Publicado em: 25/09/2024 às 11:45hs
De janeiro a 18 de setembro, o Corpo de Bombeiros de Minas Gerais registrou 24.475 ocorrências de incêndios. Somente nos meses de julho e agosto, foram contabilizados 4.539 e 6.102 registros, respectivamente, correspondendo a 43,47% do total.
No mês passado, a Região Central, o Sul do estado e a Zona da Mata apresentaram ocorrências isoladas, enquanto o Triângulo Mineiro concentrou a maioria dos focos de incêndio. Naquela região, os produtores de cana-de-açúcar enfrentam perdas estimadas em pelo menos R$ 180 milhões, agravadas pela longa estiagem.
Um levantamento realizado pela Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural de Minas Gerais (Emater-MG) indicou que, em agosto, 84.483 hectares de áreas rurais foram afetados pelas queimadas, distribuídos da seguinte maneira: 34,1% de pastagens, 29,3% de matas nativas, 27,9% de cana-de-açúcar, 4% de florestas plantadas, 0,8% de plantas forrageiras perenes, 0,7% de agroextrativismo e 2,7% de outras culturas. No caso da cana, mais de 23,5 mil hectares foram consumidos pelo fogo, o que representa 2,76% da área cultivada no estado. A assessoria da Emater informou que ainda está em processo de análise o impacto sobre as culturas dos produtores assistidos pela empresa em suas 32 regionais.
A Associação das Indústrias Sucroenergéticas de Minas Gerais (Siamig) revelou que, entre a segunda quinzena de julho e a primeira semana de setembro, cerca de 45 mil hectares de plantações de cana na região do Triângulo Mineiro, responsável por 78% da produção de cana-de-açúcar no estado, foram queimados. Dentre essas áreas, 30 mil hectares eram de cana a ser colhida. O setor estima um prejuízo inicial de R$ 180 milhões, embora esse número possa ser ainda maior. O presidente da Siamig Bioenergia, Mário Campos, alertou que muitos desses locais precisarão ser replantados, o que envolve custos de R$ 13 mil a R$ 14 mil por hectare. Além disso, os investimentos realizados em herbicidas e fertilizantes nas áreas atingidas foram perdidos.
“É difícil prever o impacto para o consumidor, mas a perspectiva para a próxima safra é de uma redução na produção estadual, o que deve afetar a produção de açúcar e etanol. Em relação aos preços, ainda não conseguimos fazer uma projeção, precisamos observar como o mercado reagirá”, conclui Campos.
O produtor Thiago Rocha Xavier, proprietário da Fazenda Santa Maria em Campo Florido, no Triângulo Mineiro, está entre os afetados pelos incêndios. Ele relatou que, nos últimos dias, cerca de 180 hectares de palhada e 80 hectares de canavial foram atingidos. “Após mais de 150 dias sem chuvas, os canaviais de fim de safra não alcançarão a produtividade esperada, resultando em uma queda de 10% a 15%”, afirma Thiago, que emprega 38 colaboradores e direciona sua produção para uma usina de beneficiamento local. Sua propriedade abrange 1.048 hectares dedicados à cana-de-açúcar e 240 hectares a cereais.
Além das perdas diretas, Thiago menciona dificuldades adicionais, como a perda da proteção do solo, da matéria orgânica e de microrganismos benéficos, essenciais para a cultura. “A eliminação de insetos fundamentais para o controle natural de pragas e os impactos ambientais também são preocupantes”, complementa.
A Federação da Agricultura e Pecuária de Minas Gerais (Faemg) indicou na última sexta-feira uma possível queda de 23% na safra de café arábica em 2024, com base em uma pesquisa realizada com 1.706 produtores. A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) também previu que Minas Gerais colherá 27,69 milhões de sacas dessa variedade, uma redução de 3,4% em comparação com a safra anterior. Segundo a Conab, essa diminuição se deve às estiagens e altas temperaturas durante o ciclo reprodutivo das lavouras, agravadas a partir de abril, quando as chuvas praticamente cessaram no estado.
Com 96% da área do café colhida até o fim de agosto, a safra brasileira de 2024 está estimada em 54,79 milhões de sacas, apresentando uma queda de 0,5% em relação à produção de 2023. A Conab ressalta que as condições climáticas adversas, como estiagens e temperaturas elevadas, têm impactado a produtividade.
O fenômeno El Niño deverá intensificar as ondas de calor extremo no Brasil. De acordo com o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), a temperatura média em várias cidades pode aumentar até 1,5°C acima do normal no último trimestre do ano. O engenheiro agrônomo Renato Menezes explica que as altas temperaturas podem causar superaquecimento nas plantas, mesmo quando recebem a quantidade ideal de água, resultando em estresse térmico que compromete o crescimento, o desenvolvimento e a capacidade produtiva.
Se as mudanças climáticas seguirem essa tendência, o Brasil poderá perder até 11% de sua produção agrícola até 2050. “Esse estresse térmico danifica as membranas celulares das plantas e reduz seu potencial fotossintético, afetando diretamente sua capacidade produtiva. Na cana-de-açúcar, isso se traduz em menor acúmulo de açúcares e, consequentemente, na redução do rendimento pós-processamento”, adverte Menezes. Ele destaca que o excesso de calor também prejudica a fecundação das flores e a formação dos grãos em culturas como soja e milho.
Os impactos se estendem também às frutas. Dados da Associação Brasileira de Produtores de Frutas (Abrafrutas) revelam que a produção de uvas e maçãs no Sul do Brasil sofreu perdas de cerca de 20% em 2023. “O calor elevado diminui a produtividade, afeta a resistência ao transporte, reduz o tempo de prateleira e altera o sabor das frutas, prejudicando sua aceitação no mercado”, conclui Menezes.
No dia 12 de setembro, o ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro, anunciou a disponibilização de crédito pelo Plano Safra 2024/2025, por meio do Programa de Financiamento de Sistemas de Produção Agropecuária Sustentáveis (RenovAgro). Esta iniciativa visa apoiar produtores atingidos pelas queimadas em vários estados, com ênfase nas regiões Centro-Oeste, Sudeste e Norte do Brasil. O RenovAgro destina recursos para investimentos em práticas agrícolas de baixo carbono.
Segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o Brasil registrou quase 70 mil focos de queimadas em agosto. Para esta safra, foram disponibilizados R$ 7,6 bilhões, dos quais R$ 1,2 bilhão já foi contratado e liberado aos produtores. O Governo Federal autorizou que os R$ 6,5 bilhões restantes sejam utilizados por aqueles que foram afetados pelos incêndios.
A assessora técnica do Sistema Faemg Senar, Aline Veloso, alerta que o crédito rural pode acarretar dificuldades financeiras no futuro. “Embora essa medida seja uma alternativa, a grande questão é que a taxa de juros não é viável diante da delicada situação enfrentada pelos produtores”, avalia.
O RenovAgro abrange três linhas de financiamento no Plano Safra: recuperação de áreas degradadas (RenovAgro Recuperação), restauração florestal (RenovAgro Ambiental) e outras práticas, como a agricultura regenerativa. Cada beneficiário poderá solicitar até R$ 5 milhões, com carência máxima de oito anos. Os juros nas linhas RenovAgro Recuperação e RenovAgro Ambiental são de 7% ao ano, enquanto no RenovAgro são de 8,5%. O prazo para pagamento das dívidas é de até 12 anos.
Fonte: Portal do Agronegócio
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