barcelona. De acordo com o coordenador do relatório, Pava Sukhdev, o custo resultante da degradação da natureza ultrapassa o dos mercados financeiros globais. Cabe ainda uma consideração sobre os custos ambientais: pelo fato de serem contínuos, seus reflexos no longo prazo serão ainda maiores e de difícil quantificação.

De fato, o desconhecimento dos profissionais da área econômica sobre conceitos básicos de ecologia e de economia dos recursos naturais e renováveis, os impedem de perceber que existem limites ao crescimento. Sabe-se que qualquer atividade antrópica é capaz de gerar algum tipo de impacto. O homem, na ânsia de sucesso e maximização de suas atividades, força o ambiente a realizar um esforço amplificador a fim de produzir um determinado resultado desejado; contudo, os ecossistemas têm sua capacidade de suporte e de regeneração que dependerá da sua resistência e da sua resiliência. Ocorrido um estresse, caso seja ultrapassado o seu limite, podem-se criar efeitos secundários que acabam reduzindo o ritmo e as chances de sucesso que uma determinada atividade vinha alcançando. Como consequência, ocorre que depois de uma expansão inicial, o crescimento se torna uniforme e com o tempo pode ficar tão lento que a espiral de reforço pode se inverter. Percebe-se então, que o importante é não forçar o crescimento, mas sim conhecer o ambiente e conviver dentro da possibilidade e dos fatores que o limitam.

Por estas questões, a idéia de objetivar o desenvolvimento sustentável, manifestado enfaticamente a partir do início dos anos da década de 1990, revela a crescente insatisfação com a situação criada e imposta pelos modelos vigentes de desenvolvimento e de produção das atividades humanas. Resulta de emergentes pressões sociais pelo estabelecimento de uma maior eqüidade social. Na elaboração da Agenda 21 Brasileira, foi considerada fundamental que se promova à substituição progressiva dos sistemas simplificados, como aqueles praticados pela agricultura convencional, por sistemas diversificados que integrem os sistemas produtivos aos ecossistemas naturais.

Contudo, percebe-se que as propriedades rurais, a indústria, o comércio e as diversas comunidades, não estão aproveitando efetivamente os seus recursos, que incluem seu potencial de transformação dos produtos agropecuários, da matéria-prima florestal e agroflorestal, e da administração de seus resíduos gerados durante os processos produtivos, urbanos e rurais, em produtos de maior valor agregado. Dessa forma, a tão discutida retomada do crescimento, intensamente discutida nos dias atuais, não é suficiente para a solução dos diversos problemas e não é a melhor alternativa para se chegar ao desenvolvimento sustentável. É necessário que haja, paralelamente à transformação da estrutura produtiva que garanta a recuperação do dinamismo econômico, políticas que promovam uma maior eqüidade social e estimulem o uso racional dos recursos naturais.

Considerando a atual crise econômica e ambiental que o mundo vem enfrentando, há necessidade urgente de buscarmos tecnologias mais limpas, menos agressivas, visando o uso de recursos naturais de forma racional a fim de garantirmos sustentabilidade às presentes e futuras gerações. É neste cenário mundial que a Agroecologia tem dado importante contribuição, pois nos remetem a estilos de agricultura menos agressivos ao meio ambiente; que promove a inclusão social de forma justa e igualitária; proporciona condições econômicas viáveis aos agricultores; respeito à cultura de seus antepassados, ao conhecimento local; ecologicamente proporciona melhor equilíbrio entre nutrientes – solo – água - planta; estabelece uma relação de harmonia entre homem e natureza; defende uma agricultura que não destrói o meio ambiente e não é excludente. Esta ciência apresenta a idéia e a expectativa de uma nova agricultura capaz de fazer bem ao homem e ao meio ambiente. Uma de suas alternativas é a técnica da agricultura orgânica.

De fato, esse tipo de agricultura utiliza como estratégia o uso de antigas práticas agrícolas, porém adaptando-as às mais modernas tecnologias de produção agropecuária com o objetivo de aumentar a produtividade e causar o mínimo de interferência nos ecossistemas, objetivando ser uma das alternativas para viabilizar a agricultura familiar. Trata-se de uma técnica ecológica, pouco onerosa, capaz de produzir alimentos saudáveis tais como os convencionais, garantindo excelente qualidade de vida aos seus consumidores, além destes contribuírem fortemente para a preservação e conservação ambiental.

Apesar da maioria da população reconhecer os benefícios que os produtos orgânicos trazem ao homem, poucas pessoas conseguem ter acessá-los, sendo consumidos somente por aquelas de maior poder aquisitivo. É neste contexto que a adubação orgânica obtém técnicas que possibilita aumentos de produtividades em larga escala competitivas com a agricultura convencional. Um dos métodos para a obtenção de adubos orgânicos é por intermédio da compostagem.

Tal processo de transformação de resíduos orgânicos em fertilizantes orgânicos humificados, pode utilizar como matéria-prima frutas, legumes, verduras, borra de café, casca de arroz e de árvores, serragem, lodo de esgoto, esterco bovino, lixo domiciliar cru, cama animal, palhada, resíduos industriais e outros. Geralmente, utiliza-se o material que se encontra disponível na propriedade ou região a fim de reduzir os custos de produção. Existem critérios essenciais que devem ser observados durante o processo de compostagem em leiras, tais como: tempo de compostagem, aeração, irrigação, temperatura, aquecimento, umidade e revolvimento. Este processo se dá devido à ação benéfica dos microrganismos (bactérias, fungos, etc.) presentes no solo e na matéria-prima.

Na compostagem, a relação C/N ideal é em torno de 30/1 e indica quando a matéria orgânica se encontra crua, bioestabilizada (semicurada) e humificada (curada). São inúmeros os benefícios que os compostos orgânicos podem proporcionar ao solo: melhorias nas suas propriedades físicas, químicas e biológicas; liberação gradual de nutrientes; elevação no teor de matéria orgânica; melhoria na infiltração da água; aumento na capacidade de troca de cátions e o efeito tampão. A agricultura orgânica pode contribuir decisivamente para o desafio dos tempos atuais, relacionados à sustentabilidade dos recursos naturais restantes, garantindo sobrevivência sócio-econômica e ambiental às gerações presentes e vindouras.

Maurício Novaes Souza - Engenheiro Agrônomo, Mestre em Recuperação de Áreas Degradadas e Gestão Ambiental e Doutor em Engenharia de Água e Solo pela Universidade Federal de Viçosa (UFV). É professor do IFET/Rio Pomba, coordenador dos cursos Técnico em Meio Ambiente, EAD em Gestão Ambiental e Pós-graduação em Agroecologia e Desenvolvimento Sustentável. É Conselheiro do COPAM e consultor do IBAMA. E-mail: mauriciosnovaes@yahoo.com.br.

Silvane de Almeida Campos - Técnica em Meio Ambiente e graduanda do Curso de Bacharel em Agroecologia do IFET/RIO POMBA. E-mail: silvaneacampos@yahoo.com.br.

Fonte: Maurício Novaes Souza - Professor IFET - Rio Pomba

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