Análise de Mercado

Biocombustíveis podem reduzir consumo de 30 bilhões de litros de diesel até 2030

Uso de biocombustíveis no setor de transporte pode fechar um gap de 71,6 milhões de toneladas de dióxido de carbono, aponta estudo da Oliver Wyman


Publicado em: 19/09/2023 às 18:20hs

Biocombustíveis podem reduzir consumo de 30 bilhões de litros de diesel até 2030

Ampliar o uso de biocombustíveis (principalmente etanol e biodiesel) no setor de transporte do Brasil, pode mitigar de 27,4 para 71,6 milhões de toneladas de dióxido de carbono equivalente (MtCO2eq) até 2030. Isso corresponde a mais de toda a emissão de um país como Portugal (~61,4 MtCO2eq em 2021).

O setor de transporte é um dos principais emissores de gases de efeito estufa (GEE) e substituir combustíveis fósseis por biocombustíveis pode ajudar o Brasil a fechar até 39% das metas constantes da Contribuição Nacionalmente Determinada do Brasil (NDC) ao Acordo de Paris, contribuindo para os esforços nacionais e globais de mitigação das alterações climáticas.

A projeção consta em novo relatório “How biofuels can speed up decarbonization” da consultoria global de estratégia e gestão Oliver Wyman. O relatório traz um panorama de três cenários (atual, moderado e acelerado) de descarbonização com o uso de etanol, biodiesel, diesel renovável, combustível de aviação sustentável e gás natural comprimido.

De acordo com estimativas do relatório, os cenários propostos se implementados, podem reduzir o consumo de 30,4 bilhões litros de diesel até 2030.

Simulações com cenários atual, moderado e acelerado
Etanol

Incentivando o consumo de etanol e aumentando a proporção do seu consumo nos carros flex existentes, de 33% para 66%, o Brasil ampliará em 29% o consumo do biocombustível até 2030 e reduzirá 11,6 milhões de toneladas de dióxido de carbono equivalente (MtCO2eq), segundo estimativas da consultoria.

Se isso ocorrer em ritmo acelerado e 100% dos motores flex consumirem etanol até 2030, e as vendas de veículos flex chegarem a 80%, o país pode diminuir 24,9 MtCO2eq, exigindo que a produção de etanol tenha 62% de participação no abastecimento de veículos leves.

Biodiesel

Mantendo o ritmo atual, pode chegar a uma mistura de 20% em 2030 (contra 15% em 2016). Isso representaria uma substituição adicional de 5% do diesel A, principal fonte de emissão de CO2 no país. Essa mudança reduziria aproximadamente 7,1 MtCO2eq.

Comparativo com a Indonésia

De acordo com o relatório, a experiência de outros países sugere que essa é uma meta dentro do alcance do Brasil. Na Indonésia, espera-se que os mandatos de mistura cheguem a 35% até o final de 2023.

Existem várias semelhanças entre o Brasil e a Indonésia que podem ser exploradas, como a grande disponibilidade de matéria-prima, localização em regiões tropicais e dependência da importação de diesel estrangeiro.

Hoje, cerca de 25% do diesel consumido no Brasil é importado e, se o Brasil conseguir atingir níveis de mistura semelhantes aos da Indonésia, poderá reduzir as importações para 5% e aumentar a contribuição total do biodiesel para as metas NDC, com redução de 29 MtCO2eq.

Diesel Renovável

Incentivar a produção de RD/HVO (óleo vegetal hidrogenado também conhecido como diesel verde) pode ter um importante benefício econômico e ambiental. Por exemplo, o mandato de mistura de 5% de RD/HVO em diesel diminuiria 7,2 MtCO2eq num cenário moderado, de acordo com o relatório.

Num cenário acelerado, se o país implementar um mandato de 10% de HVO, isso aumentaria a demanda de RD/HVO para 5,8 bilhões de litros, equivalente a aproximadamente 8 novas biorrefinarias no país. Alguns players já estão aproveitando a janela de oportunidade RD/HVO e anunciando novas usinas, potencialmente levando a substituir 3,5% da demanda de diesel em 2030.

Combustível de aviação sustentável (SAF)

A União Europeia estabeleceu recentemente uma meta para substituir 6% do combustível de aviação por SAF até 2030. Considerando a abundância de matérias-primas, se estabelecida meta semelhante no Brasil, as estimativas de consultoria mostram que é possível substituir 0,3 bilhão de litros de combustível de aviação e descarbonizar 0,6 MtCO2eq.

Para limitar as emissões de viagens aéreas aos níveis de 2019, cerca de 15% do combustível de aviação consumido em 2030 teria que ser SAF, de acordo com a Oliver Wyman. Em um cenário de ritmo acelerado, se o país atingir essa marca, o impacto nas emissões de gases do efeito estufa chegaria a 1,6 MtCO2eq.

Gás natural comprimido (NGC)

O Brasil também é um dos países em que os números de NGC cresceram consideravelmente. Este biocombustível é particularmente popular entre os motoristas de alguns Estados do Sudeste do país, representando 3,5% da demanda de combustível do setor leve em 2021, consumindo o equivalente a 5,94 milhões de m3/dia de gás natural. Isso representou 6,3% de toda a demanda de gás natural do Brasil em 2021, segundo a ANP.

Se 15% do biogás/biometano produzido for destinado ao setor de transporte, isso representaria 2,4 milhões de m3 por dia, substituindo 42% da demanda projetada de GNL (gás em sua forma líquida), reduzindo 0,8 MtCO2eq de emissões de gases de efeito estufa.

Em ritmo acelerado, o Brasil poderia atingir o benchmark da Agência Internacional de Energia (IEA) e destinar 30% do biometano ao setor de transportes e dobrar o impacto na emissão de gases do efeito estufa para 1,6 MtCO2eq.

Experiências na Itália e China

O gás natural comprimido é uma boa alternativa em segmentos onde a eletrificação é mais desafiadora. A Itália tem atualmente uma frota de veículos a gás natural bem estabelecida e uma rede de abastecimento em expansão. Recentemente, o país introduziu obrigações de mistura de biometano (combustível renovável derivado do biogás).

A Índia também tem planos ambiciosos para expandir o uso de biometano no transporte. A maioria das pequenas quantidades deste biocombustível produzidas na China hoje é usada em veículos movidos a gás.

Quatro benefícios adicionais ao investir em biocombustíveis:

Avanços tecnológicos e inovação: O incentivo à produção de biocombustíveis impulsionaria a pesquisa e o desenvolvimento de tecnologias de bioenergia. O Brasil pode se tornar um polo de inovação nos processos de produção de biocombustíveis, levando a avanços no cultivo de matéria-prima, tecnologias de conversão e melhorias de eficiência.

Avanços tecnológicos e inovação: O incentivo à produção de biocombustíveis impulsionaria a pesquisa e o desenvolvimento de tecnologias de bioenergia. O Brasil pode se tornar um polo de inovação nos processos de produção de biocombustíveis, levando a avanços no cultivo de matéria-prima, tecnologias de conversão e melhorias de eficiência.

Criação de empregos e crescimento econômico: Os incentivos à produção de biocombustíveis estimulariam a criação de empregos e o crescimento econômico, principalmente nas áreas rurais. O cultivo de culturas de matéria-prima, a construção de instalações de produção de biocombustíveis e atividades relacionadas à cadeia de suprimentos gerariam oportunidades de emprego e renda para as comunidades locais.

Sustentabilidade agrícola e desenvolvimento rural: O aumento da produção de biocombustíveis incentivaria práticas agrícolas sustentáveis e diversificaria o setor agrícola brasileiro.

Fonte: Oliver Wyman

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