Publicado em: 10/12/2024 às 14:00hs
O Brasil tem, em média, 95 milhões de hectares de áreas aguardando ações de restauração ou pagamento por serviços ambientais, conforme revelou a 3ª edição do Panorama do Código Florestal, elaborado pelo Centro de Sensoriamento Remoto (CSR) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). O estudo utiliza tecnologia avançada para monitorar a implementação da Lei Nº 12.651/2012, do Código Florestal, 12 anos após sua revisão.
Do total, 74 milhões de hectares correspondem a vegetação nativa preservada em Reservas Legais (RL), que poderiam gerar pagamentos por serviços ambientais. Outros 21 milhões de hectares representam o déficit de áreas que necessitam de ações de restauração, abrangendo tanto RLs quanto Áreas de Preservação Permanente (APPs), fundamentais para a conservação de recursos hídricos e biodiversidade.
Os dados apontam que, desde 2008, 26% do desmatamento em imóveis rurais ocorreu em APPs ou propriedades com RL abaixo do limite exigido pelo Código Florestal. Os estados mais críticos são Rondônia, Acre, Pará, Roraima e Amazonas, todos localizados na Amazônia Legal.
Outro ponto alarmante é o aumento de registros sobrepostos a terras públicas sem destinação, que saltaram de 12,4% para 18,3% em um ano. Esses registros somam mais de 206 mil hectares, incluindo sobreposições a unidades de conservação e terras indígenas. Segundo os pesquisadores, o Cadastro Ambiental Rural (CAR), ferramenta criada para monitorar propriedades rurais, tem sido usado de forma indevida, permitindo fraudes e grilagem de terras.
"O CAR, em sua forma atual, apresenta sérias limitações técnicas e de fiscalização, como a autodeclaração e o uso de um software obsoleto e desconectado de sistemas mais modernos. Isso prejudica a implementação de programas essenciais, como o Programa de Regularização Ambiental (PRA) e o Mercado de Cota de Reserva Ambiental (CRA)", alerta Britaldo Soares Filho, coordenador do estudo.
Apesar de mais de 7,3 milhões de propriedades estarem registradas no CAR, apenas 1,8% dos registros foram analisados até o momento. Esse atraso se deve à predominância de processos manuais e ao uso de tecnologias inadequadas, que dificultam a validação das informações declaradas.
O coordenador do estudo reforça que a adoção de tecnologias mais modernas, como as desenvolvidas pelo CSR/UFMG, poderia acelerar a análise e ajudar na identificação de registros fraudulentos. Além disso, mecanismos como o pagamento por serviços ambientais e a rastreabilidade agrícola são considerados essenciais para o cumprimento das exigências legais e para atender às demandas de mercados internacionais.
Os pesquisadores destacam que a falta de progresso na implementação do Código Florestal compromete a sustentabilidade ambiental e econômica do Brasil, além de dificultar a conservação de biomas críticos, como a Amazônia.
"O Brasil dispõe de recursos e inteligência territorial suficientes para corrigir essas deficiências. Contudo, avanços são necessários para transformar o CAR em uma ferramenta eficaz de combate ao desmatamento ilegal e de promoção da regularização ambiental", conclui Soares Filho.
A implementação plena do Código Florestal é vista como um passo fundamental para garantir a proteção dos recursos naturais e a sustentabilidade da agricultura brasileira, essenciais para o futuro do país.
Fonte: Portal do Agronegócio
◄ Leia outras notícias