Análise de Mercado

Ruralista de MT é contra tributar exportação da leguminosa

Rui Prado qualifica a soja como produto essencial à política de segurança alimentar mundial e não vê substituto


Publicado em: 15/12/2022 às 16:10hs

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Rui Carlos Ottoni Prado: Produtor rural em Campo Novo do Parecis e Nova Brasilândia, veterinário, presidiu o Sistema Famato e a Câmara Setorial da Soja no Ministério da Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento, e integrou o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social da Presidência da República
Por: EDUARDO GOMES

Rui Prado qualifica a soja como produto essencial à política de segurança alimentar mundial e não vê substituto para ela.

DIÁRIO - Qual o papel da soja na alimentação mundial? É possível substituí-la por outro vegetal?

RUI PRADO – Na verdade, a soja, milho e trigo alimentam praticamente todas as pessoas do mundo, diretamente e por seus derivados. A gente percebe que tudo que é produzido em soja no mundo é consumido, e que os estoques giram em torno de 30 dias. Dois quilos de soja representam um quilo de carne bovina, peixe ou suína. No Brasil, o consumo per capita das carnes é de 85 kg/ano. Só a produção de soja brasileira - pensando na carne que ela produz -, alimenta com carne derivada quase um bilhão de pessoas – cerca de 900 milhões. Essa proteína animal que produzimos a partir da proteína vegetal que temos não é suficiente para alimentar com dignidade todas as pessoas do mundo. Logicamente sabemos que tem gente passando fome. Então não vejo como diminuirmos ou até mesmo não termos essa produção porque se trata de caso de fome no mundo, e aí não adianta ter dinheiro. Não vejo outro alimento que faça a substituição dessa proteína. Você pode dizer: vamos comer a proteína direta da própria soja. Então vamos voltar à soja, de novo. Seria uma maneira até mais inteligente entre aspas de ingerirmos proteína, não a transformando em proteína animal, mas diretamente. Sem a soja haveria uma grande crise de proteína no mundo e levaria à redução de pessoas no planeta.

O que a soja representa para Campo Novo do Parecis?

Quando nós viemos para Campo Novo do Parecis, não existia nada; era um vazio, uma vegetação de cerrado não propícia à produção, porque a tecnologia ainda estava se desenvolvendo pela Embrapa, principalmente. Assim, começou a produção de grãos, primeiro com o arroz para abertura de área e depois se consolidou na produção de soja, e agora está consolidado também em mais de uma safra anual com milho, algodão e feijão. Essa produção proporcionou cidades com os maiores IDH do Brasil. Sabemos que as cidades que têm soja em seu entorno têm melhor IDH. Sorriso tem uma grande renda per capita, Campo Novo, também. Campo Novo tem 37 mil habitantes e uma boa qualidade de vida proporcionada pela soja. Se retirarmos a soja, num passe de mágica haveria uma quebradeira na economia. A soja é que movimenta a economia. Com a soja é de zero para 100% e sem ela, de 100% para zero.

É possível tributar a soja para exportação?

Não vejo como. Primeiro porque trata-se de atividade de alto risco. Os produtores prosperaram, mas o setor tem muitas dívidas. Querer onerar ainda mais a carga tributária que pagamos nos coloca no alto risco de perdermos a galinha dos ovos de ouro do Brasil, pois a soja é o produto que mais contribui com a balança comercial. Se houver oneração para exportação, o produtor não conseguirá plantar. A exportação é uma oportunidade que hoje nós brasileiros temos com nossa produção. Alguém diz que é preciso industrializar a produção da soja e respondo que não é bem assim. Não temos consumo para nossa produção. Se tentássemos exportar somente farelo e óleo de soja não teríamos mercado para a produção, pois o mercado internacional tem seus interesses e não abre mão de escolher a soja ao invés de seus subprodutos.

A oneração (para exportar) não seria engordaria a receita tributária?

Não vejo possibilidade nenhuma em onerar a soja para exportação sem prejuízo para a sociedade e o Estado. Com a oneração exportaremos menos, exportando menos, a balança comercial terá menos superávit e haverá menos trabalhadores na produção. Um exemplo de oneração é a Argentina, que taxou a soja para exportação e aquele país está mergulhado numa grave crise. Ao invés de oneração é preciso que haja investimentos em infraestrutura de ferrovias, rodovias. (EG)  

Obs: Sobre tributação, leia o artigo "A evolução da produção de soja e os impactos da Lei Kandir", de Ricardo Bertolini.

Fonte: Diário de Cuiabá

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