País precisa, no entanto, promover uma série de mudanças estruturais para manter-se na rota do crescimento, adverte jornalista. Conjuntura político-econômica do Brasil foi debatida durante o 10º Seminário Internacional de Suinocultura Agroceres PIC

O Brasil vive um momento ímpar de sua história. A adoção e manutenção de políticas econômicas sólidas nos últimos 20 anos permitiram ao País ingressar num novo período de desenvolvimento. Nesse período, o índice de pobreza recuou, a renda do brasileiro cresceu e, pela primeira vez, a classe média se tornou majoritária no Brasil. O fortalecimento das instituições nacionais e a adoção de políticas econômicas consistentes abriram novas perspectivas ao País. Hoje o mundo nos vê com outros olhos. A influência do Brasil no cenário econômico global aumentou. A imagem do País como potência emergente é crescente.

Mas é preciso avançar. O modelo usado para alcançar todas essas conquistas já dá sinais de esgotamento. O Brasil precisa promover uma série de novas mudanças estruturais capazes de alçar a um novo ciclo de desenvolvimento sustentável.

Essa foi, em síntese, a conclusão que se pôde tirar da apresentação do jornalista Carlos Alberto Sardenberg no 10º Seminário Internacional de Suinocultura Agroceres PIC, realizado em agosto no Hotel Sofitel Jequitimar, no Guarujá (SP). Comentarista econômico da Rede Globo e âncora do programa CBN Brasil, Sardenberg fez uma análise sobre a conjuntura político-econômica do Brasil e do mundo. “O Brasil passou por grandes transformações nas duas últimas décadas que o lançaram a um novo patamar de desenvolvimento. Nesse período o País conseguiu avanços extraordinários na área econômica e social, mas é preciso dar um novo passo”, afirma. “O Brasil precisa promover uma série de reformas para que continuemos crescendo”, pondera.

Obstáculos históricos

Segundo Sardenberg, os avanços registrados nos últimos anos acabaram por criar novos obstáculos ao crescimento do País. E entraves históricos, como a educação deficiente, burocracia excessiva, caos tributário e infraestrutura precária, impedem novos progressos. “Existem muitos problemas que o Brasil ainda não resolveu e que comprometem nosso crescimento”, afirma.

O jornalista cita a média de crescimento dos países latino americanos em 2011 para exemplificar o que diz. De acordo com Sardenberg, a América Latina cresceu 3,7% em 2011, com uma inflação de 3%. Já a taxa de expansão da economia brasileira foi de 2% no mesmo período, com uma inflação de 5%. “Como se vê mesmo com a crise internacional, outros países emergentes estão se saindo melhor, com mais crescimento econômico e menos inflação”, afirma.

Segundo Sardenberg, o Brasil precisa promover reformas para transpor problemas antigos. O jornalista chama a atenção para a necessidade de investimentos na educação. Segundo ele, além de direito básico e condição essencial para o exercício da cidadania, a educação de qualidade é fundamental para a capacitação da mão-de-obra do País.

Sardenberg também cita o “custo Brasil” como grande impeditivo ao desenvolvimento brasileiro. Segundo ele, excessiva burocracia, a pesada carga tributária - que hoje representa 38% do Produto Interno Bruto (PIB) – e os elevados encargos trabalhistas asfixiam o empresariado, inibem investimentos e tiram a competitividade do País. As deficiências de infraestrutura, por sua vez, oneram as empresas na medida em que encarecem a produção, elevam os custos logísticos e fazem o Brasil perder espaço no mercado internacional. “Tudo isso cria um ambiente de negócios muito hostil, que dificulta e encarece investimentos. E sem investimentos não se consegue produzir e gerar crescimento econômico”, afirma.

A saída é o investimento privado

Para o jornalista é preciso recuperar a capacidade de investimento do País, tanto de investimentos públicos quanto privados. Segundo Sardenberg, hoje no Brasil ambos estão travados. Os primeiros, por incapacidade e falta de recursos. “As despesas do governo vêm crescendo e o governo gasta mal. Tem dinheiro, mas não consegue investir”, afirma. E os investimentos privados não deslancham porque é muito difícil e caro investir no Brasil.

De acordo com Sardenberg, é necessário criar condições para estimular o investimento privado no País. Só assim, defende o jornalista, o Brasil poderá garantir um novo ciclo de expansão de sua economia. “O segredo é abrir espaço para o investimento privado. O melhor jeito que o governo tem para ajudar é não atrapalhando. É preciso estimular o investimento privado. E para isso tem que criar um ambiente de negócios favorável a esse tipo de investimento no País”, afirma. “Infelizmente, temos muito ainda a avançar nesse sentido” conclui Sardenberg.