Gestão

A produtividade do MST

Meu pai era produtor rural e desde pequeno aprendi que produtividade nem sempre rima com lucratividade


Publicado em: 20/10/2009 às 18:58hs

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Meu pai era produtor rural e desde pequeno aprendi que produtividade nem sempre rima com lucratividade. Entendi muito cedo que é, por vezes, mais interessante produzir menos para ganhar mais, reduzindo o uso dos insumos de produção e optando, consequentemente, por uma produtividade menor. Sei, desde cedo, que o que importa mesmo ao produtor rural é o dinheiro que sobra no final da safra e não quantas toneladas colheu por hectare. De que serve ser campeão de produtividade, gastando os tufos com fertilizantes e pesticidas, se o resultado final é lucro negativo ou próximo disso?

Não basta o agricultor querer altas produtividades utilizando grandes quantidades de insumos, pois quem mais influencia a produtividade é o regime de chuvas. O produtor poderá colher mais em ano de clima favorável usando poucos insumos, do que usando muitos insumos, em ano de clima desfavorável. Alta produtividade não se consegue, infelizmente, apenas com a utilização de modernas técnicas de produção. Mais importante do que a tecnologia é o clima e clima não se controla, nem por decreto.

Não acredito que algum brasileiro tenha dúvidas sobre a disposição e a capacidade do nosso produtor rural de aumentar a produtividade da sua terra utilizando mais tecnologia, se isto significar mais lucro. Prova disso foi o incremento no uso de fertilizantes observado em anos recentes, quando o mercado esteve favorável para o campo.

O agricultor brasileiro que sobreviveu às grandes mudanças acontecidas no campo no correr das últimas quatro décadas é um vitorioso. Sobreviveu porque soube servir-se das modernas técnicas de produção e quando o clima não atrapalhou, produziu muito bem, obrigado. Os que não souberam acompanhar essas mudanças, já não mais são produtores rurais; são cidadãos urbanos marginalizados. Habitam a periferia das nossas cidades e constituem mão de obra desqualificada e, portanto, mal paga. Muitos dos Sem Terra que hoje reivindicam terra para produzir, nada mais são do que ex-produtores que não souberam acompanhar os desenvolvimentos e foram banidos pelo mercado, que não tolera incompetência. Conseguirão isto agora?

Produzir bem, já não é mais suficiente para sobreviver no campo. Ademais de dominar as tecnologias de produção, o agricultor moderno precisa, também, dominar as tecnologias de gestão, pois hoje pode ser mais importante para se ter renda, saber como vender bem a produção e comprar bem os insumos, do que ter alta produtividade.

Como deveríamos interpretar a recente medida proposta pelo MDA sobre aumento da produtividade média ou confisco da terra “improdutiva”? Será possível que todos os envolvidos nessa proposta de alteração dos índices de produtividade desconhecem o dilema que nosso produtor enfrenta a cada nova safra sobre ter lucro e/ou alta produtividade?

A propósito, qual é mesmo a produtividade média dos assentados do MST? A conferir, porque talvez estejam ali os primeiros candidatos à desapropriação, pelos novos critérios do MDA.

Engº Agrº Amélio Dall’Agnol
Pesquisador da Embrapa Soja

Fonte: Embrapa Soja

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