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Espécies de abelhas desaparecem

O inseto é responsável pela polinização de plantações e de espécies nativas que produzem madeira e frutos


Publicado em: 23/02/2012 às 10:25hs

Espécies de abelhas desaparecem

Entre 1950 e 2000, pelo menos 13 espécies de abelha, do gênero Bombus desapareceram em alguns países europeus. Destas, 4 já são consideradas extintas. Esse fenômeno do desaparecimento das abelhas também está acontecendo no Brasil. Uma pesquisa revela que a abelha da espécie Bombus bellicosus, popularmente conhecida como mamangava, pode estar extinta no Nordeste e no Sul do país.

A pesquisa brasileira já detectou o desaparecimento do inseto no Paraná. Segundo os cientistas, a principal causa para o extermínio em território nacional é o aquecimento global, seguido de outros fatores como a poluição e as mudanças em seu habitat. Estudos de campo feitos entre 2002 e 2005 por pesquisadores do Laboratório de Biologia Comparada de Hymenoptera do Departamento de Zoologia da Universidade Federal do Paraná (UFPR), evidenciaram o desaparecimento da mamangava em locais onde há 20 anos a presença destes insetos era comum. Os cientistas monitoraram Ponta Grossa (PR), Esteio (RS), Bom Jesus (RS), algumas regiões próximas à Curitiba (PR) e Santa Catarina. No Paraná, não foi encontrado nenhum inseto vivo e, nos outros locais observados, a espécie está em processo de extinção.

As abelhas são necessárias para a polinização tanto de cultivos, quanto de muitas plantas nativas que produzem madeira e frutos. O desaparecimento delas pode gerar fortes impactos no ecossistema. O animal é o mais importante polinizador da natureza.

Algumas plantas são polinizadas apenas por determinadas espécies de abelha. Por isso, o desaparecimento deste inseto pode levar à extinção destas plantas e, consequentemente à escassez de alimentos para outros animais, como aves, mamíferos e até humanos, que cultivam alguns tipos de grãos e verduras dependentes da polinização.

A bióloga Alina Martins explica que a mudança climática é o fator mais decisivo na extinção de algumas espécies. O levantamento já era feito há 40 anos, o que ajudou na pesquisa. Durante a análise desses dados, os cientistas perceberam que o último registro da espécie no Brasil, de 1980, coincidia justamente com o período em se iniciou a intensificação do aquecimento global. Ela acredita que as recentes mudanças de temperatura tenham afetado as populações de abelha.

Outro indício de que as mudanças climáticas seriam as principais responsáveis pelo sumiço da mamangava é o crescimento populacional de outras 2 espécies de abelha da região que toleram temperaturas mais elevadas. Mais adaptadas ao meio, essas espécies ocuparam o lugar da mamangava. A poluição e o desmatamento das regiões antes habitadas pela mamangava também foram decisivos para a sua extinção.

O desmatamento restringe as fontes de alimentos e outros recursos naturais necessários às abelhas. No entanto, de acordo com a pesquisadora, as abelhas do gênero Bombus, como a B. bellicosus, não requerem nenhum material especial para construir seus ninhos, que ficam em cavidades debaixo do solo, nem possuem alimento específico. Essas abelhas são generalistas e usam mais de 60 espécies de planta de 18 famílias diferentes como fonte de néctar e pólen. Assim, as mudanças no habitat da mamangava não foram tão decisivas para o seu extermínio quanto o aquecimento global.

Inseticidas são apontados como vilões

Uso de aviões na pulverização compromete ainda mais a vida das abelhas

Opesquisador americano David de Jong, professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) de Ribeirão Preto (SP), diz que substâncias usadas na agricultura podem estar contribuindo para o desaparecimento das abelhas. Segundo ele, há indícios evidentes de que fungicidas provocam desnutrição desses animais. Novos inseticidas têm efeito nocivo, deixando mais vulneráveis os insetos ou exterminando-os. “Ao invés de aplicarem no solo, os produtores lançam de aviões, o que compromete ainda mais a vida das abelhas”.

Existe ainda outra praga que dizima enxames, ofungo microsporídio. O Nosema apis era um problema em regiões e épocas mais frias. “Uma nova espécie, o Nosema ceranae, está causando muitos problemas na Europa e nos EUA, e no Brasil também”.

Desde 2006, nos EUA, se perde em média 35% das colmeias. Alguns apicultores perderam todas (as colmeias). “Na Espanha, falaram em 40%”, David que também é biólogo, doutor no estudo de insetos e especialista em patologia de abelhas, diz ainda que muitos cultivos dependem das abelhas.

O pesquisador diz que ainda não está muito bem documentado esse desaparecimento, mas, em Santa Catarina, apicultores perderam 2/3 das colmeias, ou até 80%. “Tentamos entender a razão, pois é área sem agricultura, então, não há inseticida”. Alguns perderam, de um ano para o outro, 70% das colmeias. Na média, estão perdendo 30% a 40% no Sul, sem motivo.

Em 2011, o pesquisador revela que não havia abelhas suficientes para a polinização de maçãs. No Brasil se aluga colméias para pelo menos 2 cultivos: melão, no Nordeste, e maçã, no Sul. “Trata-se de um desafio mundial: As áreas de plantação estão muito maiores, nossa necessidade para polinização cresceu bastante”.

Fonte: Gazeta Digital

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