Publicado em: 15/01/2013 às 17:50hs
Decreto publicado pelo governador Tarso Genro, em novembro do ano passado, criou um Grupo de Trabalho (GT) para estudar a ampliação do consumo em estabelecimentos governamentais. Além de promover uma típica cadeia produtiva gaúcha, a medida é uma resposta à crise pela qual o setor passou no último ano, devido, principalmente, ao embargo da Rússia às exportações. Uma nova reunião deve ser realizada amanhã, com representantes de entidades onde o sistema já foi implantado, como em Minas Gerais e Espírito Santo.
Em um primeiro momento, o GT está trabalhando com a Superintendência dos Serviços Penitenciários (Susepe). Apenas no sistema prisional, estabelecendo-se o consumo semanal da carne suína para aproximadamente 30 mil pessoas, a expectativa é de um acréscimo de 12 toneladas por mês nas compras do Estado. O diálogo também iniciou com a Secretaria de Educação, o que deve aumentar ainda mais os números. A população escolar a ser atingida é estimada em dois milhões de estudantes, ou 200 mil refeições por dia. O sistema de saúde e os quartéis também serão incluídos no plano.
A suinocultura está presente em cerca de 300 munícipios gaúchos. Os 10 mil produtores, grande parte deles ligada a agricultura familiar, são responsáveis por 34% da carne suína produzida no Brasil. A atividade, entretanto, passou por dificuldades em 2012. O embargo russo durou 17 meses e foi encerrado apenas em novembro passado. Soma-se a isso a estiagem, que quebrou as safras de milho e soja no Estado - principais insumos que compõem a ração - em 50% e 48%, respectivamente, o que elevou os custos de produção. Além disso, os prejuízos nas lavouras norte-americanas, por situação climática adversa, elevou a cotação dessas commodities no mercado internacional. "Mesmo neste cenário, o setor teve de continuar produzindo, pois toda a estrutura de criação estava na ativa. Ninguém esperava que se reunissem tantos fatores adversos em um mesmo ano como ocorreu em 2012", lamenta o diretor-executivo do Sindicato das Indústrias de Produtos Suínos do Estado do Rio Grande do Sul (Sips), Rogério Kerber.
O resultado da análise será entregue até o dia 15 de fevereiro para apreciação do governador. No estudo, devem constar a definição das cotas per capita e tipos de corte e preparo mais adequados a cada instituição, as formas de viabilização da compra e aproximação da cadeia produtiva e o mercado institucional, apresentação de aspectos nutricionais da carne e a análise da legislação pertinente ao assunto. "Vamos identificar quais são as políticas públicas e os mecanismos e que podem ser acionados para viabilizar esse plano, sem que sejam necessários quaisquer tipos de acréscimos nos gastos governamentais", resume o secretário-adjunto de Agricultura, Cláudio Fioreze.
Nesse sentido, o secretário lembra que o projeto em desenvolvimento pelo governo do Estado faz parte de uma estratégia brasileira para o setor, o Plano Nacional de Desenvolvimento da Suinocultura (PNDS). Entre suas metas, está aumentar o consumo per capita e ampliar os mercados. Para isso, estuda-se utilizar o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE).
O Sips e a nutricionista Helisa Canfield, uma das responsáveis pelo estudo, destacam que o fato de a carne suína produzir muitos derivados facilita sua inserção em diversas refeições. "Com a carne de gado, por exemplo, a opção de compra é a fresca in natura. Mas os derivados têm mais valor agregado. A suína pode ser comercializada fresca, em embutidos, patês etc. Ou seja, uma série de apresentações, mas que em última análise são o mesmo produto, a mesma proteína. Com a diversificação da forma de apresentação, conseguimos inserir mais vezes, um maior número de refeições", explica Helisa.
O diretor-executivo do Sips diz que as cooperativas estão preparadas para atender à demanda de carne, inclusive dos seus derivados. "Elas estão dispostas e têm condições de atender a logística de venda e distribuição que ficarem definidas", afirma Kerber. Para este ano, a aposta é de um ano positivo para o setor devido à perspectiva de recuperação da atividade econômica e a expectativa de uma safra de grãos recorde.
Estratégia pode ser estendida a outras cadeias produtivas
A medida de aumentar o consumo de carne suína em refeições institucionais é um projeto-piloto. A intenção da Secretaria de Agricultura do Rio Grande do Sul é estender a medida para outras cadeias produtivas tipicamente gaúchas. Após avaliação do projeto, iniciativas parecidas devem ser desenvolvidas, ainda ao longo deste ano, em culturas de feijão e arroz e na produção de leite.
A ideia surgiu após uma reunião de representantes do governo do Estado e o ministro do Desenvolvimento Agrário, Pepe Vargas. "Temos uma preocupação especial com o arroz e o feijão, dois alimentos muito típicos, mas que vêm sofrendo com a concorrência de produtos industrializados oriundos de outros estados", afirma o secretário-adjunto da Agricultura, Cláudio Fioreze. Os projetos devem se valer das bases do Programa Fornecer RS, criado pela Secretaria da Administração e Recursos Humanos para oportunizar o abastecimento do governo estadual aos micro e pequenos empreendedores. O objetivo é consolidar os chamados circuitos-curtos da economia, aproximando compradores e vendedores locais e, dessa forma, diminuir custos de logística e ampliar o crescimento regional.
Fioreze cita a vitivinicultura como exemplo. O modelo desta cadeia produtiva combina a organização de um fundo público e um instituto privado. No caso da erva-mate, a Assembleia Legislativa aprovou a criação de um fundo com orçamento de R$ 2,6 milhões por ano, enquanto o setor trabalha na implantação Instituto Brasileiro da Erva-Mate (Ibramate). Por meio de um convênio, o segundo deverá receber recursos do primeiro, para ser a entidade gestora das políticas públicas da área.
No mesmo caminho, o Rio Grande do Sul reativou o Fundo de Desenvolvimento da Ovinocultura - R$ 3,5 milhões por ano - e dobrou a receita do Fundo de Desenvolvimento da Vitivinicultura, de R$ 5 milhões para 10 milhões. Em 2013, o secretário aposta na criação do mesmo sistema para o leite e a carne.
Fonte: Jornal do Comércio
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