Análise de Mercado

Déficit de Armazéns Desafia Recorde de Produção de Grãos no Brasil

Capacidade de armazenagem cobre apenas 69% da produção prevista para a safra 2024/25, com impacto acentuado pelo atraso no plantio


Publicado em: 16/01/2025 às 18:00hs

Déficit de Armazéns Desafia Recorde de Produção de Grãos no Brasil

O Brasil enfrenta um grave déficit de armazenagem diante da expectativa de uma safra recorde de grãos em 2024/25. Segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a produção deve atingir 322,4 milhões de toneladas, enquanto a capacidade de armazenagem disponível, estimada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), é de 222,3 milhões de toneladas, suficiente para estocar apenas 69% do total. O atraso no plantio da safra de verão deve agravar ainda mais o problema.

De acordo com Paulo Bertolini, presidente da Câmara Setorial de Máquinas e Equipamentos para Armazenagem de Grãos (Cseag) da Abimaq, o déficit de armazenagem, que alcançou 124 milhões de toneladas em 2024, pode crescer para 129 milhões este ano. "Com uma supersafra de soja e uma boa safra de milho, a situação se torna ainda mais crítica", alertou.

Crescimento da Produção Supera Capacidade de Armazenagem

Bertolini destacou que o ritmo de expansão da agricultura supera em duas vezes o avanço na infraestrutura de armazenagem. "Para acompanhar o crescimento da produção de grãos, seria necessário investir cerca de R$ 15 bilhões anuais para adicionar 10 milhões de toneladas à capacidade estática de armazenagem. No entanto, o setor investe apenas metade desse valor", explicou.

Bernardo Nogueira, CEO da Kepler Weber, maior empresa do setor no país, apontou que a safra atual deve estabelecer novos recordes em Estados como Mato Grosso do Sul, Mato Grosso e Paraná, onde o crescimento da produção de soja varia de 12,7% a 26,7% em relação à safra 2023/24. Esses Estados, que já enfrentaram estresse logístico em safras anteriores, preveem investimentos de R$ 500 milhões em armazenagem.

Investimentos e Pressões do Setor

A Kepler Weber encerrou 2024 com 306 obras de armazenagem em execução, um recorde, com destaque para o Rio Grande do Sul, onde se concentra mais de um terço dos projetos. Segundo Nogueira, o setor portuário, biocombustíveis, cooperativas e grandes propriedades lideram a demanda. Ele também mencionou um estudo do Itaú BBA que identificou 22 projetos de novas usinas de biocombustíveis ou ampliações, com investimentos estimados em R$ 20 bilhões.

Apesar da alta demanda, o setor enfrenta desafios como custos elevados, juros altos e menor rentabilidade. "O endividamento aumentou em toda a cadeia do agronegócio. Ainda assim, a inadimplência permanece baixa, em 0,5%, mas o mercado está mais apertado", afirmou o executivo.

Burocracia e Falta de Crédito

A falta de linhas de crédito acessíveis para a construção de silos nas fazendas é outra barreira. "Com R$ 2 milhões ou R$ 3 milhões é possível construir uma estrutura básica de armazenagem, mas o processo é onerado por exigências como licenças ambientais e hipoteca de terras", criticou Bertolini.

Sem estrutura adequada no campo, o custo de armazenagem recai sobre tradings e indústrias, elevando o preço final dos produtos. "Essa ineficiência é incorporada ao custo do consumidor", concluiu o presidente da Abimaq.

A expansão da produção agrícola brasileira, enquanto motivo de celebração, ressalta a urgência de investimentos mais robustos e políticas públicas que atendam à crescente demanda por infraestrutura de armazenagem.

Fonte: Portal do Agronegócio

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