Análise de Mercado

Crise faz investidores fugirem das commodities

Investidores em fundos vinculados a commodities ficaram escaldados depois da queda acentuada de preços no decorrer de 2011, atribuída direta ou indiretamente às turbulências relacionadas à crise financeira, em direção contrária à que apontam os fundamentos de médio e longo prazo (de preços elevados estáveis ou em alta)


Publicado em: 24/01/2012 às 16:50hs

Crise faz investidores fugirem das commodities

De abril a dezembro, o índice CRB de preços em dólares de commodities em geral caiu 18%. Segundo o FMI, o índice de metais caiu 23%, o de alimentos e bebidas 16% e o de energia 8%. 

Os investidores, contando com abundante liquidez acumulada ao longo da última década, aumentaram as aplicações em commodities nos últimos três a quatro anos, estimulados pelo boom de seus preços iniciado em 2007 e que se prolongou - com algumas interrupções - até parte de 2011.

Desde então, a cautela foi redobrada – deixando o mercado, mudando posição e reduzindo investimentos passivos em índices de commodities.

No caso das commodities agropecuárias, pesam também informações do USDA de que 2012 poderá ser um ano com suprimento mundial um pouco menos apertado e alguma recuperação de estoques finais. Não está claro como os efeitos climáticos recentes foram considerados nos cálculos do USDA.

De qualquer modo, apesar de os mercados continuarem relativamente apertados, o volume de apostas em um mercado em alta ficou enfraquecido.

Enfatize-se, porém, que, mesmo diante de quedas importantes, os preços agropecuários permanecem em níveis historicamente bem elevados.

É interessante observar, no entanto, que diferentemente dos investidores em fundos de commodities, os produtores brasileiros não tomaram grandes sustos com as gingadas dos mercados.

No mesmo período, de abril a dezembro de 2011, enquanto caíam as cotações em dólares da soja em grão (16%), do café (20%), do milho (19%), os preços em reais no mercado interno da soja subiram (1%) e os do café (6%) e do milho (6%) cederam comparativamente pouco.

Para o açúcar e a carne bovina, os preços externos e internos tiveram quedas moderadas: 2% para ambos em dólares e 4% para o açúcar e 2,4% para o boi em reais.

O que levou à suavização da queda de preços no mercado interno foi a desvalorização do real (16%), que mantém seu "efeito gangorra" com os preços externos.

Por enquanto, os investidores potenciais em commodities permanecem em aplicações muito mais seguras, como fundos de money market e mesmo em ouro e metais preciosos, até o momento em que as incertezas se arrefeçam.

O mesmo se passa com os investimentos na produção de bens e serviços em geral, tornando pouco eficazes para a recuperação econômica as sucessivas injeções de liquidez na Europa e nos Estados Unidos, embora ajudem os países com problemas a rolar suas dívidas. 

Para o agronegócio, tudo isso quer dizer que a liquidez continua existindo e a crescer, ficando reservada para uso oportuno, quando ficar mais claro que os mercados de commodities retomarão as tendências de alta. Quando isso vai acontecer? Essa é a pergunta que os administradores de fundos gostariam de poder responder, mas não sabem como. Enquanto isso, a liquidez permanece empoçada.

GERALDO BARROS é professor titular da USP/Esalq e coordenador científico do Cepea/Esalq/USP.

Fonte: Comunicação Cepea

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