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Sistemas silvipastoris no Piauí

Alternativa que melhora a renda do produtor e contribui com meio-ambiente


Publicado em: 02/12/2010 às 16:25hs

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No Estado do Piauí, a baixa produtividade das pastagens ainda constitui sérios entraves ao desenvolvimento da produção animal, principalmente da pecuária. As reduzidas áreas de pasto cultivado são implantadas em monocultivo e sofrem rápido processo de degradação, acompanhado de perda de qualidade ambiental, baixo desempenho dos rebanhos e danos financeiros aos pecuaristas. As causas para essa degradação, como no resto do Brasil, são várias. Entre as mais comuns, destacam-se a implantação inadequada das pastagens devido ao alto custo dos insumos, associado à baixa estabilidade produtiva da pastagem e a falta de orientações técnicas adequadas, os quais constituem desestímulo à formação de áreas de pasto.

A exploração econômica de espécies arbóreas de portes médio e alto isoladamente (monocultura) implica em perda da capacidade de aproveitamento dos recursos naturais, tais como luz, água e solo, além do mais alto custo/benefício dos investimentos e práticas culturais. Outro aspecto negativo da monocultura é a sazonalidade de produção, efeito sentido principalmente por pequenos produotres, onde o princípio do rendimento contínuo é um dos componentes da sustentabilidade. Os sistemas agroecológicos, por sua vez, reduzem o impacto negativo da monocultura sobre o ambiente e a biodiversidade, diversificam a produção de alimentos, diminuem os riscos e aumentam a estabilidade dos sistemas de produção. Os resultados e conseqüências da adoção de práticas e tecnologias que preconizam a sustentabilidade ambiental devem ser positivos, considerando a parte agronômica e econômica, para serem adotadas em larga escala.

A associação de culturas perenes de espécies arbóreas e pastagens constitui uma modalidade de sistema agroecológico, classificada como sistema silvipastoril (SSP), que pode trazer significativos ganhos ambientais e econômicos. Muitos estudos estão sendo realizados com o objetivo de encontrar as melhores consorciações com a finalidade de diversificar e aumentar a renda dos produtores rurais, preservar o solo, melhorar o valor nutritivo da forragem, além de trazer conforto aos animais.

No Estado do Piauí, os solos são predominantemente de baixa fertilidade, sendo de se esperar largo benefício advindo da ciclagem de nutrientes proporcionada pela presença de árvores e animais no sistema silvipastoril. Outras vantagens associadas são o microclima mais adequado aos animais e a melhor retenção de água no solo, redução nos custos com limpeza da área e diversificação das fontes de renda.

No Piauí, assim como em vários Estados do Nordeste, a cultura do caju (Anacardium occidentale), vem sendo implantada em pequenas, médias e grandes áreas, também em monocultivo. A cultura do cajueiro no estado é destaque com produção média de 27.000 toneladas de caju, e área colhida de aproximadamente 160.000 hectares. Dados preliminares de pesquisas sobre a cultura podem prever um acréscimo de mais de 100.000 hectares na área de plantio, principalmente no Sudeste do Estado. No entanto, estudos e informações de sistemas silvipastoris de caju com pastagens no Piauí são poucos. É elevada a demanda por esse tipo de informação, considerando o crescente interesse por tecnologias minimizadoras de efeitos ambientais negativos.

O rebanho ovino do Piauí é o quarto maior do Brasil, estando em franca expansão, por pressão do mercado consumidor crescente, carecendo, portanto, de tecnologias. Acrescente-se que tanto a cultura do cajueiro, como a ovinocultura, são atividades definidas nos arranjos produtivos dos diferentes territórios do Estado do Piauí e a pesquisa precisa de respostas para definir modelos produtivos dentro do paradigma da sustentabilidade.

A sub-região Meio-Norte do Nordeste brasileiro apresenta altas temperaturas e incidência luminosa durante o ano inteiro, que são fatores positivos para incrementar a produção em SSP, uma vez que o sombreamento do solo, nessas condições, proporciona um microclima favorável para um bom desenvolvimento da vegetação e conforto para os animais.

Dessa forma, um grupo de pesquisadores da Embrapa Meio-Norte e Universidade Federal do Piauí (UFPI) estão desenvolvendo um projeto de pesquisa sobre o tema, com objetivos de gerar respostas e subsídios para tomada de decisão na adoção do sistema em que será avaliado um sistema silvipastoril formado por cajueiro e capim-massai (Panicum maximum cv. Massai) consorciado com estilosantes Campo-Grande (mistura de duas espécies de leguminosas, Stylosanthes capitata e S. macrocephala), para terminação de ovinos da raça Santa Inês, que apresenta boa adaptação ao ambiente e é comumente difundida na região.

O trabalho será realizado no campo experimental da Embrapa Meio-Norte, localizado em Teresina-PI, avaliando os aspectos relacionados à produção animal, ao solo, à forragem e a cultura do cajueiro-anão (Figura 1).

Apesar de o projeto contemplar o uso de tecnologias como manejo intensivo e consorciação de pastagem, espera-se que o maior impacto seja relativo ao uso do sistema silvipastoril.

A associação da ovinocultura e cajucultura dando-lhe enfoque silvipastoril constitui um passo adicional na direção não somente da sua própria viabilidade econômica, mas também da cajucultura, outra grande fonte de renda do meio rural nordestino, visto que a criação de ovinos destaca-se, dentre as atividades agropecuárias, por seu elevado e rápido retorno econômico. O projeto também se mostra adequado a organizações sociais que difundem o emprego da agroecologia junto a agricultores familiares. Também pode ser adotado por médios e grandes proprietários interessados em dar um melhor uso às suas propriedades. É interessante que o sistema seja implantado após aproximadamente três anos do plantio dos cajueiros, minimizando os riscos de danos às fruteiras jovens, tanto pela redução da competição entre plantas como pela presença de animais

A adoção dos sistemas silvipastoris também é favorecida pela crescente preocupação com as condições ambientais uma vez que possibilita a exploração de duas atividades econômicas na mesma área, o que reduz a necessidade de novos desmatamentos, além da adoção de melhores práticas de manejo na agricultura e pecuária.

Giovana Alcantara Maciel - giovana@cpamn.embrapa.br, Tânia Maria Leal - tleal@cpamn.embrapa.br, Maria do Perpétuo Socorro B. C. Nascimento - sbona@cpamn.embrapa.br são pesquisadores da Embrapa Meio-Norte

Fonte: Embrapa Meio-Norte

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