Análise de Mercado

O que acontece com o agro brasileiro com a disputa comercial entre EUA e China?

Análise do Santander Aponta Potencial de Crescimento em Meio a Disputas Globais, com Ênfase em Soja, Milho e Proteínas


Publicado em: 23/01/2025 às 10:48hs

O que acontece com o agro brasileiro com a disputa comercial entre EUA e China?

O possível retorno de políticas protecionistas nos Estados Unidos, sob nova gestão, apresenta um cenário complexo, porém com oportunidades, para o agronegócio brasileiro, especialmente no comércio com a China. Uma análise divulgada pelo Santander nesta terça-feira (21) destaca o potencial de crescimento para produtos como soja, milho e proteínas animais, incluindo carne bovina, suína e de aves. Esses setores, já consolidados no mercado chinês, podem se beneficiar ainda mais em caso de novas tensões comerciais entre EUA e China.

Além do gigante asiático, outros mercados demonstram interesse em diversificar suas fontes de importação, abrindo novas perspectivas para o Brasil. José Luiz Pimenta Júnior, diretor de Comércio Internacional e Relações Governamentais na BMJ Associados, observa que o país assume uma posição estratégica para nações que buscam reduzir a dependência de fornecedores tradicionais, como os Estados Unidos. "A diversificação das fontes de importação cria uma oportunidade para o agronegócio brasileiro expandir sua participação de maneira seletiva e direcionada", afirma Pimenta.

Contudo, o Santander ressalta a necessidade de monitorar as reações da China a possíveis medidas tarifárias americanas. O impacto final dependerá da forma como o país asiático responderá a eventuais aumentos de tarifas sobre produtos agrícolas. O setor agropecuário brasileiro, portanto, deve se preparar para aproveitar as oportunidades, ao mesmo tempo em que desenvolve estratégias para consolidar sua presença nos mercados globais.

Soja: Reedição Moderada de Cenário Anterior?

No mercado da soja, principal commodity brasileira, as atenções se voltam para o potencial de exportação do grão. Analistas apontam para a possibilidade de uma reedição, em menor escala, do cenário observado durante o primeiro mandato de uma gestão anterior nos Estados Unidos. Naquela época, as políticas protecionistas adotadas em relação à China impulsionaram significativamente as exportações de soja brasileira.

A implementação de tarifas e outras medidas prejudicou as relações comerciais entre os dois países, levando a China a intensificar as importações do grão brasileiro, consolidando o Brasil como seu principal fornecedor. As ações protecionistas resultaram em um declínio nas exportações agrícolas americanas, enquanto o Brasil registrou um crescimento expressivo nos embarques, principalmente de soja.

Para a safra 2024/25, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) projeta um novo recorde de produção, com 169 milhões de toneladas de soja. No entanto, apesar da previsão de recorde no volume produzido e exportado, analistas do Santander alertam que os baixos preços da soja no mercado internacional podem limitar o crescimento do valor total das exportações brasileiras. “Embora o Brasil possa se beneficiar de um possível agravamento da relação comercial entre Estados Unidos e China, os preços baixos podem neutralizar parte desse impacto positivo”, avalia Felipe Kotinda, analista do Santander.

Milho: Demanda Chinesa em Observação

Enquanto as tarifas chinesas podem ter um impacto positivo para a soja brasileira, o relatório do Santander aponta um cenário mais complexo para o milho. Em 2018, as tarifas impostas pela China aos Estados Unidos tiveram um impacto insignificante no mercado de milho, uma vez que o país asiático representava apenas cerca de 2% do mercado de exportação americano. Além disso, o Brasil, na época, não exportava o cereal para a China.

A forte demanda doméstica por milho nos EUA, principalmente para a produção de etanol, também contribuiu para a estabilidade do mercado americano, compensando a redução nas exportações para o mercado chinês. Somente em 2022 o Brasil começou a ganhar relevância como fornecedor de milho para a China, marcando uma mudança importante no mercado global do cereal.

Em 2023, o Brasil exportou 17,4 milhões de toneladas de milho para o país asiático, representando 31% do total exportado pelo Brasil no período. Com isso, a China se tornou o principal destino das exportações brasileiras de milho, consolidando a posição do Brasil como um importante player para o mercado chinês. Em 2024, no entanto, o cenário é menos otimista. De acordo com o Santander, a demanda futura da China pelo milho brasileiro pode não atender às expectativas, devido à superprodução local na temporada atual, que deve reduzir a necessidade de importar grandes volumes nos próximos anos.

Proteínas: Competitividade em Destaque

O setor de pecuária brasileiro, segundo o Santander, apresenta um cenário distinto das demais commodities agrícolas. O aumento das exportações de carne nos últimos anos não está diretamente relacionado a tarifas comerciais, mas a fatores como sanidade animal e mudanças na demanda global. Em 2018, a China enfrentou uma grave crise em seu rebanho suíno, devido à Peste Suína Africana, o que impulsionou a busca por proteínas alternativas, como a carne bovina, e consequentemente as exportações brasileiras.

A carne bovina brasileira já possui um espaço significativo para expansão no mercado global. Em 2023, a China representou apenas 2% dos embarques de carne bovina dos Estados Unidos, segundo o Santander, e um eventual acirramento da guerra comercial entre EUA e China não deve alterar esse cenário. Um dos grandes diferenciais da carne bovina brasileira é sua competitividade de preços, principalmente em relação a concorrentes como Argentina e Austrália.

Em 2024, a China se consolidou como o principal destino da carne bovina brasileira, com 1,33 milhão de toneladas exportadas, gerando um faturamento de US$ 6 bilhões, de acordo com dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), compilados pela Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec). Além da China, os Estados Unidos ocuparam a segunda posição entre os maiores compradores, importando 229 mil toneladas de carne bovina brasileira em 2024, com um valor de US$ 1,35 bilhão. "A competitividade da carne bovina brasileira, associada à alta demanda em mercados estratégicos como China e Estados Unidos, posiciona o Brasil como protagonista no comércio global de proteínas", conclui o Santander.

Fonte: Portal do Agronegócio

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