Análise de Mercado

Expectativa em Chicago é de alta para produtos agrícolas

Dejneka não acredita na redução da produção de etanol nos EUA


Publicado em: 11/09/2012 às 10:45hs

Expectativa em Chicago é de alta para produtos agrícolas

Na próxima quarta-feira, dia 12, quando o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA, na sigla em inglês) divulgar a nova estimativa de colheita da safra norte-americana, analistas agrícolas e produtores rurais ao redor do planeta estarão aguardando as reações que os dados apresentados causarão na Chicago Board of Trade (Cbot), a mais importante bolsa de mercados futuros do mundo. A principal questão que eles esperam que os operadores respondam é até onde podem subir os preços dos produtos agrícolas?

Desde o ano passado, com o aumento da demanda mundial por alimentos e o surgimento de problemas climáticos que diminuíram as colheitas e os estoques nas principais regiões produtoras de grãos no planeta, os preços das commodities agrícolas têm sofrido altas que não eram vistas desde o primeiro semestre de 2008, antes da crise econômica global. O último evento que contribuir para as elevações foi a seca nas regiões produtoras de grãos dos Estados Unidos, a mais severa que o país enfrentou desde a década de 1930.

A estiagem, que iniciou no final de junho, afetou principalmente o milho, que estava em período de floração e desenvolvimento de espigas. Segundo o último relatório do USDA, os produtores americanos registraram uma quebra de 101,89 milhões de toneladas no grão em relação a estimativa inicial de colheita. Enquanto as primeiras previsões indicavam uma safra 375,68 milhões de toneladas, o USDA estimou uma produção de 273,79 toneladas, o que representa uma queda de 27%. Já na soja o recuo estimado é de 20 milhões de toneladas, para uma safra de aproximadamente 76 milhões de toneladas.

Com essas quedas anunciadas pelo USDA, o milho negociado na Cbot tem oscilado desde julho em um patamar de US$ 8,00 o bushel (25,4 quilos). Já a soja alcança valores acima de US$ 17,00 o bushel (27,2 quilos). O aumento dos valores também impulsionou as atividades na bolsa. No mês de julho, a média diária de contratos negociados em Chicago para grãos no mercado futuro chegou a 897.821, volume 43,36% maior do que o do mesmo mês do ano passado. “Esse crescimento forte é típico de períodos de dúvidas no mercado, quando a volatilidade é maior”, explica David Lehman, diretor de Pesquisa de Commodities da Bolsa de Chicago.

A principal incerteza dos operadores é o limite para o crescimento dos preços. Segundo a corretora Virginia McGathey, os valores do milho e da soja, que são recordes para os dois produtos, ainda podem subir mais, especialmente se o relatório que será divulgado nesta semana indicar quebras maiores que o de agosto. “No milho, por exemplo, se a queda for 10% a 20% pior do que o anterior, o que está dentro das possibilidades, isso vai pressionar o preço para US$ 9,00 o bushel”, informa.

Já em relação à soja, Virginia não acredita que haja muito espaço para elevação. “Minha projeção em junho era que se o milho passasse de US$ 8,00 o bushel isso faria a soja chegar a US$ 20,00. Mas ela não alcançou esse patamar, então talvez esteja no teto agora.” Entretanto, a corretora alerta que, mesmo com o valor maior, as aquisições de soja não caíram no mercado mundial. “Esperávamos que a demanda caísse quando atingisse US$ 17,00, mas isso não aconteceu.”

É justamente o interesse chinês na soja que faz com que Pedro Dejneka, diretor da Futures International, de Chicago, acredite que as maiores altas no grão ainda não foram registradas. “A situação é desesperadora na soja. Mesmo com o bushel acima de US$ 17,00, os chineses continuam comprando, e não há sinal de que isso vá parar, uma vez que as margens de esmagamento do grão na China continuam crescendo.”

Segundo Dejneka, a soja tem potencial de chegar a até US$ 18,50 o bushel, dependendo das informações que forem anunciadas sobre a safra norte-americana pelo USDA. “Se o relatório apresentar uma redução de 10% na produção de soja, e isso significaria um rendimento de 33 bushels por acre (0,47 hectare), então o preço vai disparar.”

No entanto, o analista alerta que, mesmo que os preços tenham a tendência de elevar-se mais no futuro próximo, os produtores brasileiros que ainda possuem estoques ou querem negociar no mercado futuro não devem esperar muito tempo para comercializar sua produção. “Podemos não estar no pico, mas os valores pagos estão muito bons e o câmbio do dólar em relação ao real ficou muito favorável. Mas tudo o que sobe uma hora tem que descer, e quem não está vendendo agora pode se arrepender já no ano que vem.”

Governo americano sofre pressão para reduzir produção de etanol devido às perdas na lavoura

As graves perdas sofridas na lavoura de milho norte-americana devido à estiagem têm gerado pedidos para intervenção do governo dos Estados Unidos na produção de etanol do país. Um dos primeiros apelos foi feito no início de agosto pela Organização das Nações Unidas (ONU). Em um artigo publicado pelo jornal britânico Financial Times, o diretor-geral da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), José Graziano da Silva, defendeu a suspensão da mistura obrigatória de etanol na gasolina no momento em que os preços dos alimentos sobem devido à estiagem nos Estados Unidos.

A medida também é defendida dentro dos EUA. Os governadores dos estados da Carolina do Norte, Arkansas, Maryland e Delaware chegaram a enviar petições à agência norte-americana de proteção ambiental (EPA, na sigla em inglês) solicitando a suspensão da mistura obrigatória de etanol à gasolina até 2013. Os pedidos tinham como objetivo frear a alta dos preços do milho, principal produto utilizado por criadores de animais para ração.

A Norma de Combustível Renovável apoiada pela EPA requer que aproximadamente 15 bilhões de galões de etanol, a maior parte derivada do milho, sejam misturados à gasolina este ano. Conforme o Departamento de Agricultura dos EUA, cerca de 40% da safra de milho norte-americana deve ser destinada à fabricação de etanol. Mas a EPA tem autoridade para suspender a mistura obrigatória de etanol à gasolina se for demonstrado um prejuízo grave “à economia de um Estado, região ou dos estados Unidos como um todo”.

Entretanto, analistas de mercado acreditam que a possibilidade de intervenção do governo norte-americano no setor de etanol é extremamente improvável. “A redução é uma possibilidade, mas o lobby agrícola quer manter os preços do grão altos, e eles são muito poderosos em Washington”, afirma Virginia McGathey.

Para Pedro Dejneka, o panorama eleitoral dos EUA também deverá impedir ações mais fortes do governo no setor. O analista lembra que o maior trunfo do Partido Republicano contra o presidente Barack Obama é o desemprego, que atinge taxas de 8,2%. “Obama precisa desesperadamente reduzir esses índices. Então ele não vai prejudicar uma indústria que já está paralisando atividades por falta de margem de lucro, tirando mais gente de seus empregos logo antes da eleição.”

Dejneka também não acredita que a destinação de milho para a produção de etanol aumente um risco de inflação alimentar. Um dos motivos apontados é que o setor de carnes não deverá repassar integralmente os aumentos do custo de produção para os consumidores. “No momento econômico em que o mundo vive, é muito mais caro perder o cliente e tentar recuperá-lo depois do que mantê-lo, mesmo que isso represente uma margem menor de lucros ou até prejuízo por um ou dois semestres.”

Para o analista, somente se o milho ultrapassar a barreira de US$ 9,00 por bushel a pressão no governo americano aumentará a ponto de alguma medida ser tomada para reduzir a produção de etanol e beneficiar os criadores de animais. “Mas eles vão segurar ao máximo para fazer isso só após as eleições”, afirma.

Fonte: Jornal do Comércio

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