Publicado em: 01/07/2024 às 16:30hs
O Primeiro Comando da Capital (PCC) tem ampliado sua atuação no setor de combustíveis no Brasil, assumindo o controle de mais de 900 postos e cinco usinas de etanol, além de participar da distribuição dos produtos. Esse movimento visa aumentar a capilaridade operacional e financeira da facção no território nacional. De acordo com o Instituto Combustível Legal (ICL), outras facções, como o Comando Vermelho e o Comando Norte, também estão se organizando para atuar nesse mercado.
A escolha pelo setor de combustíveis é estratégica, considerando que a arrecadação de impostos estaduais com a venda de gasolina, etanol e diesel ultrapassa R$ 20 bilhões. Em maio, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), mencionou durante um evento em Nova York que o PCC comandava 1.100 postos de combustíveis em São Paulo. Posteriormente, o número foi corrigido para refletir o controle da facção em todo o país. “O que me preocupa no crime organizado é quando eles começam a comprar usinas de etanol, porque não pagarão o preço justo pela cana-de-açúcar. Vão usar chantagem e força”, alertou o governador.
Uma fonte do mercado de combustíveis, que preferiu manter o anonimato, relatou que a influência das facções no setor cresceu significativamente nos últimos anos. "Antes, os casos eram pontuais, mas agora se tornaram uma estrutura muito organizada. Eles identificaram o setor de combustíveis como uma oportunidade para lavagem de dinheiro", afirmou a fonte.
As facções criminosas estão expandindo sua atuação para todos os elos da cadeia de combustíveis, incluindo distribuidoras, usinas e formulação de combustíveis, utilizando "laranjas" para viabilizar os negócios. "O setor de combustíveis é o que mais arrecada em termos de impostos, considerando tributos federais e estaduais", destacou a fonte.
Estimativas indicam que a sonegação de impostos no setor de combustíveis gera um prejuízo de até R$ 14 bilhões ao país, enquanto fraudes e adulterações nas vendas de combustíveis causam um desfalque de R$ 19 bilhões. "Do ponto de vista concorrencial, é impossível para um empresário honesto competir com quem atua na ilegalidade", lamentou a fonte.
A influência das facções no mercado de combustíveis se estende por várias regiões do Brasil, com maior concentração no Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná, Bahia e Pernambuco. Recentemente, as facções também alcançaram o Centro-Oeste, incluindo Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, grandes produtores de etanol. Em Minas Gerais, a atuação está focada no Triângulo Mineiro e no sul do estado, próximos a São Paulo e Rio de Janeiro.
O Sindicato do Comércio Varejista de Derivados de Petróleo de Minas Gerais (Minaspetro) foi procurado para comentar a situação em Minas Gerais, mas não respondeu até o fechamento desta edição. O Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) informou que não há investigações em andamento sobre o tema no estado. O Ministério da Justiça e Segurança Pública afirmou, em nota, que existem iniciativas para combater o crime organizado, incluindo ações da Diretoria de Operações Integradas e Inteligência e da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). A Federação Nacional do Comércio de Combustíveis e de Lubrificantes (Fecombustíveis) também foi contatada, mas não se posicionou.
O procurador do Ministério Público de São Paulo (MPSP), Márcio Sérgio Christino, afirmou que ainda não há investigações comprovando a entrada e estruturação do PCC e outras facções no mercado de combustíveis. “Estamos analisando o assunto, mas ainda não temos dados concretos sobre essa expansão. Não foi detectado em nenhum processo que isso esteja acontecendo”, enfatizou Christino, que também é autor do livro "Laços de Sangue: A História Secreta do PCC".
Christino destacou que a investigação é complexa, uma vez que a base operacional do PCC está na Bolívia. “É uma investigação que ainda vai se desdobrar. Coletar evidências fora do Brasil é mais complicado, e, até onde sabemos, eles não utilizam muitos meios tradicionais, mas sim o mercado paralelo”, concluiu o procurador.
Fonte: Portal do Agronegócio
◄ Leia outras notícias