Análise de Mercado

Consumidor pagará a conta

Setor produtivo e analistas apontam para alta de até 15% nas carnes de aves e suínos além dos ovos


Publicado em: 06/08/2012 às 19:00hs

Consumidor pagará a conta

A alta no preço da soja e do milho, que traz mais custos aos produtores, vai pesar também no bolso do consumidor. Os agricultores preveem aumento de até 20% no preço das carnes de aves, suínos e ovos em no máximo 15 dias. A longo prazo o acréscimo pode chegar a 50%, conforme projeções do setor. Matéria-prima para a fabricação do farelo, usado na alimentação dos animais, a soja acumulou acréscimo de 88% de fevereiro a agosto desse ano. Já o milho, ainda em safra, registra aumento de 54% nos preços. Hoje, o quilo do frango sai a R$ 4,29 e a dúzia de ovos sai a R$ 2,99 ao consumidor nos supermercados da capital.

A escalada na cotação dos grãos representa um cenário incerto para aqueles que dependem dos produtos para manter seu negócio. Os produtores de aves, por exemplo, já sentem os impactos. De acordo com o presidente da Associação Mato-grossense de Avicultores (Amav/MT), Tarcísio Schroeter, a avicultura em Mato Grosso tem 50% de seus custos relacionados a rações, que tem como base o milho e a soja. Segundo ele, a alta nos preços dessas commodities será repassada ao consumidor final porque o mercado é regulado pela oferta e procura, ou seja, quando há demanda por carne e ovos os preços aumentam. “Nós estamos apreensivos com esse cenário, e os preços devem começar a subir. No prazo de 15 dias eles devem aumentar cerca de 20% para o consumidor final”, pontua. Tarcísio afirma que até o fim desse ano esse aumento pode chegar a 50%.

Conforme o Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea), na comparação de preços entre julho deste ano com igual período do ano passado, o farelo de soja encareceu 118%. “No começo do ano pagava-se R$ 594,75 por tonelada, mas devido à baixa oferta e crescente demanda internacional pelo grão as cifras atuais são de R$ 1.126,25 por tonelada em Mato Grosso, o que nos mostra uma valorização de mais de 100% no período analisado”, explica o analista de mercado de grãos Cleber Noronha.

O analista também avalia que essa realidade influenciará nas produções dependentes dos grãos até o fim desse ano. “Esse cenário deve se estender até a próxima safra. Nesse período produtores de aves, suínos e bovinos vão passar por um período complicado”, explica.

Abates - Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Mato Grosso abateu 21,4% a mais de frango no 1° trimestre desse ano frente ao período em 2011, ocupando assim o 7º lugar no ranking nacional. O incremento foi de 49,3 milhões de cabeças de frango no 1º trimestre de 2011 para 59,8 milhões em 2012.

A pesquisa IBGE revela ainda alta de 27% na produção de ovos entre janeiro e março de 2012. Uma expansão de 31,7 mil dúzias no período em 2011 para 40,3 mil.

Segundo o presidente da Amav, a produção de ovos aumentou em decorrência da chegada de novas granjas no Estado, porém com essa nova realidade nos preços das rações o cenário se torna incerto. “Não sabemos mais o que esperar”, afirma.

Impacto - A pensionista Ana Conceição, afirma que está surpresa com o aumento previsto para os próximos dias. “Eu não imaginava isso. Agora vai dificultar ainda mais para o consumidor, pois a carne mais barata é a de frango. Em casa faço frango ao menos três vezes na semana. Agora vou ter buscar outras alternativas”, pontua.

Suinocultura sofre mais com o alto preço da ração
 
A situação de apreensão com a alta nos preços dos grãos se estende também ao setor de suínos no Estado. Como praticamente toda a alimentação desses animais é feita com rações à base de soja e milho, o aumento no preço das commodities reflete-se diretamente no custo de produção. O setor, que já enfrenta dificuldades em função do embargo russo e o baixo preço pago ao produtor, garante que a carne suína ficará mais cara porque não há como absorver mais esse prejuízo.

Segundo o diretor executivo da Associação dos Criadores de Suínos de Mato Grosso (Acrismat), Custódio Rodrigues, o aumento para a carne suína é certo, porém ainda não é possível estimar o percentual. “Os produtores de carne sentem pressão imediata quando o preço da ração dispara”, explica.

De acordo com ele, a situação é ainda pior para os suinocultores. Na avicultura dois meses são suficientes para ajustar o mercado, pois um frango pode ser comercializado em cerca de 40 dias. Um porco, no entanto, exige do produtor no mínimo um ano de confinamento e, além disso, a carne suína já enfrentava excesso de oferta e desvalorização. “A alta no preço das rações só tornou o cenário mais preocupante para o setor”, conclui.

Fonte: Folha do Estado

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