Publicado em: 04/10/2023 às 16:00hs
Impressiona a qualquer pessoa acompanhar a performance das exportações do agro brasileiro nos últimos anos. Quando me formei engenheiro agrônomo (na Esalq/USP em 1991), o Brasil tinha uma produção crescente para atender, principalmente, ao mercado interno e ainda importava muitos dos alimentos aqui consumidos. Uma revolução estava pela frente porque este setor foi exposto à competição internacional e teve que lutar contra proteções e subsídios em diversos mercados compradores, gerando grande pressão competitiva, de gestão, inovação, pesquisa e desenvolvimento.
Os últimos anos foram incríveis. Em 2020, o Brasil vendia ao mundo cerca de US$ 100 bilhões e, em 2022, vendeu praticamente US$ 160 bilhões (dados do Ministério da Economia), número que tem tudo para ser ultrapassado neste ano, mesmo com preços dos produtos menores. O planeta precisa dos itens aqui fabricados e os volumes seguem crescendo, bem como o número de mercados que se abrem.
De 2002 a 2022, com valores trazidos a presente, o agro exportou US$ 2,1 trilhões, crescendo ao redor de 20% ao ano. São praticamente R$ 10,5 trilhões. Como 20 anos é muito tempo para entendermos, e para quem gosta de dados mais chamativos, os valores de 2022 mostram que o Brasil exportou (em produtos do agro) R$ 1,6 milhão por minuto. Se você levar 3 minutos para ler este texto, o agro terá vendido ao exterior quase R$ 5 milhões. Na soja, o Brasil vende R$ 500 mil por minuto, nas carnes R$ 260 mil, de café quase R$ 100 mil e de fumo, pasmem, R$ 25 mil reais por minuto.
Nestas décadas, o Brasil foi colecionando lideranças em mercados internacionais e já são nove, a caminho da décima. Cada cadeia que chega ao posto de número 1 é motivo de celebração. A cadeia onde o Brasil tem uma posição mais consolidada de liderança é a da laranja, pois nosso suco ocupa quase 80% das importações feitas pelo planeta. Quem mais cresceu neste período foi a soja, onde o Brasil ocupa 40% da produção mundial e já está beirando os 60% do que o planeta importa. Isto mesmo: um país fornece quase 60% de um produto vital para a fabricação de ração para alimentação animal e de óleos usados na alimentação humana.
O Brasil também adoça o planeta e, também na liderança, neste ano deve chegar perto de metade do açúcar comprado pelo mundo. A carne de frango há muito tempo assumiu a ponta, com praticamente um terço do frango importado no planeta. Quem neste ano deve chegar à liderança, deixando os Estados Unidos para trás, é o milho, onde o Brasil entregará 30% das importações globais. No café, a liderança já é antiga e está próxima também de 30%.
Da carne bovina, cerca de 23%, ou seja, um em cada quatro bifes importados vem do Brasil. Na celulose, principal matéria-prima para fabricação de papel, embalagens e tecidos, quase 25% do mercado comprador é nosso. E para completar o time dos nove, no fumo, o Brasil também é líder com pouco mais de 11% do mercado global.
E quem seria o próximo? As minhas apostas caem para o algodão, que está em segundo, atrás dos EUA, mas tirando diferença com um belo trabalho de competitividade e sustentabilidade.
Nos biocombustíveis, somos segundo colocados também no etanol, com 20% do mercado global, atrás apenas dos americanos. Há, ainda, esperanças de crescimento na suinocultura, em diversas frutas e sucos, produtos hortícolas, castanhas, no trigo, onde o Brasil está prestes a inverter o quadro, entre outros.
Lembram-se do nosso último texto, sobre o uso dos muitos produtos do agro em nossas rotinas? Pois bem, o Brasil contribui para que estes mesmos produtos também estejam na vida das pessoas em muitos outros países. Esta geração de caixa permite controlar a taxa de câmbio, acumular reservas, gerar empregos e oportunidades para as pessoas, orçamentos para os Governos e, principalmente, fazer crescer o respeito das nações pelo Brasil, afinal não vale a pena brigar com quem entrega o produto mais sensível para todas as pessoas: a comida na mesa.
Marcos Fava Neves é engenheiro agrônomo e professor das Faculdades de Administração da Universidade de São Paulo, em Ribeirão Preto, e da FGV, em São Paulo. Artigo publicado originalmente na edição do dia 7 de setembroda revista Veja e reproduzido com autorização do autor
Fonte: Portal Paraná Cooperativo
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