Publicado em: 28/01/2025 às 10:55hs
Enquanto o Brasil enfrenta desafios econômicos internos, sua posição comercial com os Estados Unidos pode protegê-lo de ataques diretos da política protecionista de Donald Trump. Contudo, a possibilidade de danos colaterais não deve ser descartada.
Poucos países foram tão afetados pelo aumento do dólar e dos rendimentos dos títulos norte-americanos quanto o Brasil. Apesar disso, o histórico comercial brasileiro oferece certa proteção: desde 2007, o país não registra superávit comercial com os Estados Unidos. Essa relação comercial equilibrada torna improvável que o Brasil seja alvo prioritário nas ações protecionistas da gestão Trump.
Ainda assim, o Brasil se encontra em um momento econômico delicado. A moeda brasileira está em seu ponto mais fraco da história, e as condições financeiras são as mais restritivas desde 2016, de acordo com análises do Goldman Sachs. Com rendimentos reais acima de 10%, o mais alto em mais de 15 anos, o cenário interno é de pressão.
Para conter a desvalorização do real, o Banco Central brasileiro intensificou suas ações, elevando a taxa de juros em 100 pontos-base e prometendo novos aumentos. Além disso, foram gastos US$ 28 bilhões em reservas cambiais apenas em dezembro, o que representa a maior redução em 19 anos.
Apesar de um saldo fiscal primário saudável, o peso crescente dos juros prejudica as finanças públicas. Em paralelo, investidores estrangeiros demonstraram preocupação, retirando US$ 12,6 bilhões líquidos de fundos de dívida e ações em dezembro, uma das maiores saídas desde 1995.
Entre os grandes mercados emergentes, o Brasil ocupa uma posição singular. Em 2023, foi o único entre os 20 principais parceiros comerciais dos EUA que não exportou mais do que importou. Apesar de um superávit comercial geral de US$ 74,6 bilhões no ano passado, o saldo bilateral com os Estados Unidos permaneceu estável.
Esse histórico contrasta com países como China, Alemanha e México, que acumulam grandes superávits com os EUA e, consequentemente, estão na mira de Trump por supostas práticas comerciais "injustas".
Ainda que o Brasil não seja alvo direto, há margem para conflitos. Diferenças ideológicas entre Trump e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, além de atritos sobre o controle de mídias sociais, podem alimentar tensões.
Além disso, declarações de Trump criticando os países do BRICS e possíveis tarifas disruptivas ao comércio global trazem riscos ao Brasil. Especialistas alertam que uma desaceleração econômica global, especialmente na China – maior parceira comercial brasileira – poderia resultar em sérias consequências para a economia brasileira.
A primeira gestão de Trump trouxe impactos mistos ao Brasil. Por um lado, tarifas norte-americanas fizeram a China reduzir sua dependência de produtos agrícolas dos EUA, favorecendo exportadores brasileiros. Em 2016, 40% da soja importada pela China vinham dos EUA, proporção que caiu para 18% no ano passado, enquanto a participação do Brasil cresceu para 74%.
Por outro lado, a China poderia ceder às pressões de Trump, aumentando suas importações agrícolas dos EUA, o que impactaria negativamente o Brasil. Com a fragilidade econômica atual, qualquer instabilidade no comércio global ou medidas protecionistas internas poderiam agravar a situação brasileira, prejudicando as perspectivas de crescimento em 2025.
O Brasil permanece em alerta: sua economia não possui a mesma resiliência que a dos Estados Unidos para enfrentar um período de incertezas econômicas globais.
Fonte: Portal do Agronegócio
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