Publicado em: 13/01/2012 às 15:20hs
O mercado externo teve sua participação reduzida, mas propiciou preços altos às exportações. O mercado interno foi o dinamizador da cadeia produtiva. Caracterizou-se por preços estáveis, mas em patamares elevados, contribuindo para a rentabilidade do setor agroindustrial. As principais mudanças que afetarão o ano de 2012 são a abertura do mercado chinês e redução das compras russas, a consolidação da fusão entre as duas líderes de mercado, a regulamentação dos contratos de integração e a continuidade do programa de etanol dos EUA e seus efeitos no preço do milho.
Queda nas exportações e predomínio do mercado interno
O alojamento de matrizes do rebanho industrial vem crescendo de forma modesta desde 2010, mantendo-se praticamente estável, mas a oferta de animais para abate cresceu acima do alojamento de matrizes devido ao aumento na sua produtividade, de quase 0,5 terminado/matriz/ano. Os estados que mais expandiram os alojamentos foram PR, SC, GO e MG (Abipecs e Embrapa - Levantamento Sistemático da Produção e Abate de Suínos - LSPS).
Os abates totais continuaram a trajetória de crescimento verificada no ano anterior, sendo que os destaques foram os estados do PR, MS, MG e MT, bem como os abates sob inspeção estadual e municipal, o que indica o bom momento econômico para os frigoríficos de pequeno e médio porte. A oferta de carne cresceu acima dos abates, em função do maior peso médio das carcaças, devendo atingir a marca de 3,3 milhões de toneladas. No sentido contrário, as exportações mantém a trajetória de redução, fechando 2011 com 514 mil toneladas. Apesar da queda nos volumes exportados, houve um aumento de 6,5% no valor das exportações em US$, devido ao aumento no preço médio obtido pelo exportador brasileiro, que chegou a 2,7 mil US$/t.
O desempenho das exportações brasileiras contrasta com o comércio internacional de carne suína, que apresentou um aumento de 8,8% nos volumes comercializados, puxado pelos EUA e pela UE. Assim, o país vem reduzindo sua participação no mercado internacional, de 12,5% em 2009, para 10,2% em 2010 e uma estimativa de 8,9% em 2011. A taxa de câmbio do primeiro semestre contribui significativamente para a perda de competitividade da carne suína brasileira, apesar da forte apreciação da moeda norte-americana a partir de Ago/11. Além do câmbio, foi decisivo para este fraco desempenho o embargo da Rússia, parcialmente compensado pelo aumento das compras de Hong Kong e Ucrânia.
Assim como em 2010, foi o mercado interno que absorveu o crescimento da oferta e a redução das exportações, com um incremento na disponibilidade interna de mais de 287 mil toneladas, ou 1,36 kg/habitante.
Relação de preços com as demais carnes
Ao contrário de 2010, os preços no varejo das carnes bovina e suína não pressionaram a inflação ao consumidor em 2011. Além disso, ficaram um pouco mais atraentes em relação às carnes de frango e de pescados, cujos preços cresceram acima da inflação, assim como os preços dos produtos processados de carne suína. É interessante ressaltar que o comportamento no mercado internacional foi diferente, com o preço da carne suína puxando as cotações das carnes. Isso indica que o aumento da disponibilidade interna e a carne bovina determinaram o nível de preço da carne suína.
A variação dos preços ao longo da cadeia produtiva
O aumento do preço do milho foi o fator que mais influenciou de forma negativa a rentabilidade da cadeia produtiva da carne suína em 2011. A forte alta acompanha a tendência mundial e vem ocorrendo desde o segundo semestre de 2010, sendo que o ano de 2011 caracterizou-se por preços mais estáveis, mas em patamares elevados. Por sua vez, o preço do farelo de soja iniciou o ano em queda, compensando parte do aumento no custo da ração.
O mercado de suínos apresentou uma combinação de fatores aparentemente contraditória em 2011, com estabilidade no alojamento de matrizes (oferta contida), aumento dos abates (demanda aquecida), alta no milho (maiores custos de produção) e redução de preços pagos. De fato, a recuperação nos preços esperada pelo produtor não se concretizou, com uma variação acumulada no primeiro semestre de -31,2%, a qual foi parcialmente recuperada a partir de Jul/2011.
Mas alguns fatores podem explicar isso. Em primeiro lugar, o mercado spot representa apenas 33% do alojamento de matrizes (13% das matrizes na região Sul, 31% no Centro-Oeste e 70% no Sudeste, segundo Abipecs e Embrapa - LSPS) e tem diminuído sua participação, tendo sido fortemente influenciado por fatores externos como o embrago Russo e pelos comportamentos especulativos que se seguiram a ele. Em segundo lugar, o preço da carne suína no varejo seguiu o da carne bovina, havendo um repasse aos elos à montante da cadeia produtiva. Este ajuste deve ter sido mais acentuado nos pequenos frigoríficos e naqueles de atuação regional (estratégia baseada em carne in natura e suprimento via mercado spot) do que nas agroindústrias líderes (estratégia baseada em produtos processados e exportações com suprimento via integração).
Assim, a recomposição da margem bruta (diferença entre o preço recebido pelo suíno vivo e o custo com milho e farelo de soja) na comercialização do suíno vivo verificada em 2010 não se repetiu em 2011, frustrando expectativas do setor. A crescente volatilidade dos preços e da renda agrícola é outra questão que tem afetado os produtores.
Esta análise retrata a situação dos suinocultores independentes ou aqueles integrados que detêm o controle da própria ração. Os custos e rendimentos dos suinocultores ligados à agroindústria com contratos de parceria ou comodato não têm tanta variabilidade porque não envolvem o preço dos grãos, mas apenas mão de obra, energia e manutenção e depreciação das instalações.
As agroindústrias integradoras (que compram milho e farelo de soja ao invés de suíno vivo no mercado spot) também sofreram pressão de custos, mas obtiveram melhores preços nas exportações e no mercado interno de produtos processados. O preço da carne suína no mercado internacional cresceu acima das demais carnes (igualando os picos do período pré-crise) e acima do preço do milho, o que permitiu compensar a elevação no custo da ração e a valorização cambial do primeiro semestre. O comportamento de preços no varejo entre os produtos processados, com aumentos acima da inflação, sugere que as agroindústrias conseguiram repassar o aumento de custos para os preços no atacado.
No mercado interno de carne suína in natura, o comportamento dos preços no atacado foi o contrário das exportações, com queda desde o início do ano, acompanhando o mercado de carne bovina. As agroindústrias integradoras tiveram sua margem reduzida, mas aquelas agroindústrias que adquirem os animais no mercado spot, cuja variação ocorreu no sentido contrário do milho, conseguiram reduzir os impactos na sua margem bruta. As pequenas e médias agroindústrias que atuam em mercados locais ou de nicho vivem um momento de expansão, sendo que a queda do preço do suíno vivo no mercado spot afetou de forma positiva a rentabilidade destas empresas.
Perspectivas futuras
O mercado interno deve se manter aquecido em 2012, puxado pelo baixo desemprego, valorização dos salários (o reajuste previsto do salário mínimo para 2012 será de 14,3%), programas sociais e redução dos juros. Espera-se maior crescimento para o próximo ano, superando a desaceleração econômica do final de 2011. Entretanto, continua alta a incerteza acerca dos rumos da economia mundial e, sobretudo, seus impactos nas exportações de carnes e no mercado interno através da redução do crédito e da confiança do consumidor.
No mercado internacional, há a possibilidade de uma redução na oferta da UE e pequeno aumento na dos EUA, com estabilidade nos volumes exportados. Do lado da demanda, destaca-se a previsão de redução significativa nas importações russas e aumento nas da China e de Hong Kong. A China em especial deve se consolidar como um mercado importante para o Brasil, não apenas em função das negociações governamentais amplamente divulgadas na mídia, mas também em função da forte restrição de oferta devido a problemas sanitários. Isso já está mudando a composição das exportações brasileiras, com a substituição da Rússia como principal comprador. Há ainda a possibilidade de abertura das exportações para Japão e da Coréia do Sul, mas persistem dúvidas se o Brasil conseguirá ser aceito nestes mercados mais exigentes. Os preços internacionais das carnes devem se manter em níveis elevados devido aos baixos estoques e a problemas sanitários em vários países. Além disso, o câmbio se manterá volátil, mas em patamares superiores a 2011. O efeito dessas variáveis será o aumento das exportações, sempre considerando um cenário de controle da febre aftosa no Brasil.
Caso o aumento nas exportações seja maior do que 50 mil ton. deve ocorrer uma redução na disponibilidade interna per capita (considerando uma previsão de aumento populacional de 0,8% do IBGE e na oferta de carne suína de 2,1%, pela Abipecs e Embrapa - LSPS) e consequente pressão para elevar o preço da carne suína, sobretudo em um ambiente econômico menos restritivo do que 2011 e com oferta apertada da carne bovina. A estabilidade dos preços da carne suína em 2011 foi determinante para absorver a maior oferta e a tornou menos cara em relação à carne de frango. Entretanto, permanece alta a incerteza quanto à disponibilidade interna de carne de frango e, consequentemente, seus preços. O preço dos processados acompanha a inflação ao consumidor e representam em grande medida uma aspiração de consumo das classes C e D, puxando a demanda por esses produtos.
Nos custos de produção, além da persistente tendência de aumento na mão de obra, permanece a incerteza global quanto ao milho. O cenário internacional aponta para uma redução no preço das commodities. Aliado a uma safra recorde no Brasil, espera-se que haja uma acomodação do preço do milho em 2012, mas ainda em patamares elevados em relação à série histórica. Alguns analistas apontam que o fator decisivo para reduzir o valor e a volatilidade do preço do milho é o futuro do programa de etanol nos EUA, sendo o principal fator a ser monitorado.
Esses são os fatores que devem determinar a rentabilidade da suinocultura no mercado spot e das agroindústrias integradoras no ano de 2012. A rentabilidade da grande maioria dos suinocultores integrados por meio de contratos de parceria ou comodato obedece outra lógica, havendo carência de dados e informações que possam retratar a sua realidade. Nos últimos anos tem ganho força o debate acerca da relação entre agroindústrias e produtores integrados, com a proposição de dois projetos de Lei para regulamentar os contratos. A sua aprovação prevista para 2012 pode influenciar de forma positiva a rentabilidade dos integrados, os projetos de expansão das agroindústrias e, consequentemente, a oferta de carne suína, com implicações para o mercado spot.
Fonte: Embrapa Suínos e Aves
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