Publicado em: 11/05/2023 às 14:00hs
James Thorp Neto: Presidente da Fecombustíveis
Por: ICL
Em entrevista exclusiva ao site do Instituto Combustível Legal (ICL), James Thorp Neto, presidente da Fecombustíveis, revela que desde a implementação da obrigatoriedade da mistura de biodiesel no diesel já era possível constatar alguns problemas, e isso está sendo potencializado com o aumento da mistura mínima de 10% para 12%.
“Essa mudança está implicando aumento de custos com manutenção e limpeza de tanques, por conta da formação da chamada borra. O aumento de teor também pode afetar a qualidade do combustível e também impacta no preço, já que o biodiesel é mais caro do que diesel fóssil”, aponta o presidente da Fecombustíveis.
Confira a entrevista completa:
ICL: Desde o dia 01 de abril, a mistura mínima de biodiesel no diesel passou de 10% para 12%, conforme aprovado pelo Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) em 17 de fevereiro. O cronograma de aumentos graduais do conselho prevê que a mistura deve chegar a 15% até 2026. Nesse contexto, quais as preocupações da revenda com relação à qualidade do combustível?
James Thorp Neto: Essa mudança está implicando aumento de custos com manutenção e limpeza de tanques, por conta da formação da chamada borra. Os postos observam claramente [esse problema] desde o começo da implementação do biodiesel. E com o aumento de teor, isso vai ficando mais sério.
Temos relatos dos revendedores, tudo documentado com fotos… Com a formação da borra, é preciso parar a operação do posto para fazer a limpeza do tanque e o descarte correto. Isso tem um custo elevadíssimo. A borra começa a travar o cabeçote das bombas de abastecimento. Além disso, ela fica retida nos elementos filtrantes. Dessa forma, temos que fazer uma troca mais corriqueira dos elementos filtrantes.
Estamos começando a orientar os sindicatos para, quando chegarem caminhões com esse tipo de reclamação, documentarem com fotos e notas fiscais das manutenções que esses veículos estão precisando fazer. Caminhões que precisam ficar um tempo parados, e têm resíduos de diesel no tanque, estão sujeitos à formação de borra, ocasionando em entupimento dos bicos injetores. Parados, os veículos estão mais propensos à umidade, alimentando as bactérias que formam a borra.
O posto é o último elo da cadeia, antes da entrega do produto ao consumidor final. Quando o consumidor final tem algum problema, é ao posto que ele recorre para poder reclamar.
ICL: A partir dessa mudança, haverá, na sua opinião, mais fiscalização para mitigar possíveis problemas de qualidade?
James Thorp Neto: A gente tem uma grande preocupação com isso. No que diz respeito à fiscalização, a Fecombustíveis não fiscaliza os postos. Mas acreditamos que, com essa mudança no regramento da ANP, a fiscalização vai aumentar para tentar minimizar esses problemas que estão acontecendo.
ICL: O senhor acha que existe possibilidade de distribuidoras oportunistas burlarem a regulamentação e venderem o diesel sem o biodiesel, utilizando desse artifício para reduzir artificialmente o preço de custo do produto?
James Thorp Neto: Não acredito que uma distribuidora séria vai querer burlar para fazer errado. Fraudes existem no mercado como um todo, mas uma distribuidora séria não vai fazer isso.
ICL: O custo do produto pode aumentar com essa mudança?
James Thorp Neto: Já aumentou. No dia 01 de abril, quando houve a mudança de 10% para 12%, como o biodiesel hoje está mais caro do que o diesel fóssil, já houve aumento de custo do produto, algo em torno de três centavos. Isso preocupa, principalmente o consumidor. E quando acontecem essas mudanças, o posto que é crucificado, porque compra mais caro e, teoricamente, vai vender mais caro. É uma decisão individual de cada empresário. Aí, a população acha que é uma elevação de margem por parte do posto, quando, na verdade, é apenas um repasse, pois o posto foi onerado na questão do custo.
ICL: A Fecombustíveis tem levado essas questões e preocupações às autoridades?
James Thorp Neto: Sim, quando temos oportunidade de falar em audiência pública, ou fazer nota conjunta com outras entidades, a gente relata as preocupações. Não somos contra o programa de biodiesel, contra a agricultura familiar… Somos favoráveis. O que a gente quer é um controle maior de qualidade, para que os postos não sejam crucificados injustamente. Como eu disse anteriormente, o posto é o último elo da cadeia, ele que tem o contato com o consumidor. Quando o consumidor tem algum problema com o veículo, ele vai cobrar a quem? Ao produtor de biodiesel? À distribuidora? Não. Ele vai cobrar do posto, que entregou o produto a ele.
Fonte: ICL - Instituto Combustível Legal
◄ Leia outras entrevistas