Certificação

Produtores de Acerola em Pérola, Paraná, Buscam Indicação Geográfica para o Produto

A certificação fortalecerá a identidade do produto e beneficiará a economia local


Publicado em: 15/10/2024 às 09:30hs

Produtores de Acerola em Pérola, Paraná, Buscam Indicação Geográfica para o Produto
Foto: Cultura da fruta ajuda a aquecer economia do município.

Em Pérola, no noroeste do Paraná, famílias dedicadas ao cultivo de acerola iniciam um movimento em busca da Indicação Geográfica (IG), uma conquista que se soma à certificação orgânica internacional que possuem há mais de 20 anos. Para viabilizar essa iniciativa, os agricultores uniram esforços à Cooperativa Agrícola dos Fruticultores de Pérola (Frutipérola), ao Sebrae/PR, à prefeitura e ao Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná (IDR-Paraná), dando início a um trabalho coletivo em abril deste ano.

A IG é um reconhecimento concedido pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) a produtos ou serviços de regiões específicas que apresentam características únicas, diferenciando-os de outros similares.

Edson Pinguello, um fruticultor que aposta na acerola desde a década de 1990, ressalta a singularidade da fruta cultivada na região. “A fruta que nasce aqui é diferente”, afirma ele. Entre as particularidades da acerola de Pérola, destacam-se o elevado teor de vitamina C, que confere acidez ao paladar e valor nutricional, sabor levemente adocicado e coloração avermelhada. A acidez da acerola local é superior ao mínimo exigido pela indústria, que é de 1.000 mg de ácido ascórbico por 100 gramas.

A polpa da fruta apresenta uma coloração vermelha intensa, resultado do solo arenoso e bem drenado da região, que pertence à formação geológica do Arenito Caiuá. Apesar das históricas altas taxas de precipitação na localidade, os produtores estão considerando a implementação de sistemas de irrigação por gotejamento para lidar com os desafios climáticos.

Presidente da Frutipérola e membro da Associação Perolense de Fruticultores, Edson possui um pomar de 1,2 hectare, que garante o sustento de sua família. Ele comenta: “Nossa fruta é riquíssima em vitamina C. Meu negócio é praticamente só a acerola, então, o que ganhamos com a venda da fruta é essencial. Nossa cooperativa tem 75 membros, dos quais 35 plantam acerola e dependem dela para a renda. Quase todos nós comercializamos por meio da cooperativa.”

Estima-se que há cerca de 30 hectares dedicados ao cultivo da acerola na cidade, com aproximadamente 10 mil pés da fruta. “Assistimos na televisão como a Indicação Geográfica é importante em diversos casos. Uma de nossas inspirações é o Queijo Canastra, de Minas Gerais. Quando o Sebrae nos apresentou a possibilidade de solicitar o registro, vimos uma oportunidade de expandir nossa atuação e ganhar notoriedade”, ressalta Edson.

A safra da acerola em Pérola ocorre entre setembro e maio, com cinco ciclos anuais, totalizando cerca de 300 toneladas colhidas manualmente. Os principais compradores estão em São Paulo, que recebem a fruta in natura, resfriada ou congelada, e em forma de polpa, preferencialmente ainda verde, pois apresenta maior teor de ácido ascórbico.

Uma vez transformada em pó, a acerola de Pérola é fornecida à indústria farmacêutica, com uma pequena parte destinada ao varejo e a compras governamentais. Atualmente, o quilo da acerola verde é comercializado a R$ 5, o que representa R$ 5 mil por tonelada. “Estamos também iniciando um projeto para a produção de geleia e a venda de suco pronto”, revela Edson.

Tradição e Economia Local

Luciano Lazarin, secretário de Agricultura de Pérola, enfatiza que a acerola é a estrela da fruticultura na região. As variedades cultivadas incluem a Pérola 24, Pérola 56 e outras, sendo que duas novas cultivares, ainda sem definição, foram identificadas pelo Instituto Agronômico do Paraná (Iapar) e batizadas de Bruna e Letícia em homenagem a filhas de produtores. “A acerola movimenta entre R$ 4 milhões e R$ 5 milhões no município a cada safra, dinheiro que circula localmente e aquece a economia. A certificação internacional de orgânicos nos credencia a vender para mercados que desejamos alcançar, e a IG acrescentará valor ao nosso produto”, destaca Lazarin.

Caminhos para a Indicação Geográfica

Adriano Pereira da Silva, consultor do Sebrae/PR, que coordena o esforço para a obtenção da IG, explica que diversas etapas são necessárias até que o pedido de reconhecimento seja submetido ao INPI. Foram realizadas ações de sensibilização junto aos produtores, formação de um comitê gestor, engajamento em um plano de ação, planejamento de atividades para fortalecer o grupo envolvido no processo e visitas técnicas. Em agosto deste ano, por exemplo, produtores participaram do Fórum Origens Paraná, promovido pelo Sebrae/PR, com o objetivo de estimular a troca de conhecimentos, boas práticas e a abertura de novos mercados e parcerias.

Os próximos passos envolvem levantamentos, avaliação e descrição do produto e do processo de produção, análise de documentos, adequação do estatuto social da cooperativa, comprovação do tipo de IG, delimitação geográfica, desenvolvimento do Caderno de Especificações Técnicas e do Plano de Controle, organização do processo e protocolo junto ao INPI — previsto para maio de 2025 — além de eventos que promovam a cultura da IG na comunidade.

“A IG destaca um produto graças às características únicas que possui, fortalece o vínculo entre o produto e a região, impulsiona o turismo, facilita investimentos, garante a autenticidade e qualidade do produto, abre novos mercados e pode resultar em uma valorização de até 50%, ou até mais em alguns casos. É um ganho social, cultural e econômico”, justifica o consultor.

Estudos adicionais serão realizados para determinar se a Indicação Geográfica será solicitada sob a forma de Indicação de Procedência (IP) ou Denominação de Origem (DO). Segundo o INPI, a DO é atribuída quando as características de um produto ou serviço são resultado exclusivo ou essencial do meio geográfico, enquanto a IP é conferida quando um local se destaca como centro de produção ou fabricação de um produto ou serviço.

Fonte: Portal do Agronegócio

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