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Formigas cortadeiras em plantios florestais - como combatê-las?


Publicado em: 18/12/2009 às 12:50hs

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Todas as formigas são insetos de uma única família, Formicidae, pertencente à Ordem Hymenoptera , a mesma das vespas e das abelhas. Estima-se que existam 23 mil espécies de formigas no mundo, das quais apenas 1% pode ser considerado praga.

Um grande número das espécies de formigas desempenham um papel importante, seja como agentes da decomposição de substâncias orgânicas (plantas e animais), benéficos à reciclagem de nutrientes no solo, como agentes da aeração do solo ou como predadoras de pragas agrícolas. Algumas espécies, no entanto, constituem-se em sérias pragas no ecossistema agroflorestal, pastoril ou no ambiente urbano.

A maioria dos problemas causados por formigas no meio urbano é devido ao número de espécies exóticas introduzidas em áreas livres do controle natural, sendo inclusive altamente agressivas e competitivas com as espécies nativas, afugentando-as e dominando o ambiente.

As formigas vivem em colônias que possuem uma ou mais rainhas, as quais têm a função de produzir ovos, enquanto que as as operárias realizam as demais tarefas. O ciclo de vida é composto por quatro estágios distintos: ovo, larva, pupa e adulto, este último representado por machos, fêmeas e operárias. Os machos e fêmeas possuem asas e órgãos sexuais desenvolvidos; as operárias são sempre fêmeas sem asas e órgãos sexuais não desenvolvidos.

Providas de um aparelho bucal constituído de um par de mandíbulas relativamente grandes e fortes, as formigas são capazes fazer galerias no solo, na madeira, em tecidos vivos de plantas, aumentar os espaços vazios atrás de azulejos, embaixo de pisos e calçadas. Podem também danificar roupas, objetos de borracha ou remover a proteção de cabos telefônicos e fios elétricos, causando prejuízos em motores de portões eletrônicos, eletrodomésticos e computadores. Algumas espécies são especialmente incômodas por suas mordidas e picadas, cujo efeito no homem, pode chegar em casos mais graves a provocar choque anafilático em pessoas com problema alérgico.

As formigas cortadeiras, como qualquer outro organismo da natureza, interagem entre si e reagem às modificações do ambiente. Presentes neste planeta há 50 milhões de anos, estão entre os insetos mais evoluídos e, portanto, entre os mais adaptados às condições em que vivem, verificando-se que, a aparente preferência pelas espécies vegetais de interesse econômico, não passa, muitas vezes, pela falta de opção para elas. Isso ocorre quando cultivamos uma única espécie vegetal em um campo totalmente limpo de espécies vegetais nativas, às quais as formigas estavam habituadas. Sem contar que, num campo desprovido de vegetação, as formigas cortadeiras têm maior sucesso na fundação de novos ninhos, pois neste caso, ficam expostas menos tempo aos seus inimigos naturais, que, pelo mesmo motivo, ocorrem em menor quantidade.

As espécies do gênero Atta (saúvas) e Acromyrmex (quenquéns), se não controladas, acarretam os maiores danos às culturas anuais, em florestas e pastagem. Atualmente as formigas cortadeiras, são consideradas as principais pragas das florestas plantadas de pinus e eucaliptos. Estas formigas utilizam partes vegetais para cultivar o fungo do qual se alimentam, "devorando" expressiva quantidade de massa foliar", causando enormes prejuízos pois elas atacam todas as espécies de plantas cultivadas, podendo causar desfolha total e até a morte das plantas. O maior problema ocorre em plantios em áreas perturbadas pela ação do homem para a instalação de lavouras e florestas para fins comerciais, devido à maior facilidade para a instalação de novo ninhos de formigas cortadeiras. Neste caso, em plantios de eucaliptos, por exemplo, o ataque de formigas pode causar a mortalidade de até 70% das plantas nos primeiros trinta dias de idade.

Os métodos tradicionais adotados no controle destes insetos já têm mais de um século. Não obstante, as formigas cortadeiras continuam desafiando todos os esforços envidados para minimizar seu dano. Tem-se desenvolvido produtos químicos cada vez mais especializados e equipamentos cada vez mais sofisticados, mas a situação permanece quase que inalterada. E o homem insiste neste tipo de enfoque, sem considerar outras opções, como preventivas e até mesmo curativas no combate às formigas cortadeiras.

O controle químico, que está baseado na utilização de isca formicida granulada, pode ser empregado com mais eficácia se for levado em conta alguns aspectos da biologia e da ecologia da formigas. Sabe-se, por exemplo, que em período de pré-revoada, as formigas cortadeiras têm pouca ou quase nenhuma atividade externa, e que por isso, não carregam as iscas. O oferecimento de isca nesse período é inócuo. As quenquéns, que são cortadeiras cujos ninhos são localizados na superfície do solo ou ligeiramente abaixo, com reduzido número de câmaras e às vezes com uma única câmara como a espécie Acromyrmex crassispinus, são muito mais fáceis de controlar do que as saúvas, que fazem seus ninhos no subsolo, a uma profundidade de até 8 metros, podendo ter até sete mil câmaras. Isto exige que para o controle de saúvas seja necessário 8 a 10 gramas de isca formicida por metro quadrado de forrageiras, enquanto que para as quenquéns, utiliza-se apenas 5 gramas para eliminá-las. Em pequenas áreas, pode-se eliminar a maioria dos ninhos novos, principalmente os de saúvas, que são identificados pelos montículos de terra solta, cuja única rainha localiza-se a cerca de 20 cm de profundidade.

Apesar de o controle ser uma das atividades mais importantes, o monitoramento constante destaca-se num programa de manejo integrado de pragas. Deve-se inspecionar a área em busca de ninhos e/ou plantas cortadas, impedindo perdas de grande monta e possibilitando o combate às formigas cortadeiras no momento oportuno, o que redundará num menor custo financeiro e menor distúrbio ambiental.

Wilson Reis Filho - pesquisador da Embrapa Florestas

Fonte: Embrapa Florestas

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