Publicado em: 06/09/2023 às 18:00hs
Produtores rurais contam agora com um pacote completo de técnicas de manejo para usar a teca (Tectona grandis) como componente arbóreo em sistemas de integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF). Esse conhecimento se deve, especialmente, ao pioneirismo de produtores como Arno Schneider, de Santo Antônio do Leverger (MT), e Antônio Passos, de Alta Floresta (MT), que apostaram no uso dessa árvore em sistemas silvipastoris antes mesmo de haver informações técnicas ou pesquisas que atestassem sua viabilidade. Os erros e acertos cometidos por eles em cerca de 15 a 20 anos e as pesquisas desenvolvidas na última década possibilitaram a abertura de caminho para novos produtores que pensam em utilizar a espécie florestal em ILPF.
As experiências desses pioneiros, os resultados obtidos por eles e as pesquisas realizadas pela Embrapa Agrossilvipastoril (MT) estão reunidas em um capítulo dedicado ao uso da teca em sistemas ILPF que acaba de ser publicado no livro “Teca (Tectona grandis L. f.) no Brasil” (ver quadro abaixo). A publicação reúne, pela primeira vez, recomendações que vão desde o preparo da área para plantio das mudas até a condução das árvores com desbastes e desramas (podas), passando pela definição de espaçamentos e configuração dos renques de árvores.
O trabalho feito pelos pesquisadores da Embrapa Maurel Behling e Flávio Wruck mostra que, ao planejar seu sistema ILPF, o produtor deve definir se utilizará o componente arbóreo como adição ou substituição de renda.
“Em sistemas de ILPF, com foco na pecuária, a implantação de linhas simples facilita o manejo das árvores, exigindo menor demanda de mão de obra. Por outro lado, o sistema pode ser configurado para privilegiar a produção de teca com maior densidade de árvores por área. Nessas configurações, o carro-chefe do sistema passa a ser a teca e pode-se assumir que as perdas de produtividade nos componentes agrícola ou pecuário serão compensadas pelas receitas geradas com as árvores, ou seja, há uma substituição de receitas”, explica Behling.
O livro Teca (Tectona grandis L. f.) no Brasil foi publicado pela Embrapa Florestas e está disponível gratuitamente para download. A publicação reúne em seus 18 capítulos um grande acervo de informações sobre a cultura da teca no País. A obra teve como editores técnicos os pesquisadores Cristiane Reis, Edilson de Oliveira e Alisson Santos e contou com participação de 47 autores da Embrapa, de universidades, empresas privadas e outras instituições parceiras.
As pesquisas realizadas mostram que, considerando a meta de uso da madeira para serraria, atividade em que a teca tem o seu maior valor agregado, o plantio deve ser feito em linha simples com espaçamento de 4 metros entre as plantas. No caso de o plantio ser feito em linhas duplas ou triplas, deve ser adotado o arranjo quincôncio, ou seja, com as árvores de linhas vizinhas formando um triângulo. Isso evita a competição lateral. A distância entre os renques varia conforme o interesse do produtor e seu maquinário, sendo a recomendação mínima de 16 metros para que se mantenha a entrada de luz para a pastagem.
As árvores de teca em ILPF demonstraram maior crescimento do que árvores cultivadas em plantios homogêneos. Dados mensurados na Fazenda Gamada, em Nova Canaã do Norte (MT), mostraram que, aos 11 anos, as árvores no sistema ILPF estavam mais altas e com o diâmetro à altura do peito (DAP) 52% maior do que aquelas árvores do plantio homogêneo em talhão instalado ao lado.
Dependendo do número de plantas por hectare, será necessária a realização de cortes seletivos anteriores visando aumentar a entrada de luz no sistema e reduzir a competição entre as árvores. Nos anos iniciais, a madeira desse desbaste pode ser usada para energia ou fabricação de mourões, mas já aos 12 anos é possível retirar madeira destinada à serraria.
Para obtenção do melhor desempenho das árvores, os pesquisadores da Embrapa recomendam o uso de mudas clonais e não as produzidas por sementes. Mensurações feitas comparando os dois tipos de uso mostram que árvores clonadas tiveram crescimento 28% maior em DAP, 21% maior em altura total e 80% maior em volume total.
“A expectativa no sistema silvipastoril, com uso de clones de teca, é realizar o corte raso das árvores entre 18 a 20 anos”, afirma Behling. Com uso de mudas seminais, a expectativa sobe para 25 anos.
Outra vantagem do uso dos clones é que, ao crescerem mais rapidamente, essas mudas permitem antecipar a entrada do gado no sistema sem riscos de danificar ou quebrar as plantas. A recomendação é que animais mais jovens entrem nos pastos sombreados pela teca quando as árvores tiverem DAP entre 3 e 4 centímetros.
Para que se obtenha o melhor retorno financeiro com a teca em sistemas integrados, o produtor deve estar atento à condução do sistema. Para isso, pesquisadores recomendam a desrama das árvores a fim de retirar os galhos baixos e evitar a formação de nós na madeira.
Os cuidados com formigas, com mato competição e a atenção para evitar a deriva de herbicidas são outros pontos que devem ser observados, sobretudo nos anos iniciais. Além disso, a prevenção contra o risco de incêndios deve estar presente na agenda da fazenda.
A teca é uma madeira com grande valor agregado e com um mercado amplo para uso na produção de móveis, embarcações e pisos. A demanda mundial por essa madeira é maior do que a oferta, tanto por meio de plantios comerciais quanto pela extração em áreas onde a espécie é endêmica como na Ásia.
O alto valor agregado viabiliza custos com frete, o que permite o cultivo em regiões com logística mais complicada. Porém, o longo tempo para retorno do investimento acaba desestimulando o cultivo. Dessa forma, os sistemas de integração são uma alternativa para amortizar os custos, uma vez que é possível obter receitas com a lavoura e a pecuária enquanto as árvores crescem.
No aspecto econômico, estudos realizados pela Embrapa Agrossilvipastoril em Unidades de Referência Tecnológica (URT) mostraram que aquelas com uso da teca foram as mais rentáveis, com lucratividade chegando a R$ 3,70 para cada R$ 1 investido e valor presente líquido anual de R$ 2.175,71 por hectare/ano.
“A teca é uma das espécies exóticas de maior potencial econômico para uso em sistemas integrados no Brasil. As receitas adicionais geradas, a valorização da propriedade, a biodiversidade criada e inúmeras outras vantagens não deixam dúvidas quanto aos benefícios desse sistema aos proprietários e ao meio ambiente”, afirma Maurel Behling.
Porém, o pesquisador alerta sobre os cuidados necessários para obter resultados positivos com o cultivo da teca. “Apesar do mito de que ‘a teca enriquece seu plantador’, deve-se ter em mente que o mercado para a madeira da teca existe, é atrativo e seguro. Porém, o lucro só será obtido com a utilização de tecnologias apropriadas, cuidados ímpares e muita qualidade em todas as operações florestais e de logística na cadeia de suprimento. Não basta apenas plantar as árvores de teca de qualquer jeito no sistema integrado e ficar esperando que elas cresçam para que os lucros brotem para o produtor. É necessário investir em tecnologia, insumos adequados, operações corretas e eficientes, constante monitoramento fitossanitário e garantir produtividade e qualidade da madeira ao longo de todo o ciclo de rotação”, ressalta o pesquisador.
A estimativa é que em Mato Grosso a área de sistemas silvipastoris com teca seja de 4 mil hectares. No Brasil a área plantada com essa espécie, incluindo os cultivos homogêneos, é de 94 mil hectares.
Produtores interessados no plantio de teca em ILPF contam com o apoio de um software gratuito, desenvolvido pela Embrapa Florestas, que visa dar suporte às atividades de manejo, análise econômica e planejamento do componente florestal.
O SisILPF Teca funciona como um simulador em que o usuário pode testar, para cada condição de clima e solo, todas as opções de manejo de teca na ILPF. Segundo o pesquisador da Embrapa Edilson Batista de Oliveira, “o produtor pode fazer prognoses de produções de madeira no presente e em condições futuras, efetuar análises econômicas e decidir sobre a melhor alternativa para conduzir sua plantação”. Essas simulações possibilitam a quantificação da madeira produzida por tipo de utilização industrial, desde o seu uso para energia, até toras de diversas dimensões para serraria na produção de blocos e tábuas, e exportação. “Com isso,o produtor poderá manejar suas florestas para a produção de madeira direcionada ao uso mais rentável”, afirma o pesquisador.
Outro aspecto importante é que o software calcula o carbono capturado pelas árvores, em equivalentes de gás carbônico e metano, e emite gráficos com estimativas do número de animais que podem ter a emissão de metano compensada pelas árvores do ILPF. “Esses sistemas estão em ascensão e entram na contabilidade do País na mitigação dos impactos da mudança do clima. O SisILPF_Teca é uma ferramenta importante de apoio ao planejamento e manejo dos plantios”, finaliza Oliveira.
Fonte: Embrapa Agrossilvipastoril
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